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*Recortes da Cultura Amazônida* *Basílio Tenório* *BOI BUMBÁ versus BUMBA MEU BOI*

Minha filha Aline e eu vestidos em vermelho e branco, na Alvorada do Boi bumbá Garantido.

Fonte: Basílio Tenório.

A cultura do Auto do Boi, trazida para o Amazonas pela migração nordestina chegou em Parintins entre o segundo e o terceiro quartel do século XIX. Em primeiro momento na denominação Bumba meu boi e dentre os que o manejavam consta o Mestre Marçal, fundador do Boi TURUNA no Bairro da Francesa, […] e Manuel da Silva Leocádio, fundador do Boi FITA VERDE. Em segundo momento o Boi bumbá trazido pelo Professor Rufino Souza, ao final do século XIX. As referidas denominações, embora procedentes do Auto do Boi conforme o “Theatro Jesuítico” na Amazônia Colonial, mas em razão do dinamismo próprio das culturas, uma absorveu a outra. Esse dinamismo se iniciou com a fundação do Boi bumbá Garantido em 1917 e acrescente-se no estilo e nas poesias de Lindolfo Monteverde e dos seus pares pioneiros.

No ano seguinte, 1918, pugnando pela prevalência do Bumba meu boi em Parintins, Manuel da Silva Leocádio fundou o BOI FITA VERDE, que se apresentava em sua propriedade denominada “CANTA GALO”, na região de Aninga, em cuja poética lançou um desafio a um Boi bumbá que chamou de “Boi falado”, para uma apresentação mutua ao redor da fogueira, no viés desta toada:

Boi Falado
Manoel da Silva Leocádio

Fita Verde aqui chegou
Para encontrar com o “boi falado”
No meio não há licença
Se quiser, só pelo lado.

Fonte: Fortunato Reis (2002).
Quase um século depois, a partir de 1988 eu pesquisava e não encontrava esse “tal boi falado” na História do fenômeno boi bumbá em Parintins. Um tanto frustrado falei a mim mesmo: “Esse Boi Falado” nunca existiu” e assim tendo dito desisti da sua procura. Mas em 2001, pesquisando os anos 1950 na história do fenômeno boi bumbá em Parintins, momentos em que eu vasculhava a poesia de Valdenir Teixeira, o lendário “Vavazinho” do Boi bumbá Garantido encontrei a seguinte toada:

Meu quarteirão
Vavazinho

Não passa contrário,
O meu quarteirão tá ocupado
Quem manda neste pedaço
É o Garantido “falado”
Olha, contrário, se houver alteração
Eu vou reunir minha turma
Eu te quebro de pau
E te deixo no chão.

Fonte: Dona Raimunda Barbosa (2001).

Ouvindo essa maravilha antológica, ao verificar que na terceira e na quarta linha do poema entoado o poeta escreveu: “Quem manada neste pedaço / É o Garantido, falado” este “meu coração irresponsável proclamou emocionado: “Encontramos o Boi falado!”. Sim e acredito que os amigos leitores do FOCO AMAZÔNICO já sabem quem é “Boi falado” citado na poesia de Manuel da Silva Leocádio.

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