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Em Fonte Boa, Primeira Conferência Indígena do Médio e Alto Solimões une povos em defesa de territórios e cultura

Nos dias 21, 22 e 23 de agosto, o município de Fonte Boa, localizado a 678 km de Manaus, se tornou a capital da resistência indígena na Amazônia. Foi realizada, pela primeira vez na história, a Conferência dos Povos Indígenas do Médio e Alto Solimões, um encontro que marcou a união de lideranças de povos Tikuna, Katawixy, Kokama, Kambeba, Miranha, Madjaculina, Kanamari.

O evento, organizado pelas associações indígenas locais com apoio da FEPIAM e Prefeitura municipal de Fonte Boa, teve um objetivo claro: criar uma frente única para enfrentar os desafios comuns que ameaçam seus territórios, suas culturas e seu modo de vida tradicional.

Uma Convocação Histórica das Lideranças

A ideia de uma conferência regional era um antigo desejo das lideranças. A vastidão da região e as dificuldades de locomoção sempre foram um obstáculo. Ver centenas de indígenas de diferentes etnias reunidos, portanto, foi um momento carregado de significado.

“Há muito tempo queríamos nos encontrar assim, todos juntos. Sozinhos, cada povo luta, mas unidos somos muito mais fortes. Esta conferência é um marco para nossa história”, declarou o cacique China Kokama, o idealizador do evento.

Os Temas Centrais: Do Território à Saúde

Os três dias de evento foram intensos, com debates centrados em quatro eixos principais:

1. Proteção Territorial e Combate a Ilícitos: A luta contra o garimpo ilegal, a extração de madeira, saúde, educação e a pesca predatória foi o tema que mais mobilizou os participantes. Relatos de invasões e da omissão do poder público ecoaram no plenário.

2. Saúde Diferenciada: A precariedade dos serviços de saúde foi denunciada. Lideranças exigiram da SESAI (Secretaria de Saúde Indígena), do DSEI (Distrito sanitario especial indígena) e da FUNAI (Fundação Nacional do Indio) um atendimento que respeite a medicina tradicional e que chegue de forma eficaz às aldeias mais remotas.

3. Educação Escolar Indígena: A demanda por escolas que valorizem as línguas maternas e os saberes ancestrais, com professores indígenas e currículos específicos, foi outra prioridade definida na conferência.

4. Protagonismo das Mulheres e Jovens: O evento destacou a força das mulheres e a energia da juventude indígena, que buscam seu espaço nas decisões e são essenciais para a continuidade das tradições.

A Carta de Fonte Boa: O Resultado de uma Luta Coletiva

O principal resultado do encontro foi a elaboração da “Carta de Fonte Boa”, um documento robusto que detalha todas as reivindicações e deliberações acordadas coletivamente. A carta será encaminhada para órgãos Estaduais, Municipais e federais, como a FUNAI e o Ministério Público Federal, e servirá como um instrumento de negociação política.

“Essa carta é a nossa voz coletiva. Ela mostra que temos propostas e que sabemos o que é melhor para os nossos povos e para a floresta que protegemos”, explicou Gracimá KATAWIXY, coordenadora de mulheres da COPIJU ( Conselho dos Povos Indígenas de Jutai ).

Cultura e União: A Força que Vem das Tradições

Além dos debates, a conferência foi um momento de forte celebração cultural. Nos intervalos das discussões, os participantes compartilharam cantos, danças, pinturas corporais e alimentos tradicionais, reforçando os laços que os unem para além das fronteiras étnicas.

O encerramento, na tarde do dia 23, foi marcado por uma cerimônia emocionante, onde todos os participantes se comprometeram a dar continuidade ao trabalho iniciado, marcando a data para um novo encontro em dezembro de 2025.

A Primeira Conferência dos Povos Indígenas do Médio e Alto Solimões encerrou-se, mas seu eco permanece. Ela deixa um legado de organização e um recado claro: os povos originários da região estão mais unidos do que nunca para defender seus direitos e o futuro da Amazônia.

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