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Física, Química e Matemática. Há quem considere as disciplinas um bicho de sete cabeças, e foi pensando nisso que o professor Roberth José Pereira Fernandes, que domina as três áreas, teve uma ideia. Por que não deixar um pouco os números e partir para a prática? Foi assim que surgiu o projeto ‘Perfume’. Nele, o professor e mais três alunos se dedicaram por seis meses na produção de perfumes a partir da extração de aromas de plantas, como capim-limão. Todo o trabalho foi realizado na Escola Estadual de Tempo Integral Profª Lecita Fonseca Ramos, localizado no bairro Monte das Oliveiras, Zona Norte de Manaus. A turma teve ainda apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam), por meio do Programa Ciência na Escola (PCE).
Roberth conta que a ideia do projeto partiu de uma parceria que já tinha com o professor de biologia da escola, Gilberto Júnior, que por sua vez, cultiva uma horta na escola. “Nas idas e vindas da horta, os alunos  e eu notamos que existiam plantas medicinais com cheiros agráveis. A partir disso, surgiu a ideia da pesquisa e em seguida a produção de perfumes com as plantas da escola”, diz o professor pós-graduando em Física e Química.
Perfumes e águas de colônia são produzidas com essência de plantas da escola
Algumas das essências que tomaram conta do laboratório de química foram a de hortelã, capim-limão, capim-cidreira e manjericão. Para serem retiradas das plantas, os cientistas juniores fizeram um destilador artesanal, que nada mais é do que um separador de misturas químicas. A ferramenta foi montada com uma panela de pressão, garrafa PET de 2L, cobra e torneiras. Depois de fabricados os perfumes e águas de colônia, os resultados do projeto foram compartilhados com o restante da escola em apresentações nas salas de aula e auditório.
Três fases
Para realização do trabalho, o professor Roberth dividiu as atividades em três partes, entre pesquisa e execução do aprendizado. “De início, fizemos a pesquisa bibliográfica, na qual juntamos diversos artigos científicos sobre o tema. Depois, catalogamos as plantas medicinais da escola, e esse processo também gerou outra pesquisa sobre o que colhemos”.
Catalogação das plantas medicinais da escola para extração de essências
A segunda fase, segundo o professor, foi novamente de pesquisa. Dessa vez, o objeto de estudo foi a construção do destilador artesanal utilizado. “O processo para a extração de essências escolhida foi a destilação por arraste, mas, existem outros métodos”, ressalta o químico. 
Algumas essências extraídas (Mangericão, Capim Limão,Hortelã
Já a terceira e última fase, focou-se na produção do produto. “Nesse fim, juntamos o conhecimento acumulado e realizamos o processo todo do início. Desde a seleção das plantas à montagem do destilador. Fez parte dessa fase também a  extração das essências e a produção final dos perfumes”, conta o professor.
Produto final
Cientistas juniores
Em meio à alegria da recordação, o professor Roberth lembra como conheceu os cientistas juniores, que, por destaque na escola, participaram do projeto.  “Uma das alunas, a Vitória, já tinha participado de outro trabalho comigo, o que acabou trazendo-a para o segundo, dos perfumes. Ela é uma aluna muito aplicada e assídua. Já o Paulo era meu aluno de terceiro ano, finalista, e também mostrou interesse sobre a ideia do projeto. Da mesma forma, era um era um estudante assíduo, e inclusive e se formou esse ano de 2019. Por último, teve a Eliandra. Ela foi indicada por professores por ser muito questionadora e da área de humanas, o que daria uma troca boa no laboratório”., conta o professor, e acrescenta. “Aceitei o desafio de unir os três com a ciência”. 
Vitória Lima, de 18 anos, chegou a viajar para Taiwan em 2019, para participar da Olimpíada Internacional de Matemática. Para ela, o projeto foi essencial para uma mudança de pensamento. “Eu aprendi a gostar de Química. Até então, eu achava uma matéria ‘ruim’, mas com o projeto, passei a ter um novo olhar. Minhas notas, inclusive, ficaram melhores na disciplina porque eu fui aprendendo melhor”, diz.
Em 2019, Vitória participou da Olimpíada Internacional de Matemática, em Taiwan
A aluna destaca aprendizados que vai levar para a vida, como “construir uma máquina térmica, cultivar ervas da Horta e fazer meu próprio perfume, tanto para o meu uso como para vender também”, segundo ela.
Para Paulo Castro, 19, a prática leva a um novo olhar. “Por meio do projeto, eu aprendi que as disciplinas Química e física possuem um significado muito grande na minha vida e na vida de outras pessoas, apesar de elas não perceberem. Abriu meus olhos e eu percebi que por meio da prática experimental tudo se torna mais fácil. Os assuntos que são ministrados na sala de aula por meio da teoria acabam por parecer chatos, o aluno não consegue entender. Aí entra a prática e tudo se torna mais dinâmico”, afirma o jovem. 
Construção do destilador utilizando materiais de baixo custo
E apesar das disciplinas trabalhadas serem, à primeira vista, apenas de exatas, há quem diga conseguir enxergar outras camadas. É o que explica Eliandra Jacob, 15, que também participou do projeto. “Aprendemos sobre a história da perfumaria por meio de pesquisa. É tudo relacionado com o comportamento humano e até relação de poder. Por exemplo, no Egito antigo, o faraó utilizava perfume e aquilo representava a posição de superioridade dele. Hoje a gente percebe que o cheiro do perfume tem certa relação com a personalidade da pessoa, que se você gosta de amadeirado ou adocicado, isso diz algo sobre você”, comenta ela.
Incentivo à pesquisa
O projeto ‘Perfume’, é um dos 580 executados em 253 escolas da capital e do interior do Amazonas, em 2019. Todos com o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam). No total, foram 2,2 mil pessoas beneficiadas com o ‘Ciência na escola’, entre professores e estudantes, de 25 municípios do Estado.
Pela Fapeam, os três alunos participantes do projeto, além de aperfeiçoarem seus conhecimentos nas exatas, receberam, cada um,  uma bolsa de R$ 150, por mês. Segundo eles, o valor foi essencial para que pudessem ajudar os pais no sustento da casa. “Uma parte do valor eu dei aos meus pais, para que pudessem quitar algumas contas”, diz Eliandra. 
Trabalho e diversão durante o processo de Física e Química
Segundo Paulo, o incentivo aos pesquisadores é muito importante para que a ciência avance. “Eu vejo a ciência no Brasil e no mundo como uma arma poderosa de descobertas e criações. O grau de importância dela é muito alto, porque se você observar, ela está presente em tudo. Hoje eu acho que a ciência até tem apoio, mas não o suficiente. Deveria haver mais investimento de outros lugares”, defende o jovem.
Ele diz ainda como projetos como o que participou podem ser a porta de entrada de um futuro pesquisador para a ciência. “Ajuda muito no aprendizado do aluno e muda a sua visão das coisas. Além disso, quem sabe uma pessoa que participa de um desses projetos não vai, um dia, se tornar cientista profissional, não é? Por isso eu vejo a ciência na escola como uma necessidade”, finaliza o estudante.
Edital aberto
Para 2020, a Fapeam está com inscrições abertas para novos projetos de cunho científico. Os projetos devem ser apresentados ate o dia 2 de abril em Formulário online específico e enviadas por meio eletrônico, via Sistema de Gestão da Informação da Fapeam – SigFapeam, disponível no endereço eletrônico: http://www.fapeam.am.gov.br.
O programa conta com investimento da ordem R$ 3.366.000,00 (três milhões, trezentos e sessenta e seis mil reais) oriundos do orçamento da Fapeam, para apoiar até 600 projetos de escolas estaduais e municipais de Manaus e de escolas estaduais do interior do Amazonas. Para professores, a bolsa é de R$560, e alunos, R$ 150Acesse aqui o edital completo.