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A Secretaria de Saúde do Estado do Amazonas confirmou, nesta quarta-feira (15), mais 70 casos do novo coronavírus, totalizando 1.554. No entanto, os números podem ser bem maiores dada a incapacidade do Brasil em realizar mais testes. Uma nova pesquisa feita por cientistas e estudantes da Universidade de São Paulo (USP) e Universidade de Brasília (UNB) aponta que, até esta quarta (15), havia 39.329 casos de Covid-19 no Amazonas.

A pesquisa calculou a quantidade de infectados por coronavírus no Amazonas até 11 de abril. Enquanto dados do governo do Estado apontaram, naquela data,1.050 casos, o estudo diz que o número real seria de 39.329 infectados no Amazonas.
Os chamados ‘subnotificados’, ou seja, pessoas com coronavírus que não entraram para a estatística, variaram até 3.745,62% a mais do número real. Ou seja, para cada um caso confirmado no Amazonas, havia pelo menos 37 não contabilizados.
Além da projeção para o maior Estado da Região Norte, a pesquisa também indica que havia, até 11 de abril, na verdade, 313 mil casos de coronavírus no País, diferente dos 23 mil anunciados pelo Ministério da Saúde. O estudo foi publicado no Portal Covid-19 Brasil, que reúne informações sobre a doença, assim como pesquisas da área. 
Em entrevista para o jornal O Globo, o cientista Rodrigo Gaete, que participou da pesquisa, diz acreditar que Manaus está no epicentro da pandemia no Brasil, porque se baseou nos números errados de infectados.
“Quando se pensava que tinha cerca de mil pessoas com o coronavírus [no Amazonas], na verdade, já existiam [quase] 40 mil. Por isso, testes são essenciais, e o Brasil precisa desesperadamente fazer isolamento social se quiser evitar o colapso da rede de saúde e o caos”, disse ele, em entrevista.
Como o estudo foi feito
Para chegar ao número, pesquisadores usaram como base os números de mortes por coronavírus no Brasil, por considerarem que “este número é o mais consolidado no nosso País, apesar de haver também relatos de subnotificação de óbitos”, diz o texto que apresenta o estudo no site.
Além disso, os cientistas tomaram como base a taxa de letalidade na Coréia do Sul, um dos poucos países com números considerados mais precisos sobre a Covid-19, porque testou em massa boa parte da sua população.
Na prática, o número de mortes por coronavírus na Coréia foi utilizado para o Brasil, mas ajustado para a faixa etária dos brasileiros. O estudo levou em conta também a data em que a pessoa teria ficado doente, e não a que morreu, já que alguns resultados de testes para Covid-19 no Brasil só saem depois que a pessoa já teve o óbito declarado.
Com a soma de 1.124 mortos por coronavírus em 11 de abril, o valor estimado da população infectada dez dias antes (1 de abril) seria de 104.368 brasileiros. Na mesma data, o Ministério da Saúde havia divulgado um número nacional muito mais baixo: 6.836.
“A pesquisa se mostra confiável porque usa uma metodologia baseada na realidade dos números. E é notável que a curva de infectados está em escalada diariamente. Muita gente está com Covid-19 e não consta nos dados oficiais”, comenta o pesquisador não envolvido no estudo, Paulo Bonates. Ele é mestrando em Biologia da Interação Patógeno Hospedeiro na Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e estuda a interação de fungos, bactérias e vírus com os seres vivos.  
Relato
Uma técnica em enfermagem de 47 anos, que preferiu não se identificar, conta que perdeu a mãe para Covid-19, mas que outros membros da família se infectaram e não estão na estatística. 
“Minha mãe apresentou os sintomas no dia 29 de março e faleceu no dia 6 de abril. Foram nove dias de muita luta para conseguirmos leito para ela, que não resistiu. Até mesmo o teste para saber se ela tinha morrido de coronavírus só saiu três dias depois da morte, em 9 de abril”, conta ela. 
A técnica diz que o filho dela de 19 anos e dois sobrinhos também apresentaram sintomas da doença, mas como foram mais brandos, optaram por se tratar em casa. “Como a indicação é que somente os casos graves se dirigiram a um hospital, eu e minhas irmãs decidimos deixar nossos filhos em casa, mas eles têm todos os sintomas considerados leves da doença, inclusive a perda de olfato e paladar”, afirma a mulher.
Explosão de casos
Em boletim divulgado nesta quarta (15), a Fundação de Vigilância em Saúde (FVS-AM) apontou que, até a data, havia 700 testes de Covid-19 aguardando resultado. O número de confirmados somava 1.554 em todo o Estado, as mortes eram 106 e recuperados, 194.
Mesmo divulgando diariamente os números oficiais, a própria diretora-presidente da FVS-AM, Rosemary Pinto, já afirmou mais de uma vez que os casos de coronavírus no Amazonas são maiores, dada a falta de testes para todos. 
Em live realizada no Facebook no dia 6 de abril, a profissional explicou que “o importante agora é tratar os casos graves”, e “como não há teste suficientes para todos, estamos testando apenas profissionais da saúde e os casos com sintomas graves para Covid-19”. Na mesma fala, Rosemary pediu que pessoas com sintomas leves ficassem em casa e evitassem lotar os hospitais.
Segundo ela, o Amazonas prevê um aumento explosivo de casos na segunda semana de abril e mês de maio. “Nós podemos reduzir esses números, evitar a agravação e mortes. Mas isso só vai acontecer se nós ficarmos em casa”, afirmou Rosemary.
Sem respostas
A reportagem entrou em contato com a Fundação de Vigilância em Saúde do Amazonas por meio da assessoria para que emitissem nota acerca do teor do estudo e desta reportagem, mas até o fechamento desta matéria não obteve resposta. 
Foto: Lucas Silva
https://emtempo.com.br/amazonas/199254/amazonas-tem-mais-de-39-mil-casos-de-covid-19-aponta-estudo