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Caía uma garoa fina quando o vendedor ambulante Ricardo Corrêa, 55, chegou ao cruzamento da Avenida Indianópolis com a Alameda dos Quinimuras, no Planalto Paulista, zona sul da capital paulista. Ele tira seu sustento vendendo espetinhos, sanduíches e bebidas para as profissionais do sexo que trabalham em um dos mais conhecidos pontos de prostituição de São Paulo.

A avenida carrega a pecha de ser um prostíbulo a céu aberto, com mulheres cis e trans usando roupas curtas ou apenas um tapa-sexo. Corrêa divide com elas o espaço de trabalho, contou à reportagem de TAB.

A Indianópolis é um campo de prostituição, mas tudo que tenho na minha casa tirei daqui

Há 15 anos, Corrêa deixa diariamente sua residência, a cerca de um quilômetro da avenida, e percorre com seu carrinho várias vezes o trecho de 700 metros da Indianópolis entre a Avenida Afonso Mariano Fagundes e Campina da Taborda, além da Alameda Irerê, uma paralela à via principal.

Ricardo Correia, 55, vende churrasquinhos na av. Indianópolis, zona sul de São Paulo - Marcelo Justo/UOL - Marcelo Justo/UOL
Imagem: Marcelo Justo/UOL

Nos últimos meses, o número de clientes está menor, segundo ele, devido à pandemia de covid-19. A queda, porém, não é tão brusca como seria de se supor.

“Está 80% do normal. Era para estar cheio de garotas, mas não tenho que reclamar da pandemia”, conta ele, que só se afastou das ruas durante 50 dias, entre março e junho de 2020, por precaução.

Durante esse período, diz, “toda minha reserva esgotou”. E ele teve de voltar ao trabalho. Para complementar renda, recebeu três parcelas de R$ 600 e duas de R$ 300 do auxílio emergencial. Atualmente, ele afirma que a volta do dinheiro disponibilizado pelo governo federal viria em boa hora.

Enquanto a reportagem esteve no local, nem Corrêa nem as garotas de programa usaram máscara. O vendedor ambulante diz que reserva o acessório para lugares fechados ou com grande quantidade de pessoas. “Tenho medo é dos políticos. Essa doença sempre existiu, agora só mudou o nome”, frisou.

O homem conta que sempre trabalhou nos bastidores da gastronomia, seja como garçom, chapeiro ou churrasqueiro, até que ficou desempregado, em 2005. Com apenas R$ 100 no bolso, comprou quatro caixas de chocolate para vender nas ruas de Moema e no entorno do aeroporto de Congonhas. Na estreia, vendeu todas. No dia seguinte, comprou outras oito e, a partir daí, passou a duplicar o estoque a cada jornada.

Em paralelo aos chocolates, comprou uma bicicleta cargueira para vender salgados e bebidas na Avenida Indianópolis. Nos primeiros sete anos, oferecia apenas coxinhas, água, refrigerante e café com leite. “Sempre quis vender espetinho, mas um colega já vendia e não quis atravessar.”

Quando o outro ambulante deixou o local, ele assumiu. Além dos espetinhos, que podem ser apreciados com uma variedade de molhos, ele oferece salada de fruta, misto quente e cachorro-quente.

Ele começa às 22h, mas seu dia começa mais cedo: por volta das 13h, vai ao mercado atrás de frutas frescas para a salada. Às 21h30, já está pronto para colocar o carrinho na rua. A cada dois dias, congela 200 espetinhos de carne e frango.

Durante o período em que a reportagem esteve no local, Corrêa não parou um minuto. A todo momento era chamado pelas garotas. Algumas delas, mais íntimas, possuem o número de seu celular e o acionam por mensagem.

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