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DJ Ivis despencou e a pisadinha seguiu firme. O músico que agrediu a mulher e foi preso poderia ter abalado também a audiência do forró de teclado. Afinal, ele tinha diversos hits e era muito ativo neste mercado. Mas o novo forró está tão aquecido por novos sucessos que nem sentiu.

De acordo com informações do G1, mesmo com diminuição de mais de 80% da presença das músicas de Ivis nas paradas do Spotify, a audiência total de todos os artistas de forró aumentou. A diferença de 2 milhões de plays por dia nos ex-hits de Ivis foi compensada com sobra por novos sucessos de João Gomes e Mari Fernandez.

Ivis tinha um papel bem ativo para a pisadinha, mas o impacto de sua ausência para o futuro do estilo é limitado por vários motivos:

  • A raiz popular do piseiro é firme e muito anterior à atuação de Ivis. Vem do início dos anos 2000, com Nelson Nascimento e outros pioneiros;
  • A pisadinha é oposto da cultura complexa feita só por alguns “entendidos” e donos das ferramentas. Seu princípio é justamente ser acessível. Um teclado e um computador bastam para liberar a criatividade, o que inúmeros músicos fazem – e o povo ama;
  • As melodias e os temas se repetem. Quando algo dá certo, muitos artistas criam a partir dali. Basta ouvir “Senta danada”, nova música de Zé Felipe e Barões da Pisadinha. É boa, colante, e lembra várias faixas de Ivis (que lembra várias faixas de outros autores…)

No primeiro sábado de maio de 2021, o forró teve cerca de 13 milhões de audições, das quais 3 milhões foram de músicas com Ivis. Isso significa que mais de 20% da audiência era de faixas com ele.

DJ Ivis se firmou como compositor, produtor e cantor. Ele tinha sete músicas entre as mais tocadas do Brasil até a semana passada. Por isso, havia um temor de que sua queda interrompesse a subida nacional do estilo, que vem desde 2020.

Com razão, músicos e empresas correram para repudiar a agressão, romper contratos, cancelar e apagar lançamentos. Plataformas baniram o DJ das playlists e o público fez campanha para ocultá-lo. Dos sete ex-hits, só um (“Volta bebê, volta neném”) segue nas paradas – e já está quase saindo.

Mas o fato de a audiência ter até crescido mostra a incrível força da pisadinha, estilo que mais cria novos ídolos e sucessos no Brasil hoje. É que, ao mesmo tempo em que Ivis sumia, estava explodindo a audiência de João Gomes e Mari Fernandes, dois novinhos que não param de tocar.

As duas músicas mais ouvidas no Spotify no Brasil são de João (“Meu pedaço de pecado” e “Aquelas coisas”) e a terceira, de Mari (“Não, não vou”). Eles também vão bem em outros sites como YouTube e Sua Música – o que indica sucesso na maior plataforma do forró: o “paredão” de som na rua mesmo.

Isso sem contar, claro, que os Barões da Pisadinha continuam sendo, de longe, os artistas mais ouvidos no Brasil hoje. Junto a ídolos como Wesley Safadão e Raí Saia Rodada, eles ajudaram a fazer o forró disparar em popularidade no Brasil.

Um caso à parte pode ser o sucesso de Zé Vaqueiro. Ivis era seu principal produtor e ele mesmo contou como tinha uma conexão musical com o DJ. Mas Zé também já trabalhou com craques como Rod Bala e é provável que já haja uma fila de bons produtores na sua porta.

É certo que, se as músicas de Ivis não tivessem caído, a audiência do estilo seria ainda maior agora. De qualquer forma, é bom saber que uma cena de músicos tão jovens e criativos segue com um presente brilhante e um futuro promissor. A conclusão é um alívio: ninguém precisa dos plays de DJ Ivis.