TCE
Mudança promovida
pelo governo para pagar o auxílio emergencial, com criação da conta
poupança social digital, dificulta acesso ao dinheiro e possibilita mais
fraudes
 Desde que o governo modificou a forma de
pagamento do auxílio emergencial, com a criação da conta poupança social
digital, várias pessoas que receberam a primeira parcela não estão conseguindo
acessar o dinheiro da segunda. Na maioria, são microempreendedores individuais
(MEI), cadastrados no Cadastro Único (CadÚnico) e autônomos que indicaram uma
conta já existente para receber o auxílio emergencial. Uma olhada nos sites de
reclamação e também no do próprio aplicativo Caixa Tem, necessário para
transferir o dinheiro ou pagar boletos, mostra as falhas da nova modalidade de
pagamento, que está obrigando as pessoas a irem às agências.
 Os exemplos são variados. Desde quem tentou se
cadastrar no aplicativo e descobriu que alguém já tinha feito isso em seu
lugar, até quem pagou boletos e não teve as contas saldadas. O primeiro caso é
o mais comum. Muitas pessoas que receberam a primeira parcela em uma conta já
existente e estavam aguardando a transferência automática da poupança digital
para a conta corrente de outro banco — que os canais digitais da Caixa
indicavam que ocorreria a partir do dia 10 — até hoje não viram a cor do
dinheiro. 
 É o caso de Ana Oliveira, 48 anos, informal da
área de eventos que há três meses não tem renda. “A primeira parcela entrou na
minha conta direitinho. Mas inventaram essa poupança digital e eu estava
esperando a transferência automática prometida a partir do dia 10. Como não
ocorreu, fui ver o que tinha acontecido”, afirmou. Ela contou que teve que
baixar o aplicativo Caixa Tem e, ao se cadastrar, descobriu que seu CPF já
estava cadastrado com outro email. “Não tenho como recuperar a senha, pois é
enviada para um email que desconheço”, disse. 
 Ao procurar os canais digitais da Caixa, a
trabalhadora informal, além de esperar horas e ser redirecionada várias vezes,
não conseguiu ajuda. “Sou grupo de risco, tenho problemas respiratórios, e
terei de ir à agência, pois ligando para uma delas, me informaram que pode ter
ocorrido fraude”, acrescentou. 
 O mesmo ocorreu com Rafaela Melo, que se
cadastrou no dia 13 de junho no aplicativo e não conseguir recuperar a senha,
pois o email também era diferente do cadastrado. “Tento entrar para trocar o
email em outra função para descobrir o que aconteceu e não aparece nada. Diz
que está temporariamente indisponível”, escreveu ao avaliar o aplicativo da
Caixa com uma estrela.
 Outra reclamante, Milly Torres, conta que está
programado para cair na sua conta apenas R$ 2. Verificou que ao tentar acessar
o Caixa Tem surge a mensagem de que já tem cadastro. “Quando tento recuperar a
senha, uma mensagem de recuperação é enviada para um email cadastrado que não
conheço. É como se alguém tivesse utilizado meu benefício e apenas o que
sobrou, R$ 2, vai cair na minha conta. Ou seja, minha conta digital no Caixa
Tem foi clonada”, informou. 
 Pessoas que pagaram boletos com o aplicativo
não tiveram as contas saldadas, como mostra reclamação feita dia 25 de maio.
“Efetuei um pagamento de um boleto de 600,00 reais no app caixa tem (do auxílio
emergencial), porém esse boleto até o presente momento ainda consta em aberto e
o dinheiro foi debitado no mesmo dia do app caixa tem”, lamentou o
beneficiário.
 Dezenas de
reclamações estão disponíveis nos canais da própria Caixa e também em sites
como o Reclame Aqui ou de avaliação do aplicativo. As queixas apontam que a
modalidade escolhida pelo governo para o pagamento da segunda parcela está deixando
os brasileiros desamparados, sem ter para quem reclamar, pois os canais da
Caixa estão sempre congestionados. As pessoas estão tendo que ir às agências.
Sendo que, muitos, ao fazerem isso, descobrem que alguém já sacou seu
benefício. 

 Outro lado

 Procurada
pelo Correio e informada dos casos relatados, a Caixa mandou a seguinte nota:
“A Caixa informa que a área de segurança do banco realiza o monitoramento e
mapeamento de ocorrências em colaboração com os órgãos de segurança pública
competentes com o objetivo de coibir ocorrências de fraude. Contestações podem
ser formalizadas pelo beneficiário eventualmente prejudicado em qualquer
agência da Caixa. Após análise, nos casos em que for comprovado saque
fraudulento, o beneficiário será ressarcido.”
O banco
também informou que, caso o usuário esqueça ou não reconheça a senha do Caixa
Tem, é possível pelo aplicativo remover o cadastro e refazer o cadastro gerando
uma nova senha. “Para isso, basta clicar na opção ‘problemas com cadastro’ na
tela do login do aplicativo”, disse, em nota. A operação, contudo, foi
realizada sem sucesso por alguns dos reclamantes. O banco ainda informou os
vários canais digitais, citados pelos beneficiários como indisponíveis e sem
eficácia na resolução dos problemas.
“Para auxiliar
no atendimento aos beneficiários, a Caixa disponibiliza os seguintes canais:
Central 111, que já registrou até o momento mais de 255,23 milhões de
atendimentos sobre o auxílio emergencial; o aplicativo Caixa Auxílio
Emergencial; o site auxilio.caixa.gov.br. No site, é possível ainda encontrar
tutoriais que esclarecem as principais dúvidas dos beneficiários. O site
auxilio.caixa.gov.br superou a marca de 1,23 bilhões de visitas.” 
Foto: Divulgação