InícioAMAZONASCaixa esterilizadora desenvolvida em Manaus permite reutilização de máscaras hospitalares

Caixa esterilizadora desenvolvida em Manaus permite reutilização de máscaras hospitalares

Inovação criada pela Fiocruz busca investimentos através da linha de enfrentamento à Covid-19 do Programa Prioritário de Bioeconomia
As máscaras descartáveis e protetores faciais se tornaram itens de extrema necessidade em todo o mundo para conter a propagação do novo coronavírus.  Mas, o que hoje salva vidas pode amanhã representar um novo problema oriundo da pandemia. Foi pensando em reduzir o descarte massivo desse material, um perigo à saúde e ao meio ambiente, que pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), em Manaus, desenvolveram a tecnologia de uma caixa esterilizadora que permite a reutilização dos Equipamentos de Proteção Individual (EPI).
O projeto é uma das inovações aprovadas pela Superintendência da Zona Franca de Manaus (Suframa) para captação de investimento empresarial através da linha de enfrentamento à Covid-19 do Programa Prioritário de Bioeconomia (PPBio-Procovid). No total, o mecanismo criado para atender à demanda por soluções aos desafios da pandemia teve sete projetos recebidos e cinco aprovados para buscar aporte financeiro junto às empresas de informática do Polo Industrial de Manaus (PIM), que pela Lei da Informática são obrigadas a investir 5% de seu faturamento bruto em atividades de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D).
Em fase de patenteamento, a inovação está baseada na incidência da luz ultravioleta (UV) que destrói micróbios, com diferenciais de design e engenharia capazes de tornar o processo mais eficiente e simples, além de economicamente viável. 
Segundo o pesquisador Pritesh Lalwani, coordenador do projeto, a motivação para a criação da caixa veio da crescente dificuldade em adquirir EPIs no início da pandemia, devido à grande demanda e a alta dos preços no mercado. Unindo a isso, a preocupação com a destinação dos equipamentos, que vêm sendo produzidos, vendidos e distribuídos em larga escala no cenário atual.
“Se você pensar mundialmente em quanto lixo biológico vai ser gerado e não vai ser destinado corretamente. Essa foi uma preocupação nossa, que nos levou a questionar, será que não tem outra opção? Assim, partiu o princípio do projeto”, conta.
No mundo, são descartadas mensalmente cerca de 129 bilhões de máscaras e 65 bilhões de luvas hospitalares, segundo estimativa da Sociedade Americana de Química. Além dos riscos de contaminação pelo vírus da Covid-19, que se mantém vivo por até três dias em plásticos, o material pode causar impactos ambientais quando destinado a aterros ou à incineração, com possível emissão de poluentes no ar. O custo de descarte seguro é alto e muitas vezes o resíduo chega nos rios ou no mar, atingindo a biodiversidade.
Além da redução do impacto ambiental e riscos à saúde humana, a solução desenvolvida em Manaus contribui para diminuição de despesas com a aquisição de novos equipamentos no mercado. A caixa tem capacidade de desinfectar 25 unidades de máscaras hospitalares (N-95) em menos de 10 minutos e estima-se que o custo unitário da desinfeção seja de 20 a 30 vezes mais baixo em relação ao valor de compra do item.
Inovação
Segundo Lalwani, o principal diferencial da caixa é que ela resolve um problema tecnológico que possibilita a esterilização dos EPIs com mais facilidade e menos custo. “A máscara N-95 e os protetores faciais têm uma curvatura que, ao colocar no UV, só vai permitir esterilizar um lado. Para esterilizar o outro lado, poderia ser colocado um vidro e lâmpadas em baixo, porém o vidro bloqueia a incidência da luz”, explica o pesquisador.
A solução surgiu com o apoio do físico Eduardo Cotta, da Universidade Federal do Amazonas (UFAM), que identificou o melhor material para servir de suporte e garantir a esterilização dos dois lados ao mesmo tempo. Ele também fez as medições de luz em laboratório, para comprovar os resultados contra o vírus, bactérias e fungos.
Introdução no mercado
Indiano com doutorado na Alemanha, o pesquisador Pritesh Lalwani investiu recursos próprios para iniciar os experimentos no projeto, posteriormente aprovado pela Suframa para captação de investimento empresarial através do PPBio-Procovid, para aperfeiçoamento e automação do protótipo antes de finalmente chegar ao mercado.
Nesta etapa, entrou em cena a parceria com o Instituto Certi Amazônia, dedicado a trabalhar o design, eletrônica e controles de segurança do novo produto.
A estratégia para avançar no mercado é transferir a tecnologia para empresas parceiras locais, com a possibilidade de uso da caixa para desinfeção de EPIs hospitalares em geral, como luvas, sapatos e óculos, além das máscaras. Dependendo dos resultados e da aceitação, a tecnologia pode ampliar o raio para descontaminação também de outros objetos de largo uso cotidiano.
A expectativa, segundo Lalwani, é que o produto esteja no mercado até setembro. Porém, é necessário investimento. “Nós não temos condição de fazer essa produção, pois somos pesquisadores. Queremos dar design, conhecimento e todas as medidas que temos para fazer essa transferência de tecnologia para alguém que tem know-how para produzir em larga escala”, afirma.
Sobre o PPBio-Procovid
Coordenado pelo Instituto de Conservação e Desenvolvimento Sustentável da Amazônia (Idesam), o Programa Prioritário de Bioeconomia é um dos quatro programas prioritários criados para o aporte de parte dos investimentos em P&D oriundos da Lei de Informática (Lei nº 13.674, de 11 de junho de 2018) na área de atuação da Suframa.
No atual cenário, o foco do programa está voltado para o apoio a projetos inovadores específicos no campo da saúde, desenvolvidos por Institutos de Ciência e Tecnologia (ICTs), startups, incubadoras e empreendedores. Para isso, foi criada uma linha especial, o PPBio-Procovid.
A expectativa é captar um total de R$ 24,7 milhões até o fim do ano para aplicação específica nos projetos de enfrentamento ao novo coronavírus.
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