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Iuda e José Libório: moradores da Praia de São Miguel dos Milagres, destino turístico em Alagoas — Foto: Mariza Tavares

Iuda e Libório mantêm casinha de taipa em região rodeada de empreendimentos de luxo

Rio de Janeiro

 

 

 

No início do mês, passei uma semana em Alagoas e de lá trago uma história de protagonismo e resistência. Em São Miguel dos Milagres, pequeno município que integra a rota ecológica do estado e vem atraindo turistas de todos os cantos do país, Iuda e José Libório são apresentados como um dos casais mais antigos da região. Ele tem 75 anos e, ela, 66 e, provavelmente, não são os mais velhos da cidade, mas é o bastante para terem se transformado nos idosos “instagramáveis” do pedaço, com direito a muitas fotos e quase 5.400 seguidores.

Os bugueiros que realizam passeios pelos pontos turísticos incluem uma parada no Sítio do Coconha, onde os visitantes são recebidos pela dupla com um abraço e histórias sobre sua vida. O terreno fica em frente à Praia de São Miguel dos Milagres, área valorizada que empurrou o casal para o centro de uma disputa judicial. Libório, que foi pescador a vida toda, ergueu sua modestíssima casa no terreno há 40 anos, mas a ocupação foi questionada na justiça – a especulação imobiliária e a privatização das praias feita por pousadas de luxo são o pano de fundo da briga – e o caso se arrastou por quatro anos. No começo de 2022, eles obtiveram a primeira vitória pela posse da terra porque, como explica Iuda, “nós tínhamos a verdade e o juiz viu isso. Doze pessoas foram testemunhar que sempre vivemos aqui!”.

 

 

Hoje não moram mais na minúscula casinha de taipa, construída com barro e madeira. Mudaram-se para o centro da cidade, mas “dão expediente” no local, que se tornou ponto turístico. A parceria com os bugueiros começou há cerca de oito anos, lembra Aristeu Cavalcante Marques, um dos motoristas: “os poderosos queriam tirar os dois de lá e foi dona Iuda que mobilizou a gente. Passamos a levar os turistas no Coconha e aquela palhocinha virou um meio de sustento”.

 

Vendem de tudo: doces, bebidas, artesanato, entre outras quinquilharias, e complementam a renda da aposentadoria dele e da pensão de Iuda, que tem quatro filhos de uma primeira união, cinco netos e uma bisneta. Estão juntos há 35 anos e se casaram há 11. Ela diz que prefere ficar ali, com a vista para o mar e a brisa constante, e se orgulha dos seguidores. Mais reservado, Libório só se preocupa quando, como conta, os visitantes “querem misturar turismo e política” na rápida passagem por seu sítio. A única explicação possível: a pequena bandeira do Brasil que adorna um dos balcões improvisados onde ficam os itens à venda, na entrada da casa.

 

Fonte: https://g1.globo.com/bemestar/blog/longevidade-modo-de-usar/post/2022/05/15/casal-de-idosos-se-torna-simbolo-de-resistencia-em-paraiso-turistico.ghtml