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Foto: Jefferson Rudy

Com as declarações dadas ontem por Fabio Wajngarten, ex-secretário especial de Comunicação Social da Presidência, à CPI da Covid de que o presidente Jair Bolsonaro e outros membros do governo ignoraram por dois meses a oferta estabelecida pela Pfizer de vacinas contra o novo coronavírus.

Os senadores do colegiado tentarão reforçar a tese de que houve omissão do Palácio do Planalto na aquisição dos imunizantes com o depoimento, hoje, do ex-presidente da farmacêutica no Brasil Carlos Murillo.

Um dos pontos principais que os parlamentares querem abordar na sessão é a forma como o Executivo se comportou em relação à vacina desenvolvida pela empresa norte-americana. Como dito por Wajngarten, além de Bolsonaro, a Pfizer enviou, em 12 de setembro de 2020, cartas propondo um acordo com o governo brasileiro. Os destinatários foram o vice-presidente Hamilton Mourão, os ministros da Economia, Paulo Guedes, e da Defesa, Walter Braga Netto (que chefiava a Casa Civil), e o ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello, além do embaixador dos Estados Unidos no Brasil, Todd Chapman. O primeiro contato do Executivo com o documento, entretanto, só aconteceu em 9 de novembro, por meio de Wajngarten.

“As doses iniciais oferecidas ao Brasil seriam mais uma conquista de marketing, branding e growth para a produtora de vacina, como já vem acontecendo em outros países. Já para o Brasil, causaria frustração em todos os brasileiros, pois teríamos, com poucas doses, que escolher, num país continental com mais de 212 milhões de habitantes, quem seriam os eleitos a receberem”, afirmou o Planalto, à época. Só em março deste ano, o Executivo concluiu um contrato de compra de vacinas com a Pfizer.

Carta

A carta elaborada pela Pfizer foi apresentada ontem à CPI por Wajngarten. O ex-secretário detalhou que o documento ofertava 500 mil doses de vacinas ao Brasil. Ele disse que acessou a proposta após ter sido informado pelo proprietário de uma emissora de TV que o governo não tinha respondido à farmacêutica.

Wajngarten ainda garantiu que, assim que encontrou a carta, telefonou para Murillo no mesmo dia e mostrou a proposta da Pfizer a Bolsonaro e a Guedes. O presidente respondeu que “aguardaria a aprovação da Anvisa e que compraria toda e qualquer vacina, uma vez aprovada pela Anvisa”, segundo o ex-secretário.

Autor do requerimento de convocação de Murillo, o presidente da CPI, Omar Aziz (PSD-AM), criticou o fato de “metade da cúpula” do governo ter recebido a correspondência da farmacêutica e nenhuma providência ter sido tomada ainda em setembro de 2020. Ele citou, por exemplo, que o governo só veio a publicar, em janeiro deste ano, uma medida provisória destinada a facilitar a compra de vacinas contra a covid-19, inclusive a da Pfizer.

Por: Jorge Vasconcellos e Augusto Fernandes