TCE
 Um clipe de
sete minutos de falas do presidente Jair Bolsonaro na reunião ministerial, sem
explicação qualquer do que seja, editado sabe-se lá por quem, foi ao ar duas
vezes na noite deste domingo (24) no SBT. Da forma como foi apresentado antes e
após o “Programa Silvio Santos”, pareceu uma coisa totalmente sem
sentido para o espectador. Foi mais uma decisão, entre outras recentes do
empresário Silvio Santos, difícil de entender.
 Aparentemente, o clipe foi a maneira do dono
do SBT dizer que viu com bons olhos
o estilo presidencial, incluindo os palavrões, na reunião ocorrida em abril,
cuja divulgação foi determinada pelo STF. “Ele fala o que as pessoas
querem ouvir”, teria dito o dono do SBT, segundo o jornal digital
Poder360.
 O deputado Fabio Faria (PSD-RN), casado com
Patricia Abravanel, filha de Silvio, disse que “o governo comemorou o
vídeo”. Segundo ele, não haveria motivos para reclamar do SBT, que exibiu
uma reportagem na sexta-feira apresentando um bom resumo dos momentos mais críticos
da reunião ministerial.
A exibição
do clipe não conseguiu desfazer a má impressão causada pelo cancelamento da
edição de sábado do “SBT Brasil”. Conversei com muita gente que
trabalha no SBT nos últimos dois dias e todos os relatos coincidem numa mesma
direção: houve motivação política por trás da não exibição do telejornal. Sobre
este assunto, gravei o vídeo acima (a transcrição está abaixo):
 A proximidade de Silvio Santos com o governo
Bolsonaro tem deixado o departamento de jornalismo do SBT em uma situação muito
complicada.
 Neste sábado, Silvio Santos cancelou a exibição do SBT Brasil, um fato inédito
nos 15 anos do telejornal. Há muitas versões sobre o que levou o dono da
emissora a tomar uma medida tão drástica, mas todos os relatos que eu ouvi
indicam que houve motivação política no episódio.
 Na sexta-feira, o SBT Brasil fez uma
reportagem mostrando um resumo do vídeo da reunião ministerial do governo
Bolsonaro, divulgado após autorização do STF.
A reportagem mostra vários trechos em que o presidente fala, em meio a
palavrões, da sua intenção em interferir em órgãos de segurança e exibe também
as falas mais polêmicas e grosseiras de alguns ministros.
 No sábado, seria exibida uma reportagem com a
repercussão desta reunião, mas ela foi tirada da pauta do telejornal. No final
da tarde, Silvio determinou o cancelamento do SBT Brasil e a exibição de uma
reprise do Triturando.
 Aposto que o SBT vai dizer que o cancelamento
foi um teste para o Triturando. Para ver se o programa de fofocas iria bem de
audiência neste horário noturno. Mas não faz sentido. Dava para testar o
Triturando à noite e ainda assim exibir o telejornal. Não se cancela um
telejornal pra colocar uma reprise de programa de fofocas no lugar. É muito
grave.
 O dono do SBT entende que as falas do
presidente, com palavrões e tudo, transmitem uma imagem positiva para a
população. Por sua autenticidade. Quer mostrar as falas na íntegra, sem edição
feita por jornalistas.
 As interferências de Silvio Santos no
jornalismo não são de hoje. Ele sempre foi alinhado com o governo. Qualquer
governo. Os governos da ditadura, os governos que vieram depois, com a
redemocratização. E sempre orientou o seu jornalismo a ser a favor do governo.
E com exceção do período em que Boris Casoy apresentou o TJ Brasil, nunca
deixou que os seus jornalistas opinassem.
 O problema é que a proximidade de Silvio e do
SBT com o governo Bolsonaro está chamando mais a atenção do que em outros
momentos. Silvio parece estar de braços mais abertos do que o normal para o
presidente e todo o círculo presidencial.
 Isso não é bom para o canal. Mostra fragilidade
e falta de independência.
Fonte: Portal UOL
Foto: Divulgação