InícioAMAZONASDocumentário revela como rezadores mantêm viva a fé cabocla na Amazônia

Documentário revela como rezadores mantêm viva a fé cabocla na Amazônia

Silenciosos, discretos e muitas vezes invisibilizados pelas estruturas oficiais, os rezadores ganham protagonismo no documentário “Rezadores de Almas”, uma produção amazonense que resgata e celebra essa prática ancestral viva na Amazônia. O filme foi lançado em abril, na cidade de Maués, com apoio da Lei Paulo Gustavo, da Secretaria de Estado de Cultura e Economia Criativa do Amazonas, do Governo Federal, além de parceiros como a Prefeitura de Maués, Ponto de Cultura Espaço Pavulagi e Cine Porto dos Saberes.

A produção é um trabalho sensível de imersão na fé popular, conduzido pelos diretores Leina Regina Tavares Monteiro e Waldemir Coelho Santos Neto (Neto Simões), que percorreram comunidades ribeirinhas para registrar o cotidiano espiritual de homens e mulheres que, através da oração, da ladainha e da caminhada noturna, conduzem as almas dos falecidos e fortalecem os vínculos comunitários.

De acordo com a diretora Leina Tavares, a motivação para o filme nasceu do desejo de dar voz a figuras espirituais que resistem ao tempo.

“Rezadores de Almas nasce do desejo profundo de documentar, preservar e ecoar vozes que muitas vezes são silenciadas pelo tempo e pelas estruturas sociais. Este filme é, antes de tudo, um gesto de escuta e reverência. Projetamos registrar o sagrado que habita o cotidiano, o invisível que pulsa nos becos, nas matas e nas beiras dos rios”, explica.

Ao longo do documentário, os rezadores são retratados como guardiões de saberes ancestrais, herdeiros de tradições indígenas, negras e caboclas. As cenas revelam a simplicidade e a profundidade das rezas: o acender da vela, a benção ramos de plantas da floresta, o toque da sineta, os cantos murmurados em noites de silêncio. Cada gesto é uma ponte entre mundos e uma reafirmação da resistência espiritual na floresta.

Conforme destaca o codiretor Neto Simões, o filme é também um convite ao sentir, mais do que ao explicar.

“Nossa intenção foi criar uma obra que respeitasse os ritmos do silêncio, da fé e da floresta. Um documentário que não explicasse, mas que permitisse sentir. Que desse espaço ao mistério e à beleza da oralidade, das ladainhas, da caminhada e do gesto simples de acender uma vela ou bater a sineta.”

Além da valorização da cultura imaterial, o documentário denuncia os estigmas enfrentados por essas práticas: intolerância religiosa, invisibilização institucional e desvalorização histórica. A obra aponta o risco de desaparecimento desses rituais, que permanecem vivos graças à transmissão oral e ao compromisso silencioso dos rezadores com o bem-estar coletivo.

Para os diretores, a obra é dedicada a esses homens e mulheres que caminham “à margem” das instituições, mas sustentam o centro espiritual de comunidades inteiras. “Dedico este filme aos rezadores e rezadoras que caminham à margem, mas sustentam o centro da nossa espiritualidade popular. Àqueles que, mesmo diante da intolerância religiosa e da invisibilização institucional, continuam firmes, rezando pelas almas, pelas memórias e por nós”, afirma Leina.

O documentário tem classificação indicativa de 10 anos e está disponível gratuitamente no canal Puxirum Cultura no YouTube. Pode ser assistido em diversos dispositivos por meio do link: https://www.youtube.com/channel/UCmUTEXwpQECxio9_L-M2GEg

Artigos Relacionados

LEIA MAIS