TCE

 O Produto Interno Bruto de R$ 1,78 trilhão nos
meses de abril, maio e junho deste ano surpreendeu os economistas. O valor
corresponde ao fluxo de novos bens e serviços finais produzidos no segundo
trimestre deste ano. O resultado foi 1% acima do registrado no mesmo
período em 2018 e 0,4% superior ao primeiro trimestre de 2019.
 Antes da divulgação do PIB pelo IBGE, a
tendência geral dos economistas ouvidos no mercado financeiro era apostar em um
crescimento de 0,2% de um trimestre a outro. O percentual em dobro é melhor do
que se esperava, mas não o suficiente para marcar uma vigorosa retomada da
economia, concordam economistas de postos diferentes ouvidos pela Agência
Brasil.
 Para Thiago Xavier, economista da Consultoria
Tendências, o resultado do PIB é uma “pequena surpresa, mas precisa ser
relativizada”. De acordo com ele, “uma das razões para ter cautela é
a base muito frágil de comparação dos resultados. Independentemente de qual for
a métrica, [o resultado] tem bases de comparação fracas”.
 Xavier assinala que as comparações entre
períodos iguais de 2019 e 2018 têm que levar em consideração que no primeiro
semestre do ano passado houve a greve dos caminhoneiros que desarticulou toda a
economia nacional, e que no primeiro semestre deste ano a ruptura da barragem
da Vale em Brumadinho (MG) reduziu a produção mineral.
 Capital e trabalho
 Flávio Castelo Branco, gerente-executivo de
Política Econômica da Confederação Nacional da Indústria (CNI) faz coro com
economista da Consultoria Tendências e acrescenta que na última medida do PIB o
crescimento atribuído à indústria se destaca porque o histórico é negativo.
 “É uma notícia positiva e enseja expectativas,
mas vamos lembrar: a indústria tinha caído dois semestres seguidos e o
crescimento anterior tinha sido fraco.   Agora
estamos de cinco a seis pontos percentuais menores que estávamos no início da
recessão”.
 A recessão mencionada pelo representante do
capital também é citada pelo representante da força de trabalho.
 “O país está longe de ter uma
dinâmica capaz de ter um crescimento que reponha as perdas do período
recessivo e recoloque o país nos mesmos patamares econômicos de 2013 e 2014”,
assinala Clemente Ganz Lúcio, diretor técnico do Departamento Intersindical de
Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese).
 “Nessa dinâmica é preciso de mais três ou
quatro anos para recuperar o mesmo posicionamento de 2014. Isso significa que
podemos ter mais uma década perdida em que o país mergulha e depois
sai do fundo do poço para voltar para a mesma posição”, compara.
 Cenário internacional
 Se o passado recente de baixo crescimento
econômico relativiza os feitos medidos pelo PIB do 2º trimestre de 2019, o
futuro exige cautela. O Brasil pode sentir efeitos do conflito comercial e
cambial entre os Estados Unidos e China, da saída do Reino Unido (Brexit) da
União Europeia, e da recente moratória da Argentina.
 Estados Unidos, China, União Europeia e
Argentina são os principais parceiros comerciais do Brasil. A redução do
comércio internacional desses países pode tornar o bom desempenho da economia
mundial duvidoso. “Quando o mundo fica mais incerto, países emergentes ficam
mais expostos”, pondera Thiago Xavier, da Consultoria Tendências.
 “O cenário internacional já foi melhor e nós não
aproveitamos por causa da nossa situação doméstica”, rememora Castelo
Branco, da CNI. Para ele, “o maior freio está dentro da nossa economia”.
 Em sua avaliação, a aprovação final da reforma
da Previdência Social, a simplificação da cobrança de tributos, a
desburocratização das obrigações das empresas e a medida provisória da
liberdade econômica poderão fortalecer a economia do país em meio ao tempo
fechado entre os parceiros comerciais.
 “Esses fatores vão preponderar sobre as
dificuldades que vêm do ambiente internacional”, acredita o gerente-executivo
de Política Econômica da CNI.
 Reformas e investimentos
 Além das medidas em andamento, Castelo Branco
tem expectativa positiva quanto ao programa de privatização e concessões do
governo federal e acredita que o Banco Central continuará reduzindo a taxa
básica de juros (Selic). “Isso tudo cria um ambiente mais favorável para a
demanda de investimentos e para a demanda das famílias, fazendo a roda do
crescimento girar um pouquinho mais rápido”, descreve.
 “O que vai viabilizar um crescimento mais
robusto da economia é o investimento. É preciso atrair muito recursos para
infraestrutura e para isso temos que fazer alterações nas leis para que
estimule a entrada de capital”, acrescenta José Ronaldo Souza Júnior, diretor
de Macroeconomia do Ipea.
 O crescimento de 0,4% do PIB foi previsto pelo
Ipea, que antecipou que o país crescerá em 2019 0,8%, três décimos de pontos
percentuais abaixo do verificado em 2017 e 2018 (1,1%).
 “Será o terceiro ano com a atividade econômica
em ritmo muito baixo. Com uma dinâmica que não responde ao que se esperava. Nós
já temos um período longo de baixo crescimento”, lamenta Clemente Ganz Lúcio,
do Dieese.
Fonte: Agência
Brasil
Foto: José
Paulo Lacerda