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Jullia Beatriz treina sozinha há quatros anos e já demonstra uma habilidade única com a bola

Freestyler com apenas 16 anos, Jullia Beatriz enxerga no futebol uma chance de ser inspiração para outras meninas. Foi depois de perceber que tinham poucas mulheres em campo e em quadra, que decidiu se dedicar ao Estilo Livre, aquele em que é possível fazer acrobacias com a bola, com diferentes partes do corpo.

“Brincava com os meninos na rua, quando tinha 12 anos, mais ou menos, e ficava me perguntando: ‘Olha, por que quase não tem meninas que jogam bola na rua também?’. Comecei a pesquisar na internet sobre as meninas no futebol, sobre o futebol feminino, e apareceram algumas garotas fazendo o futebol Freestyle. Achei muito interessante, porque assim eu não dependo de um time para jogar”, conta.

O que era apenas interesse virou, rapidamente, uma habilidade. Jullia percebeu que tinha facilidade em aprender as manobras, mesmo que na época mal tivesse uma bola de futebol – usava uma que estava na casa da avó.

Aos poucos, foi acumulando manobras e melhorando o controle de bola, sempre guiada por  duas inspirações: Lisa Zimouche, profissional do freestyle franco-argelina, e Ronaldinho Gaúcho, que dispensa apresentações.

Hoje, após quatro anos de treino, que consiste em “só eu e a bola assistindo vídeo”, ela já consegue marcar presença em alguns eventos e até participou de uma competição.

A primeira intenção de Jullia no freestyle era se tornar profissional e competir. Porém, por enquanto, ela acha que não está pronta e “devo treinar um pouco mais”. Isso porque a jovem tem de equilibrar a escola, a ajuda em casa e os treinos.

“Temos um empório aqui na frente de casa, e eu ajudo meus pais. Aí depois faço a tarefa da escola e vou treinar – geralmente à noite. Mas a maioria do meu tempo fico aqui ajudando eles”, relata.

Com mais de 130 mil curtidas no TikTok, ela já conseguiu atingir parte do seu objetivo de “ser inspiração” para outras pessoas, especialmente meninas. O outro sonho, de viver do freestyle, ainda não se concretizou.

Essa é uma dificuldade enfrentada pela família, segundo a mãe dela, Marli Julião, pois Jullia ainda não é bem-remunerada nos eventos que participa. Os pais sabem que a garota gosta muito de marcar presença, mas diminuíram as idas aos locais em razão dos gastos – excedem o lucro.

A mãe conta que os dois perceberam as habilidades da filha junto com ela, conforme a adolescente demonstrava facilidade nas manobras. Até então, sabiam que ela se dava bem com o teatro, que fez durante os dois anos, e com o futebol tradicional, frequentou escolinha por um tempo.

“Sempre tentamos ser parceiro e estar ao lado dela, para o que der e vier”, diz.

Marli lembra que a filha sempre foi muito alegre e divertida. É essa simpatia que motiva o rápido crescimento da jovem nas redes sociais, que é constantemente analisada pelos pais. “Tudo ela pede permissão”, revela a mãe.

Porém, como nem tudo são flores, a família tenta não deixar que Jullia se abale com os comentários negativos que recebe. “Às vezes tem elogios, às vezes vão ser críticas, nem sempre são tão agradáveis, mas a gente explica para ela que é normal, faz parte”.

De forma geral, ela não se deixa levar pelas opiniões ruins e aconselha outras meninas, que desejam entrar no futebol, a fazerem o mesmo.

“Não liguem para a opinião de ninguém. A cada hora, em qualquer lugar do mundo, tem alguém tentando te desmotivar. Seja sua própria inspiração”, afirma a jovem.

A mais velha de três irmãs, uma de quatro anos e a outra de nove anos, Jullia é descrita por Marli como “uma menina muito parceira, amorosa e carinhosa”.

Em razão da rotina no pequeno comércio e em casa, quando ajuda a cuidar das irmãs, a adolescente tem uma rotina movimentada e acaba dormindo tarde. Marli conta que há dias em que Jullia “vai dormir mais tarde ainda” treinando.

“Eu falo para ela que ela não deixa os meninos dormirem, porque só fica as batidinhas da bola de noite, e ela fazendo os vídeos ou só treinando mesmo”, descreve a mãe.

*Sob supervisão de Carla Canteras