TCE

Primeira venda legalizada de tracajás e tartarugas deve ocorrer ainda no mês de novembro

 

O Governo do Amazonas, por meio da Secretaria de Estado do Meio Ambiente (Sema), esteve em visita ao manejo experimental de quelônios da Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) do Uacari, situada no município de Carauari (a 788 quilômetros de Manaus), nesta quinta (16/09) e sexta-feira (17/09). A expectativa é que a primeira venda legalizada de tracajás e tartarugas ocorra ainda no mês de novembro.

 

A reserva Uacari é uma das 42 Unidades de Conservação (UC) gerenciadas pela Sema. Em 2019, a área protegida recebeu autorização do Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas (Ipaam) para implementar, de forma pioneira no estado, o manejo comunitário de quelônios, por meio da Associação dos Moradores Agroextrativistas da RDS Uacari (Amaru).

 

“Hoje o manejo do pirarucu é realidade, e nós estamos trabalhando, da mesma forma, para implementar o manejo de quelônios no Amazonas. A ideia é que haja a garantia de qualidade para o consumidor, que contribua para a conservação da espécie e, ao mesmo tempo, que haja a garantia de que o trabalho dos comunitários, de conservação dos tabuleiros, seja revertido em geração de renda”, disse o secretário de Estado do Meio Ambiente.

 

Atualmente, 1.355 quelônios foram capturados para o manejo e criação comunitária, que acontecem nas comunidades de Xibauazinho, Manariam e Vila Ramalho. A captura é realizada respeitando cotas estabelecidas por órgãos ambientais, garantindo que a população possa tirar sustento da natureza, ao mesmo tempo em que amplia a população de quelônios da região.

 

“Agora há um lote para engorda, que vai receber um cuidado especial, junto aos nossos parceiros, para que a primeira venda legalizada possa ocorrer ainda neste ano. Essa comercialização será feita, primeiramente, de forma simbólica, para aos poucos aumentarmos a estrutura e termos uma produção que possa suprir a demanda e ser mais uma aliada no combate à predação ilegal desses animais”, pontuou o gestor da RDS Uacari, Gilberto Olavo.

 

Trabalho coletivo para manutenção da espécie – Apesar da recente legalização, a implementação dos criatórios experimentais tem início muito antes de 2019. Há mais de 45 anos, moradores de comunidades ribeirinhas da região iniciaram um trabalho de conservação dos tabuleiros de desova, que ganhou impulso com a criação da RDS em 2005. A atividade de monitoramento permitiu que as populações destes animais fossem recuperadas, com taxas crescentes de aumento de fêmeas desovando e gerando filhotes.

 

A conservação da espécie induziu, por exemplo, a recuperação populacional da Tartaruga-da-Amazônia (Podocnemis expansa) e outros quelônios ao longo de um trecho de 1.500 quilômetros do Médio Rio Juruá. Hoje, a região abriga uma importante população de tartarugas em rio de água barrenta no Brasil, com mais fêmeas produtivas do que muitos outros países da bacia Amazônica.

 

Foi o trabalho de conservação que permitiu a autorização para o manejo comunitário de quelônios, que será base de uma nova cadeia produtiva de base sustentável para geração de renda na região. É essa a expectativa do Francisco Mendes, conhecido como “Bomba”, um dos primeiros ribeirinhos a se dedicar inteiramente para a atividade.

 

Junto ao filho, Bomba atua como monitor de tabuleiro na comunidade Manariam, na RDS Uacari. Os tanques-rede, de onde sairão os primeiros quelônios manejados para venda, também estão sob os cuidados diretos dele e da família.

 

“Quando eu cheguei aqui era a época dos patrões de seringais. Nessa época eu era como um monitor, só que eu era pago pelo patrão para pegar o bicho e trazer para ele vender. A gente viu que não era certo. Quando surgiu a reserva, esse cuidado passou para os comunitários, e a gente usa o que aprendeu para conservar. É muito trabalho, mas eu faço isso por mim e para as outras gerações”, ressaltou.

 

O trabalho de conservação de quelônios também acontece na Reserva Extrativista (Resex) Médio Juruá, de gestão do Governo Federal, localizada ao lado da RDS Uacari. A atividade conta com o apoio da Sema, do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), Ministério do Meio Ambiente (MMA), Universidade Federal do Amazonas (Ufam), por meio do projeto Pé de Pincha; Associação dos Produtores Rurais de Carauari (Asproc), Conselho Nacional dos Seringueiros (CNS), entre outros.

 

FOTOS: Diego Peres/Secom