TCE
Mulher passou três semanas na
casa de um familiar, em São Paulo, e voltou para a São Vicente com febre e
falta de ar.
Por G1 Santos
23/03/2020
Cleide era moradora de São
Vicente (SP) e estava grávida de 13 semanas — Foto: Arquivo pessoal
Uma auxiliar de enfermagem de 43
anos morreu, neste domingo (22), no Hospital Guilherme Álvaro, em Santos, no
litoral de São Paulo. Segundo informações apuradas pelo G1, Cleide Renata Marques
estava grávida de 13 semanas e apresentava sintomas semelhantes ao do novo
coronavírus. Ela aguardava o resultado do teste, que sairia nesta semana.
G1 lança série de perguntas e
respostas sobre o novo coronavírus
Segundo a filha dela, Bruna
Marques, a vítima tinha asma e passou a ter febre e falta de ar severa após
passar cerca de três semanas em São Paulo. Ela teria ido à capital para ajudar
familiares e voltou para a casa, em São Vicente, no último dia 14, para a festa
surpresa de aniversário da filha. Quando chegou, estava com febre alta. A filha
relata que, durante toda a festa, a mãe se mostrava bem debilitada.
Após dois dias, como a mãe não
melhorava, a jovem resolveu levá-la para a maternidade do Hospital São José,
onde ela atendida e logo transferida para o Hospital Municipal de São Vicente.
Na unidade de saúde, conforme relata a filha, ela ficou cerca de quatro horas
em atendimento, foi medicada e liberada. “Aquele dia o hospital estava um caos.
Não tinha álcool gel e não deram nenhuma máscara para nós. Ela saiu de lá com o
acesso venoso ainda no braço, um absurdo”, afirma Bruna.
Após sair da unidade de saúde,
ela decidiu levar a mãe até o HGA, onde ela foi internada, isolada e passou a
receber atendimento médico. Ela foi diagnosticada com um quadro de pneumonia e
foi testada para coronavírus e H1N1. Na terça-feira (17), a paciente foi levada
para a Unidade de Terapia Intensiva (UTI). “Na quarta (18), os médicos me
disseram que ela estava estável, que a gravidez ia bem, sem nenhuma complicação
e que eles estavam tratando”, conta Bruna. Ela relata que no dia da visita foi
a última vez em que viu a mãe acordada e, mesmo que através de um vidro,
conseguiu conversar com ela.
“Ela escrevia em uma plaquinha e
pediu uva e pêra. Também perguntou da minha irmã. Ela chorou muito e estava
muito sentimental. Nesse dia, falei que a amava muito e, mesmo pelo vidro, ela
me entendia”, declara Bruna. Cleide apresentou uma piora no quadro na tarde de
quinta-feira (19) e teve de ser sedada e entubada. Ela perdeu o bebê no mesmo
dia, segundo a filha, por falta oxigenação para a criança, devido ao seu
quadro.
Auxiliar de enfermagem
apresentava sintomas de coronavírus, como febre alta e falta de ar — Foto:
Arquivo pessoalAuxiliar de enfermagem apresentava sintomas de coronavírus, como
febre alta e falta de ar — Foto: Arquivo pessoal
Auxiliar de enfermagem
apresentava sintomas de coronavírus, como febre alta e falta de ar — Foto:
Arquivo pessoal
“Os médicos me falaram que,
apesar disso, seu quadro era estável e que estava respondendo ao tratamento.
Eles me falaram que iam deixá-la na sedação por causa da falta de ar e porque
ela era muito agitada”, afirma. No sábado (21), a jovem foi visitá-la e os
médicos a informaram que a sedação da mãe seria retirada na segunda-feira (23)
para ver se ela reagiria.
Cleide piorou e não resistiu,
morrendo na na madrugada de domingo (22). Os médicos disseram, conforme conta
Bruna, que ela teve uma parada respiratória, por causa de uma pneumonia aguda e
complicações respiratórias. “Está sendo muito difícil para nós. Ela era a
pessoa que ajudava todo mundo da família. Era uma pessoa muito boa, todo mundo
vai sentir muito a falta dela”, desabafa a filha.
Após a morte de Cleide, a família
foi orientada a esperar o teste, que foi enviado para o Instituto Adolfo Lutz,
na capital paulista, e ficar em isolamento doméstico. “Estamos todos bem e sem
nenhum sintoma. Agora, eu só quero uma resposta concreta”, finaliza Bruna.
Questionada sobre o caso da
auxiliar de enfermagem, a Secretaria do Estado informou que a paciente citada
pela reportagem tinha outras comorbidades e foi colhida amostra para análise
laboratorial, visando confirmação ou descarte para o novo coronavírus. Ainda de
acordo com a nota, a Secretaria esclareceu que a investigação epidemiológica de
casos suspeitos da doença, bem como orientações e condutas para eventuais
contatantes, é responsabilidade do município de residência do paciente.
O G1 tentou contato com o
Prefeitura de São Vicente para saber a causa da paciente ter sido liberada do
Hospital Municipal e o motivo do exame não ter sido feito na unidade, no
entanto, até a última atualização dessa reportagem, não obteve resposta.
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