TCE
Globo Rural revela como foi
organizado o ‘dia do fogo’ no Pará; grupo “SERTÃO” tem 80 membros entre
grileiros, garimpeiros e fazendeiros da região
IVACI MATIAS, DE NOVO PROGRESSO
(PA)
26 AGO 2019 –
O “Dia do Fogo”, que provocou o
recorde de queimadas em Novo Progresso e Altamira, no Pará, nasceu dentro do
grupo “Jornal A Voz da Verdade”, no aplicativo Whatsapp, segundo apurou a
Revista Globo Rural.
O grupo, formado para debater
interesses do setor, tem uma arara azul como símbolo e foi criado em 17 de
agosto de 2016, por João Vgas, nome que consta na página principal. Tem 246
participantes ativos entre produtores rurais, grileiros, sindicalistas e
comerciantes do município de Novo Progresso.
Primeiro grupo de WhatsApp conta
com 246 membros
Dos 246 participantes ativos do
grupo “Jornal A Voz da Verdade”, 70 aprovaram os planos do “Dia do
Fogo”. Esses 70 formaram outro grupo, criado pelo comerciante Ricardo De
Nadai, batizado de “SERTÃO”, uma alusão ao nome de seu estabelecimento comercial
(a loja Sertão Agropecuária). O novo grupo ganhou mais 10 membros e fechou com
cerca de 80.
O principal objetivo deste
segundo grupo (SERTÃO) era incendiar, no dia 10 de agosto, áreas de matas e
terras devolutas, fazendo o fogo avançar sobre a Floresta Nacional do Jamanxim,
uma reserva de 1,3 milhão de hectares conhecida pela sua rica biodiversidade. A
ideia era alcançar a Terra do Meio, área de conflitos agrários na Amazônia.
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“Primeiro se desmata, depois
vem o fogo. Tudo foi planejado. Ninguém “ficou sem serviço. Faltou gente,
e peões foram trazidos de outras regiões da Amazônia e até do
Nordeste””
operador de motosserra
Pelo menos quatro membros do
grupo, segundo apurou a revista Globo Rural, já foram presos por crimes
ambientais. São conhecidos como grileiros que estão escrevendo uma lenda no sul
do Pará. Do grupo fazem parte proprietários de redes de supermercados, lojas e
fazendas da região. Alguns deles fizeram acordo com a Justiça e usam
tornozeleira eletrônica.
Motoqueiros do fogo
No dia 10 de agosto, o “Dia do
Fogo”, motoqueiros contratados pelo grupo circularam pelos distritos
localizados às margens da BR-163 ateando fogo no capim seco dos acostamentos.
Nessa época de seca, a vegetação das margens é combustível fácil. As chamas
chegaram a interromper o trafego da rodovia em vários trechos.
O fogo se alastrou queimando
cercas e ameaçando atingir as moradias. Todos que estavam em suas casas nas
vilas ao redor da BR naquele dia avistaram esses homens de capacete ateando
fogo. O crime foi realizado também no município vizinho de Altamira, recordista
de desmatamento e queimadas do Brasil neste ano, e se estendeu até ao Distrito
de Cachoeira da Serra.
A fumaça negra subiu ao céu e se
juntou a uma outra, ainda mais escura, que pipocava de dentro da Floresta
Nacional do Jamanxim, área de proteção ambiental muito visada pelos grileiros e
garimpeiros da região. O lugar foi demarcado através de decreto assinado pelo
presidente Lula em 2006, mas sempre sofreu a ameaça da exploração predatória
pela proximidade da estrada Cuiabá-Santarém.
Faltou motosserra
No início de agosto, várias áreas
de proteção ambiental sofreram ataques de motosserras na região. Primeiro se
desmata, depois vem o fogo. Tudo foi planejado. Ninguém “ficou sem
serviço”, conta um operador de motosserra que não quis se identificar.
Faltou gente, e peões foram trazidos de outras regiões da Amazônia e até do
Nordeste.
Pistas clandestinas de pouso
foram construídas no meio da mata para desembarcar gente. Tudo foi combinado
com muita antecedência no Grupo SERTÃO. Uma das notícias que “bombou” foi a
falta de óleo queimado.