Mensagens obtidas pela Polícia Federal e um depoimento no inquérito da “Abin paralela” indicam que o então coordenador-geral de operações da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) em 2022, Alan Oleskovicz, teria sugerido uma operação para tentar “virar a eleição” em favor do ex-presidente Jair Bolsonaro. O caso levanta novas suspeitas sobre a atuação da agência durante o período eleitoral.
As trocas de mensagens, datadas de 3 de agosto de 2022 – dois meses antes do primeiro turno, quando Bolsonaro estava atrás de Lula nas pesquisas –, mostram um servidor da Abin relatando a um colega que Oleskovicz convocou subordinados para uma reunião onde “ficou elucubrando uma operação ‘que poderia virar a eleição'”. Os colegas teriam se mostrado horrorizados com a proposta.
Oleskovicz, que foi indiciado por peculato e prevaricação, estaria, segundo os relatos, tentando convencer o então secretário de Planejamento e Gestão da Abin a apoiar a missão. Um interlocutor do agente de inteligência, em resposta à mensagem, expressou preocupação com a postura do coordenador, classificando-o como “tipo aqueles da seita” e temendo que “afunda a agência inteira com ele”.
Um depoimento em dezembro do ano passado reforçou a denúncia, com um oficial de inteligência relatando ter ouvido que a equipe de análise do departamento ficou horrorizada com a sugestão de Oleskovicz de que o trabalho da Abin deveria “ajudar na campanha do governo”.
A investigação também reacende questionamentos sobre uma declaração de julho de 2022 do ex-ministro Augusto Heleno, do GSI (Gabinete de Segurança Institucional), a quem a Abin era subordinada. Em uma reunião ministerial, Heleno falou em “montar um esquema para acompanhar o que os dois lados” estavam fazendo, mencionando possível “infiltração desses elementos da Abin”. Bolsonaro o interrompeu, sugerindo uma conversa reservada. Heleno, em depoimento recente ao STF, negou a possibilidade de infiltração a curto prazo e afirmou ter conversado com o então diretor da Abin para evitar ações violentas contra candidatos.
O relatório da PF sobre a “Abin paralela” foi tornado público pelo STF nesta quarta-feira (18), indiciando Oleskovicz, o ex-diretor-geral da Abin e atual deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ), e Victor Carneiro, que assumiu o comando da agência após a saída de Ramagem.


