InícioCULTURAMestre Damasceno morre, aos 71 anos, em Belém

Mestre Damasceno morre, aos 71 anos, em Belém

Mestre Damasceno, símbolo da cultura marajoara, faleceu no Dia Municipal do Carimbó, após enfrentar câncer. Foi homenageado na Feira Pan-Amazônica e condecorado com a Ordem do Mérito Cultural, deixando legado no carimbó, Búfalo-Bumbá e tradição do Marajó.

Damasceno Gregório dos Santos, o Mestre Damasceno, morreu aos 71 anos na madrugada desta terça-feira (26), no Dia Municipal do Carimbó, em Belém. A morte foi confirmada por familiares. O Estado do Pará decretou luto oficial.

Desde 22 de junho, o artista marajoara estava internado em Belém. Ele foi transferido para o Hospital Jean Bittar e, depois, encaminhado para o Hospital Ophir Loyola.

No Ophir Loyola, Mestre Damasceno estava na Unidade de Terapia Intensiva, tratando um quadro de pneumonia e insuficiência renal.

Em junho deste ano, o artista foi diagnosticado com câncer em estado de metástase no pulmão, fígado e rins.

Homenageado na feira do livro

 

Mestre Damasceno tinha sido escolhido para ser um dos homenageados da 28ª Feira Pan-Amazônica do Livro e das Multivozes, junto com a escritora Wanda Monteiro.

O evento ocorreu entre 16 a 22 de agosto no Hangar Convenções e Feiras, em Belém, atraindo milhares de pessoas.

Uma das obras editadas lançadas durante o evento era “Mestre Damasceno e as Cantorias do Marajó”, de Antonio Carlos Pimentel Jr., com relatos de vida do homenageado para o público infanto-juvenil.

Ordem do Mérito Cultural

 

Em maio deste ano, o artista foi agraciado com a Ordem do Mérito Cultural, a mais alta honraria concedida pelo Ministério da Cultura.

Mestre Damasceno recebe Ordem de Mérito Cultural em cerimônia no Rio de Janeiro

Mestre Damasceno recebe Ordem de Mérito Cultural em cerimônia no Rio de Janeiro

A OMC, instituída pela Lei nº 8.313 de 1991, reconhece personalidades e instituições que contribuem de forma significativa para a cultura brasileira.

“Trago comigo tudo o que aprendi com meus pais e avós, ancestrais quilombolas. São mais de 50 anos dedicados às tradições culturais marajoaras, e hoje colho os frutos de uma vida inteira de trabalho. Espero fazer ainda mais”, declarou o músico durante a cerimônia.

Reinvenção da vida pela arte

 

Nascido em 1954 na Comunidade Quilombola do Salvá, em Salvaterra, Mestre Damasceno soma mais de cinco décadas dedicadas à valorização das manifestações tradicionais do arquipélago do Marajó, no Pará.

Ele perdeu a visão aos 19 anos, em um acidente de trabalho, e reinventou a vida por meio da arte.

Mestre Damasceno  — Foto: Reprodução

Mestre Damasceno — Foto: Reprodução

Tornou-se referência no carimbó, nas toadas, na poesia oral e na criação do Búfalo-Bumbá de Salvaterra — manifestação junina que mescla teatro popular, cultura quilombola e elementos da natureza amazônica.

Com mais de 400 composições autorais e seis álbuns gravados, Damasceno é considerado um símbolo de resistência e da força cultural do Norte do Brasil.

Um dos feitos de Mestre Damasceno é a composição de “A mina é cocoriô!”, samba-enredo escolhido pela Grande Rio para o carnaval de 2025, que homenageou o estado do Pará.

Símbolo do Marajó

 

Em 2013, ele fundou o Conjunto de Carimbó Nativos Marajoara, que já lançou quatro álbuns com a marca registrada do artista: o carimbó pau e corda do Marajó.

Entre as iniciativas mais recentes está o Cortejo Carimbúfalo, que mistura carimbó com Búfalo-Bumbá e leva essa expressão cultural às ruas de Salvaterra.

Em 2023, Damasceno idealizou o Festival de Boi-Bumbá de Salvaterra, reunindo grupos de comunidades quilombolas do município e ampliando o alcance de sua arte.

Mestre Damasceno já ganhou inúmeros títulos. O primeiro título foi em 1973, aos 19 anos, quando foi campeão de colocador de Boi-Bumbá, no município de Soure.

Ele ainda recebeu dois prêmios da Secretaria da Identidade e Diversidade Cultural, do extinto Ministério da Cultura (2009 e 2017).

Já recebeu o Prêmio Mestre da Cultura Popular do Estado do Pará – SEIVA, por meio da Fundação Cultura do Pará – Tancredo Neves (2015), e foi reconhecido como mestre de carimbó pelo Instituto do Patrimônio, Histórico e Artístico Nacional (IPHAN, 2017).

Fonte: G1 Pará

Foto: Divulgação

Artigos Relacionados

LEIA MAIS