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Elixandre Correia: filha o chama de herói

Rones Pereira da Silva, de 35 anos, saiu do Espírito Santo no domingo, dia 5, com uma carga de dez toneladas de mamão para entregar na Ceasa, em Irajá, Zona Norte do Rio. No meio da semana, retornou para seu estado levando 14 toneladas de telhas de fibrocimento. O caminhoneiro exerce uma atividade considerada fundamental e que não pode parar nem em época de pandemia.


 Mas, em plena crise, a contaminação é a principal preocupação de muitos desses profissionais, que também enfrentam o fechamento dos restaurantes nas rodovias. Hoje, eles fazem parte da série “Os essenciais”.
Rones diz que não vacila com a saúde e, além de usar máscaras e higienizar sempre as mãos, limpa constantemente o caminhão. A única queixa é que, após o coronavírus, a lavagem completa do veículo, que custava R$ 80, dobrou de preço.
— Se não fizer essa higienização, minha mulher nem me deixa entrar na garagem de casa — brinca ele, há 16 anos na estrada.
Sandoval é diabético e sempre se protege com máscaras e uso de álcool em gel
 Foto: Luiza Moraes / Agência O Globo
Sandoval Caetano de Deus, de 49 anos, também não dá mole para o vírus, usando sempre máscara de proteção e limpando bem as mãos. Morador da cidade Chã Grande, em Pernambuco, ele costuma rodar por Rio e São Paulo, os dois estados com mais casos e mortes da doença.
— Corremos riscos pelo povo. Sou diabético há 20 anos. Se pego esse coronavírus, eu morro — desabafa o caminhoneiro, que está fora de casa desde janeiro.
Por outro lado, José Carlos de Bispo Júnior, de apenas 20 anos, diz que sua proteção maior é Deus. Mesmo assim, não abre mão de álcool em gel, sabão e água.
— Não podemos dar bobeira. Nosso trabalho é solitário, e estou evitando ainda mais o contato com as pessoas — contou o jovem, que é de Itabaiana, no Sergipe, onde mora com os pais e dois irmãos.
José Carlos, de 20 anos, usa sua fé em Deus e álcool em gel para se proteger
José Carlos, de 20 anos, usa sua fé em Deus e álcool em gel para se proteger Foto: Luiza Moraes
Casado e pai de quatro filhos, Natalício dos Santos Silva, de 33 anos, diz que se os caminhoneiros pararem, o mesmo acontece com o país. Um de seus maiores temores é levar a doença para casa, já que Rio e São Paulo também estão sempre em sua rota:
— O pessoal lá de casa fica preocupado, mas preciso trabalhar. Eles fazem contato o tempo todo para saber se estou bem e usando máscara. Tento me prevenir. Passo álcool na cabine e faço a higiene das mãos o tempo todo.
Pai de quatro filhos, Natalício dos Santos lava as mãos o tempo todo
Pai de quatro filhos, Natalício dos Santos lava as mãos o tempo todo Foto: Luiza Moraes
‘Pai, você é herói’
A rotina diária é dura e começa pouco depois das 4h para o motorista de caminhão Elixandre José Silva Correia, de 36 anos. Ele é um dos responsáveis por distribuir alimentos, produtos de limpeza e materiais de higiene para uma das maiores redes de supermercados do Rio de Janeiro. Para chegar ao trabalho, percorre uma distância de cerca de 40 quilômetros, entre Itaguaí, onde mora, até o centro de distribuição de produtos, em Padre Miguel, na Zona Oeste da cidade.
— A minha filha me diz: “Pai, você é um herói”. E é assim que eu me sinto mesmo, um herói. Estou fazendo a diferença e não sinto um peso por ter que sair de casa. Sei que tem alguém precisando de mim e do meu trabalho — afirma Elixandre, que é pai de uma menina de 9 anos.
Rones Pereira da Silva é baiano, mora no Espírito Santo e vem diariamente ao Rio para entregar alimentos no Ceasa-RJ
Rones Pereira da Silva é baiano, mora no Espírito Santo e vem diariamente ao Rio para entregar alimentos no Ceasa-RJ Foto: Luiza Moraes
Os supermercados brasileiros registraram um mês de março atípico para o setor, a partir da adoção de medidas para reduzir o ritmo de avanço do novo coronavírus, segundo a Associação Nacional de Supermercados (Abras). O crescimento no número de casos da doença e o isolamento social acabaram por impulsionar a população a ir às compras para manter o abastecimento nas residências. No acumulado anual, o setor registra alta de 10,35%, de acordo com o Índice Nacional de Vendas Abras.

— O movimento dos supermercados tem se normalizado, e estamos trabalhando para manter as mais de 90 mil lojas funcionando e bem abastecidas. A logística segue em pleno funcionamento — garante o presidente da Abras, João Sanzovo Neto.