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Principal centro comercial de gêneros alimentícios do Amazonas, a Feira Manaus Moderna, localizada na rua Lourenço Braga, no centro de Manaus, foi tema do Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) do estudante de arquitetura da Faculdade Martha Falcão (FMF) Brayan Cameli, 24 anos. A imponente feira virou projeto revolucionário capaz de transformar o local em novo atrativo turístico, gastronômico, cultural e de abastecimento da cidade.

O projeto, defendido durante a Semana de Arquitetura e Urbanismo da FMF (SEMANAU 2021), recebeu nota 10 da banca avaliadora. Brayan, que é manauense e finalista também do curso de Engenharia Civil, destacou que a proposta de reabilitação do Complexo da Feira Manaus Moderna tem como premissa o desenvolvimento daquela região, na margem esquerda do rio Negro.
“O intuito é exatamente valorizar e introduzir o desenvolvimento naquela região. Localizada no centro da cidade, a feira abriga a maioria dos pontos turísticos. É uma área muito importante para a cidade e que merece um cuidado especial. O principal motivo de ter pensado numa nova feira é a importância que a atual tem na cidade de Manaus. Ela é um grande polo de abastecimento e um patrimônio cultural da cidade. Faz parte da rotina de várias pessoas”, defendeu o estudante.

Como futuro arquiteto e engenheiro civil, Brayan ressaltou que idealizou a nova Manaus Moderna com todas as dimensões e características da atual feira, porém, com mais espaço e áreas, proporcionando conforto para os permissionários e clientes.
“O novo espaço vai setorizar. Os produtos serão concentrados na edificação principal e as outras tipologias que são de menor número como restaurantes, lanchonetes, mercados, padarias, serão distribuídos em compartimentos específicos, em outras áreas da região”, informou o aluno.

Inspirado pela temporada de estudos na Europa, em 2018, Brayan informou que se edificada, a nova Manaus Moderna terá espaços inéditos como centro técnico de ensino e ambiente cultural com a realidade amazônica de frente para o maior rio de águas escuras do mundo, o rio Negro.
“Além da feira, foram projetadas duas novas edificações. Uma se chama Organização Cultural da Amazônia, que é voltada para o âmbito educacional para oferecer cursos extracurriculares e profissionalizantes tanto para os trabalhadores quanto para o cliente, em geral. Já o outro é o Centro Cultural da Amazônia que é destinado à retratação da cultura amazônica, buscando oferecer mais um ponto turístico na cidade”, disse o finalista de arquitetura da Faculdade Martha Falcão.

Nos registros históricos, a Feira Manaus Moderna tem o nome oficial de Feira Coronel Jorge Teixeira, em homenagem ao antigo prefeito nomeado em 1974. Em 1993, o complexo de gênero alimentício ganhou o nome de Manaus Moderna.

Parto Humanizado

Outro projeto que foi destaque do SEMANAU 2021 foi o Centro de Parto Humanizado Peri-Hospitalar, idealizado pela finalista do curso de Arquitetura da FMF Jaqueline Moda. A ideia, segundo a estudante, consiste em uma edificação hospitalar de baixo risco, com intuito de atender gestantes que buscam um parto de forma natural, humanizado e sem intervenção médica.
Jaqueline Moda informou que o projeto é inédito em Manaus e busca incentivar o parto natural, respeitando as normas, mas principalmente as escolhas da mulher. Edificada, a obra será localizada na avenida Sete de setembro, no Centro, cerca de 1 quilômetro da Maternidade Balbina Mestrinho, bairro Praça 14 de janeiro, Zona Sul.
“Durante a pesquisa não foram encontrados projetos com o mesmo conceito na cidade. Já vi outros projetos de graduação com a ideia de partos intra-hospitalar, que é dentro da maternidade referenciada. De acordo com a lei, toda unidade de centro de parto humanizado tem de estar referenciado a uma unidade hospitalar. Então, o intra-hospitalar fica dentro da unidade ou dentro do terreno do hospital. No caso do meu projeto, peri-hospitalar, ele fica fora do terreno, da unidade referenciada. O meu projeto está referenciado à Maternidade Balbina Mestrinho”, explicou a formanda.

Jaqueline disse que a ideia do Centro de Parto Humanizado surgiu quando estagiou na Secretaria de Estado de Saúde (SES-AM), no segundo semestre de 2019, quando trabalhou na unidade de gerenciamento de maternidades, onde enxergou a possibilidade de implantar o projeto de assistência natural às mulheres. A história da própria mãe, que também teve complicações no parto, influenciou na decisão da elaboração do TCC de Jaqueline.

“Passei a conviver com esse grupo de pessoas, de grávidas, e tudo mais, e ver uma realidade que eu não conhecia. Então, pesquisei, estudei a respeito do assunto, até que conheci os conceitos de centro de parto humanizado. Tive incentivo na época da minha chefe, que também me falou muito desse universo. A minha mãe sempre falou muito sobre seu parto, que foi muito difícil”, comentou a estudante destacando a decisão do projeto.

Jaqueline Moda destacou também que a concepção da ideia foi pensada em consonância com o terreno, de modo que seja de fácil acesso, sobretudo para as mulheres vindas do interior do Estado.
“Foi algo pensado para aquele terreno, como posicionamento de carta solar (análise que é realizada na arquitetura para avaliar a posição solar nos diferentes horários e dias do ano em relação ao terreno), de via pública, sendo na avenida Sete de setembro, no centro. Na frente do terreno existe uma parada de ônibus, a maioria das linhas de ônibus que passam ali, vêm do centro e do porto. Então, mulheres vindas do interior, de cidades próximas, não teriam problema em fazer o parto naquela casa. A ideia é acolher mulheres de toda a região”, disse Jaqueline.

Tradição
Para Jaqueline Moda, o TCC apresentado também resgata a tradição das parteiras tão conhecidas na Amazônia pela realização de partos naturais. “As parteiras foram importantes por muitos anos. É um conceito que pode ser restaurado, desde que seja melhor trabalhado. Temos um nicho de conhecimento e de normativas que podem ajudar a desenvolver esse tipo de trabalho. Hoje em dia temos as chamadas enfermeiras obstétricas. São elas que geralmente atendem as casas de parto em outros estados e outros países. A casa de parto não necessariamente precisa de um médico obstétrico, mas de um enfermeiro obstétrico que faça o atendimento. Sem falar nas parteiras podem ter esse tipo de conhecimento e auxiliar as mulheres no que precisarem”, concluiu a aluna.

Qualidade

A professora de Arquitetura e Urbanismo da Faculdade Martha Falcão, Carla Soler, destacou que o curso da FMF tem nota 5 no Exame Nacional do Desempenho dos Estudantes (Enade) e que os trabalhos apresentados no SEMANAU 2021 tiveram um salto de qualidade acadêmica e técnica. “Os projetos tiveram alta relevância social, principalmente no que diz respeito aos temas escolhidos pelos alunos, que se preocupam em trazer para a realidade regional demandas importantes de nossa cidade”, avaliou a professora.

Ao longo do mês de julho, a FMF divulgará outros projetos apresentados pelos alunos de arquitetura durante o SEMANAU 2021.