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Surtos levaram país a perder certificado de eliminação do sarampo

 A Organização Pan-Americana da Saúde (Opas)
informou hoje (6) que já começaram a ser entregues as 18,7 milhões de doses
extras da vacina tríplice viral ao Brasil.
 Segundo a representante da Opas no Brasil, a
especialista em imunizações Lely Guzman, as doses já entregues vieram do Serum
Institute of India e estão passando pelos trâmites regulatórios previstos na
legislação brasileira para o controle de qualidade.
 “O Brasil, neste momento, está fazendo
muitas ações para dar resposta a esse surto”, disse Lely, referindo-se aos
casos de sarampo registrados no país. “O Brasil é muito importante na
região, e tudo o que acontece no Brasil rapidamente impacta os outros
países”, acrescentou.
 De acordo com Lely, não existem atualmente
dificuldades de fornecimento de vacina contra o sarampo para países do
continente sul-americano. Surtos da doença também estão sendo registrados em
outras partes do mundo, como a Europa e a África, e a demanda pela vacina deve
aumentar. “Os laboratórios neste momento estão sendo chamados a produzir
mais porque espera-se que, no próximo ano, a demanda será muito maior nesse
processo de eliminação [do sarampo] das regiões comprometidas.” Lely
informou que a coordenação internacional do processo será da Organização
Mundial da Saúde (OMS) e suas entidades regionais, como a Opas.

 Certificado ameaçado

 Conquistado em 2016, o certificado de
eliminação do sarampo das Américas pode estar ameaçado pelos surtos registrados
desde 2017 em parte de seus países. Se os Estados Unidos não contiverem até o
fim deste mês o surto da doença, iniciado em 30 de setembro do ano passado no
estado de Nova York, será o terceiro país da região a perder o certificado de
erradicação.
 Brasil e Venezuela já perderam esse
reconhecimento por não terem conseguido quebrar a cadeia de transmissão do
vírus no período de 12 meses após o início de um surto. Caso o mesmo ocorra com
os Estados Unidos, país mais populoso do continente, as chances de o
certificado continental ser revisto são maiores, destacou Lely Guzman, que fez
nesta sexta-feira (6) palestra na Jornada Nacional de Imunizações, em
Fortaleza.
 O continente americano é o mais avançado no
cumprimento dos objetivos do Plano de Ação Vacional Global da OMS. Os 35 países
do continente conseguiram erradicar a rubéola, a poliomielite, o tétano materno
e neonatal e, até 2017, também haviam zerado os casos de sarampo. Apesar disso,
os países não conseguiram cumprir de forma conjunta as metas de cobertura
vacinal, o que permitiu que a doença voltasse a circular.
 A Venezuela foi o primeiro país a perder o
certificado de eliminação do sarampo, em julho de 2017 – no ano passado, o país
teve 5,7 mil casos de sarampo e agora, em 2019, já registrou 417.
 Segundo a Opas, as taxas de imunização aquém
do necessário na população brasileira fizeram com que o vírus circulasse na
Região Norte desde o ano passado após a chegada de pessoas que foram infectadas
na Venezuela. Em 2018, o Brasil teve 10 mil casos de sarampo, e o surto
iniciado no Norte não foi totalmente controlado em 12 meses, o que fez com que
o país perdesse o certificado de erradicação neste ano.
 Em 2019, já são mais de 2,7 mil casos,
conforme o último balanço do Ministério da Saúde. A maioria dos casos (98%)
está concentrada em São Paulo, onde teve início outro surto, também por causa das
baixas taxas de imunização, que permitiram que o vírus circulasse após a
chegada de pessoas infectadas na Europa e na Ásia.
 A Colômbia também tenta conter um surto antes
de se completar o período de 12 meses. No caso dos colombianos, ações de
imunização na fronteira com a Venezuela e uma cobertura vacinal maior
permitiram que o certificado fosse mantido até o momento, mas a circulação do
vírus continua. A Colômbia teve 208 casos no ano passado e 189 neste ano.
 Segundo a Opas, o caso dos Estados Unidos é diferente
e se iniciou com a chegada de imigrantes de fora do continente americano. No
estado de Nova York, onde ocorre o surto mais duradouro, o vírus se espalhou em
comunidades religiosas que não estavam com a vacinação em dia, e ainda não foi
inteiramente contido. Outros surtos, no entanto, ocorrem simultaneamente no
país, que teve 372 casos em 2018 e 1,2 mil em 2019.
 Dos 35 países do continente americano, apenas
16 vacinaram mais de 95% do público-alvo com a primeira dose da vacina contra o
sarampo em 2018, e somente oito cumpriram a meta para a segunda dose: Antigua e
Barbuda, Costa Rica, Cuba, México, Nicarágua, Panamá, São Cristóvão e Neves e
São Vicente e Granadinas. No caso da segunda dose, 19 países não atingiram
sequer 80% do público-alvo, incluindo Brasil e Venezuela.
Fonte:
Agencia Brasil
Foto: Marcelo
Camargo