TCE
Um suposto plano da milícia do
jogo do bicho para matar um promotor de Justiça e um delegado que comandaram as
investigações que desarticulou o grupo em Mato Grosso do Sul foi descoberto em
um pedaço de papel higiênico em uma cela do presídio federal de Mossoró, no Rio
Grande do Norte.
O papel foi encontrado por
agentes do Departamento Penitenciário Nacional (Depen), entre as celas do
Regime Disciplinar Diferenciado (RDD) ocupadas pelos empresários Jamil Name e
seu filho, Jamil Name filho. Eles são acusados de chefiarem a milícia do jogo
do bicho em Mato Grosso do Sul.
O advogado Renê Siufi, que
defende a família Name, disse que ainda não se inteirou sobre a nova
investigação e que, por isso, não vai se pronunciar neste momento.
O papel com os supostos planos da
milícia foi descoberto em fevereiro e a investigação do caso levou a segunda
fase da Operação Omertà, nesta terça-feira (17), com o cumprimento de 18
mandados de busca e apreensão em Campo Grande, Sidrolândia, Aquidauana, Rio
Verde de Mato Grosso e Rio Negro, em Mato Grosso do Sul, além de João Pessoa,
na Paraíba.
As supostas anotações da milícia
contém várias informações sobre a operação Omertà e têm uma ordem clara, que
está em um dos trechos aos quais o G1 teve acesso, matar o delegado titular da
Delegacia Especializada Repressão a Roubos a Banco, Assaltos e Sequestros
(Garras) e um promotor de Justiça do Grupo de Atuação Especial de Combate ao
Crime Organizado (Gaeco). Os dois tiveram um papel fundamental nas
investigações que levaram a prisão da cúpula da suposta milícia em setembro de
2019.
Trecho das supostas anotações da
milícia do jogo do bicho com plano para matar promotor e delegado em MS — Foto:
Reprodução/G1 MS
Diz a anotação: “Recados para
mandar matar xxxx xxxxxxx e xxxxxx e pegar também a família do xxxx”. Os nomes
foram preservados pelo G1 para não colocar em risco os alvos da suposta
milícia.
O papel higiênico ainda tinha
“ordens” para que dois advogados, um com escritório em Mato Grosso do Sul e
outro residente na Paraíba, fossem os responsáveis por comunicar pessoalmente a
ordem dos atentados a dois integrantes do grupo, um homem e uma mulher.
Um outro trecho da suposta
anotação da milícia teria uma determinação de um dos seus líderes. O homem
identificado no papel como “Jamil” passa para que “Marcelo”, que seria Marcelo
Rios, um dos gerentes da quadrilha, assuma todas as acusações, livrando ele e
seu pai das denúncias. No texto, o autor ainda destaca que Marcelo terá todo o
suporte necessário e ainda promete uma recompensa no valor de R$ 100 mil.
Diz a anotação: “Jamil passou
para que Marcelo assumir tudo e tira ele e o pai desse B.O., que ele terá todo
o suporte necessário que ele precisar e vai dar R$ 100 mil para ele”.
Durante o cumprimento dos
mandados da segunda fase da Omertà, nesta terça, o Gaeco apreendeu arma no
apartamento do conselheiro do Tribunal de Contas do Estado e ex-deputado
estadual, Jerson Domingos, em Campo Grande.
O Gaeco esteve no apartamento de
Jerson Domingos, em um bairro de classe média alta, em cumprimento a um dos 18
mandados de busca de apreensão que integram as investigações para desarticular
um plano para matar um delegado de Polícia Civil e um promotor de Justiça.
O caso foi considerado
inicialmente como porte ilegal de arma de fogo e por causa disso, Jerson
Domingos foi conduzido para a Delegacia Especializada Repressão a Roubos a
Banco, Assaltos e Sequestros (Garras).
O advogado Renê Siufi, que também
defende Domingos disse que vai se inteirar melhor sobre a investigação para
depois se pronunciar.
A primeira fase da operação
Omertá foi deflagrada em setembro de 2019. A Polícia Civil de Mato Grosso do
Sul e o Gaeco prenderam empresários, policiais e, na época, guardas municipais,
investigados por execuções no estado.
A suspeita é que o grupo tenham
executado pelo menos três pessoas na capital sul-mato-grossense, desde junho de
2018. Outras mortes também estão sendo investigadas.
A última morte atribuída ao grupo
é do estudante de Direito Matheus Coutinho Xavier, de 19 anos. Ele foi atingido
por tiros de fuzil no dia 9 de abril, quando manobrava o carro do pai, na
frente de casa, para pegar o dele e buscar o irmão mais novo na escola.
Pouco mais de um mês depois, no
dia 19 de maio de 2019, policiais do Garras e do Batalhão de Choque da Polícia
Militar (BpChoque) apreenderam um arsenal com um guarda municipal, em uma casa
no Jardim Monte Libano. Foram apreendidos 18 fuzis de calibre 762 e 556,
espingarda de calibre 12, carabina de calibre 22, além de 33 carregadores e
quase 700 munições.
Segundo as investigações do
Gaeco, esse arsenal pertencia ao grupo preso na operação Omertà. A força-tarefa
investiga se as armas foram usadas em crimes de execução nos últimos meses.
G1
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