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Emissora reviveu uma acusação feita por ex-baterista em 2018 e usou imagens de “Black Is King”

A RecordTV veiculou na madrugada de hoje uma matéria em que associa a cantora norte-americana Beyoncé e o álbum visual “Black Is King” com a “prática de magia negra”.

O termo, considerado racista e intolerante, foi usado pelo apresentador Adilson Silva, que é bispo na Igreja Universal, no programa “Fala Que Eu te Escuto”, que foi ao ar na grade da emissora às 00h45 (de Brasília) e que teve transmissão no Facebook.

O apresentador disse que “pessoas que foram vítimas de trabalho de amarração” não teriam melhoras nas suas respectivas vidas. Em seguida, ele diz que “tem muita gente se envolvendo com magia negra, inclusive pessoas famosas”.

A matéria descreve a cantora Beyoncé como uma figura longe de polêmicas, mas que “assustou os fãs” por “ser acusada de bruxaria”.

“Ela teria praticado rituais de magia negra contra uma ex-integrante de sua banda”, acusa a matéria, que exibe manchetes de jornais se referindo à Kimberly Thompson, ex-baterista que acusou Bey em 2018.

A reportagem explica que magia negra seria um “manejo de forças sobrenaturais com intenções e propósitos malévolos”. Após a veiculação, o bispo disse que o uso de amuletos, apetrechos e rituais não valem e que “toda maldição foi vencida na cruz”. Procurada pelo UOL, a emissora ainda não respondeu aos questionamentos.

Expressõés racistas

O termo “magia negra” é racista por associar a palavra “negra” — que, no Brasil, se refere ao grupo de pretos e pardos — a algo ruim, reforçando o estereótipo racista.

Além do mais, o tom pejorativo provoca a intolerância religiosa, uma vez que outras práticas religiosas são enquadradas dentro de um termo em que ela se torna ruim — mesmo o Brasil sendo um país laico e defendendo a liberdade, como aponta o Artigo 5 da Constituição Federal.

A própria reportagem usada no programa da Record utilizou imagens do álbum visual “Black Is King”, que traz referências sobre a ancestralidade africana e que trata do orgulho em ser negro.

Na canção “Black Parede”, por exemplo, Bey cita o orixá Oxum, divindade cultuada dentro de religiões de matrizes africanas, tratando da ligação entre o orgulho e a espiritualidade.

Repercussão na internet

Mesmo passando de madrugada, telespectadores e fãs de Beyoncé comentaram hoje sobre o tom e o termo usado na matéria do “Fala Que Eu Te Escuto”.

A hashtag “Record Racista” já é um dos assuntos mais comentados hoje no Twitter.

https://twitter.com/belspbreno/status/1346852581700755464?s=21

Fonte: UOL

Foto: Reprodução Instagram