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Recortes da Cultura Norte Amazônida REGISTROS IMPORTANTES DOS BOIS CAPRICHOSO E GARANTIDO (Basílio Tenório)

Recortes da Cultura Norte Amazônida
Registros importantes
(Basílio Tenório)

Então, seguidores do FOCO AMAZÔNICO, ainda conforme TENÓRIO, Basilio (2016) há que elencar importantes registro na História da Cultura do boi bumbá em Parintins entre os primeiros tempos na história do Boi bumbá Caprichoso e a criação do Festival Folclórico de Parintins. É sabido que o citado bumbá foi fundado em outubro de 1926 e que se apresentou pela primeira vez em junho de 1927; que os líderes entre os seus fundadores foram os irmãos Cid, mais precisamente: Pedro Cid (que fora proclamado “o Chefe”), Nascimento Cid (que cuidava da organização do conjunto folclórico), Artur Cid (o primeiro amo oficial do referido bumbá) e dez anos passaram. Dito assim o primeiro registro remete ao motivo que levou a família Cid a abandonar o Boi bumbá Caprichoso.

Recorte da História do Boi Caprichoso
Aconteceu que, segundo Zé Caiá (irmão do mestre Luiz Gonzaga que fora o quinto dono do Boi Caprichoso, o poeta Feliz Cid se apaixonou por uma linda mulher de nome Sabina. Para a família Cid, particularmente para os pais do poeta, além de prostituta Sabina também manejava os ritos maléficos da magia negra. Ela era paraense, da cidade de Terra Santa e o poeta tinha vinte e três (23) anos de idade quando se envolveu com ela. Para ele, um namoro passageiro, coisas da boemia em Parintins; para ela, no entanto, a relação era séria.
Tão séria que para afastá-lo dos amigos e das serenatas e, sobretudo, do assédio das outras belas mestiças de Parintins, Sabina resolveu retornar à sua cidade de origem levando-o consigo. O poeta se recusou em segui-la e ela então sentenciou: “Pois eu vou te mostrar, Artur Cid, que em menos de uma semana tu hás de correr, chorando, atrás de mim; aí será tarde demais!”.
No dia seguinte Sabina foi embora, dizendo seguir para a Cidade de Terra Santa. O poeta ficou, mas antes mesmo que a semana findasse ele estava chorando compulsivamente a saudade dela. As injunções da família, dos amigos, os apelos de dona Antônia, sua mãe, não surtiam efeito. Foi quando ele radicalizou e foi atrás dela, como a própria havia vaticinado. Ela, entretanto, não se encontrava em Terra Santa, mas na Cidade de Faro trabalhando a sua vingança caprichosa. O poeta foi então para aquela cidade pensando encontrar sua amada, mas em vez dela encontrou a morte.
O capricho de Sabina era por causa de outra mulher: a Sinamor, antiga namorada do poeta. Sua vingança caprichosa? Punir seu amado pela traição e pelo assédio das outras belas filhas de Parintins, matando-o lentamente; envenenado. Inocente, o poeta adoeceu. Da cama, nunca mais se levantaria e quando já agonizava, a notícia chegou em Parintins. Prossegue Zé Caiá:

Assim que chegou a notícia, aqui em Parintins, o Mundico Cid me chamou para ir com ele lá em Faro pra buscar o Feliz. Bem, arrumamos ligeiro a igarité, convidamos outros remadores conhecidos e seguimos viagem. Chegando lá foi pegar o homem e já pra trás. Viemos atalhando. Era tempo de cheia, mas ele já estava nas últimas. Passando por um igapó, paramos para atendê-lo melhor. Na agonia dele, a gente não sabia o que fazer. Os passarinhos daquele igapó pareciam cantar com tristeza, seu mano, e ele morreu. Morreu em nossos braços e foi chorado por nós e pelos passarinhos, naquele igapó. Tão novo, seu mano, ele só tinha 24 anos de idade! […] chegamos em Parintins já pela madrugada. Encostamos na lagoa da Francesa, carregamos o corpo, levamos pra terra e entregamos pra a mãe dele; nos braços dela. Na manhã daquele mesmo dia fizemos o enterro do corpo dele. Foi por isso, seu mano, que os Cid abandonaram o Boi Caprichoso.

Uma vez que a família Cid havia declinado da condição de proprietária ou dona do Boi Caprichoso, em 1936, Gito da Maninha, um dentre os brincantes fundadores assumiu a condição de dono do referido bumbá. Em 1939 Antônio Bobó, também brincante fundador, assumiu enquanto dono do citado bumbá. Em 1940, o dono do Boi Caprichoso foi Nascimento Cid. No ano seguinte, 1941, Luiz Gonzaga, outro brincante fundador, assumiu a condição de dono do Boi bumbá Caprichoso. Mestre Luiz Gonzaga foi dono do bumbá até 1961, justamente o ano em que faleceu.
​No mesmo ano Dona Isolina, sua viúva vendeu o Boi Caprichoso para determinado senhor no Paraná de Parintins, abaixo da cidade como o mesmo nome. Em contracanto a ela Nilo Gama, seu genro, foi àquele senhor, negociou com ele e trouxe de volta o Boi Caprichoso para a Parintins. Objetivando não inspirar cancioneiros e versadores na poética vermelha e branca do Boi bumbá Garantido era mais de meia noite quando Nilo Gama subiu a escadaria fronte da antiga Igreja Matriz levando o Boi Caprichoso sobre a própria cabeça, como se dele fosse o tripa. No ano seguinte, 1962, ele, Nilo Gama e José Luíz de Menezes (o Zéca Menezes) assumiram como donos do Boi bumbá Caprichoso.
​No tempo junino daquele ano de 1962, no festejo de matança do referido bumbá Camóca Leocádio (filho de Ervino Leocádio que era filho de Manuel da Silva Leocádio) era o tripa do boi. Aconteceu que no instante em que o amo do boi, Raimundinho Dutra, autorizou a fuga do boi, em vez de fugir para algum lugar no entorno do terreiro onde o evento acontecia Camóca Leocádio correu levando o boi para a residência do seu cunhado, Luíz Oliveira, na Travessa Cordovil, do outro lado da cidade. Outro panavueiro e por conta disso Nilo Gama e Zéca Menezes também abandonaram o Boi Caprichoso.

Recorte da segunda solidão folclórica
Assim prosseguia a segunda solidão folclórica na História da Cultura do boi bumbá em Parintins iniciada com o falecimento do Mestre Luíz Gonzaga, pois que no ano seguinte, 1962, ela se encontrava em pleno vigor, uma vez que o Boi bumbá Caprichoso se apresentou desfalcado de brincantes, tanto que Lindolfo Monteverde teve que designar Ambrósio Souza Assayag, uma dentre as fortes coluna da poética vermelha e branca do Boi bumbá Garantido, para ser o cantador na poética azul e branca do Boi bumbá Caprichoso. Por algum razão o citado cancioneiro cantou apenas uma noite em azul e branco.
Subentende-se que em função de problemas internos, naquele ano de 1962 o Boi bumbá Caprichoso desapareceu das ruas de Parintins. No mesmo ano, tocada emocionalmente pela forma de como ele se encontrava, assim, abandonado pelos que tanto o cultuavam como manjavam a sua poética na Cidade de Parintins, a esposa de Ervino Leocadio o levou para o “Canta Galo”, propriedade da família Leocádio, localizada no entorno da Comunidade do Aninga, onde ficou ate o ano de 1966.
Fato é que em 1962 o Garantido era, novamente, o único bumbá proporcionando alegria, emoções e entretenimento na Velha Tupinambarana, uma vez que, interrompida a poética da rivalidade, Mestre Lindolfo Monteverde e seus pares pioneiros prosseguiam buscando motivação para continuar brincando o fenômeno Boi bumbá, em Parintins. Já em 1960, Henrique Sinimbú havia contemplado o ilustre Zé Esteves em sua poesia, de modo que assim prosseguia, em São José, a tradição de exaltar a quem de merecimento na poética vermelha e branca do Boi bumbá Garantido e diga-se a quaisquer pessoas, fosse branca, negra ou indígena e diz-se homem ou mulher que houvessem feito algo relevante em favor de Parintins.
Naquele ano, Manduquinha Alzier havia descido de Urucará e, a convite do Mestre Lindolfo, brincou o Boi bumbá Garantido no terreiro da Casa da Poesia e pelas ruas de Parintins. O Brasil era proclamado Campeão na Copa do mundo de futebol, editada no Chile e sendo ano de eleições político/partidárias, apoiados pelo então jovem governador Gilberto Mestrinho de Medeiros Raposo, Plínio Ramos Coelho era candidato a governador do Estado do Amazonas e Zé Esteves era candidato a deputado federal.
Na oposição, o candidato a governador era Paulo Pinto Nery. Assim, iniciando a cronologia de toadas em exaltação à Seleção Brasileira, Manduquinha Alzier exaltou em sua poesia o ilustre Zé Esteves, o Brasil campeão do mundo em futebol e Plínio Ramos Coelho, compondo e cantando assim:

Exaltação
Atribuída a Manduquinha Alzier

Viva o Brasil
Que é o campeão do mundo
Plínio Coelho veio e se candidatou
No Amazonas para ser governador;
Tenho certeza no homem que é assim
Viva o senhor Zé Esteves
Orgulho de Parintins.
José Esteves é homem de coragem
Com seu trabalho está
Abrilhantando a cidade
Ele é bondoso e agrada o pessoal
Que de certo vota nele
Pra deputado federal.

Ao contemplar os ilustres José Raimundo Esteves (Zé Esteves), Plinio Ramos Coelho e Gilberto Mestrinho de Medeiros Raposo, em sua poesia, Manduquinha Alzier referendava a tradição de exaltar a quem de merecimento no terreiro da Casa da Poesia, em São José.
Justamente naquele ano de 1962, em favor da candidatura de Plinio Ramos Coelho a governador do Amazonas, o Governador Gilberto Mestrinho abriu espaço para a participação dos municípios do interior no Festival Folclórico do Amazonas, Sabedor daquilo Ironildo Costa da Silva, filho de Jurandir Mecânico (brincante fundador do Boi Garantido) entrou em contato com o jornalista Bianor Garcia, de modo que se iniciou, na Casa da Poesia, em São José, os preparativos para que o “Touro Branco dos Poetas” pudesse se apresentar no Festival Folclórico do Amazonas, justo momento histórico em que chegava, pelo Correio, a carta convite. De posse dela, assim o cancioneiro Ambrósio Souza Assyag a fez proclamou na poética vermelha e banca do Boi bumbá Garantido

Carta/convite
Ambrósio

O meu amo recebeu uma carta
Contendo um convite pra ir à capital
Eu brinco meu Boi no terreiro
Eu levo meu boi na Espanha
Eu tenho certeza, morena
Que o Boi Garantido
O toureiro não ganha.

Com referência àquela carta, em exaltação aos demais estados da federação brasileira, bem como à belíssima Brasília, recém-inaugurada, Manduquinha Alzier também comunicou o fato ao povo de Parintins e à posteridade compondo e cantando assim:

 

Pra ir à capital
Atribuída a Manduquinha Alzier

Brinquei em Brasília
Brinquei na Bahia,
Brinquei no Pará
Ao voltar p’ro Amazonas
Recebi uma carta pra ir à capital.
Eu convidei a “Morena”
Ela me disse que vinha
P’ra levar o Garantido
A render homenagens
A Plínio Coelho
E Gilberto Mestrinho.

Prosseguiram os preparativos para a viagem. Deusdite Venâncio, o Didi Faz-tudo ou ainda o Dikanel, foi a Zé Esteves e esse lhe patrocinou a confecção do seu capacete de tuxaua. Já envolvido, pois que era candidato a deputado federal, Zé Esteves chamou Rui Mendes, seu secretário particular e ordenou-lhe: “Rui, providencie para que o Garantido se apresente bonito lá em Manaus. Procure o Mestre Lindolfo e o atenda em tudo o que ele pedir para a viagem”; e assim foi feito. Em meio àqueles preparativos, Vavazinho foi designado a compor a toada específica para aquela histórica epopeia.
Entre os membros da família Monteverde, a então jovem Maria do Carmo foi designada para acompanhar o Mestre Lindolfo, seu pai. Assim, enquanto se aguardava o dia da viagem, a vaqueirada dava o merecido trato de carinho no Touro Branco dos Poetas, objetivando o seu encontro com as autoridades do Estado Amazonas e, obviamente, se empavular para as belas filhas da Terra de Ajuricaba, bem como para a Miss Brasil, a lidíssima baiana Maria Olívia Rebouças Cavalcanti, que também se faria presente.
Ainda naqueles certa noite, momento em que o Touro Branco dos Poetas dançava ao redor de uma fogueira, no centro da cidade, um forte apito violentava aquela temporada junina, em Parintins. Era o Lauro Sodré, navio da SNAPP, que, fretado pelo Governo do Amazonas viera buscá-lo.
No instante em que o conjunto folclórico vermelho e branco embarcava, chegava correndo alguém pedindo para seguir junto; era o eterno iluminado Raimundinho Dutra. Em se tratando da pessoa, o Mestre Lindolfo o convidou formalmente para ir consigo, até porque tratava-se de respeitável cancioneiro na “poética azul e branca do Boi bumbá Caprichoso”. Uma vez a bordo, ao ritmo dos tambores de seus pares Vavazinho compôs a toada.
Em Manaus, assim que o Lauro Sodré atracou no cais flutuante, o jornalista Bianor Garcia subiu a bordo para receber o Touro Branco dos Poetas que, através dos marinheiros e dos filhos da poesia do seu fundador, providenciava o próprio desembarque. A partir de então, nos doze dias de sua estada em Manaus, nada lhe faltou porque o citado jornalista foi de extremo cuidado para com ele. À noite, no exato da hora o Estádio General Osório estava lotado de gente quando o Garantido adentrou a arena. Na frente, em exercício de comando vinha o Mestre Lindolfo, cantando, dançando e brandindo aquele seu xeque-xeque. Atrás dele seguia o conjunto folclórico composto dos cordões dos índios guerreiros, da vaqueirada e do ritmo arrepiando na harmonia da batucada.
Então, o conjunto folclórico vermelho e branco do Boi bumbá Garantido tomou conta da situação. O povo manauara levantou, o rufar dos tambores, de caixinhas e de cuícas o fez levantar, cantar, dançar, aplaudir e haja pavulagem em contrapartida. Por força de oficio, Antonico do Gregório comandava a Vaqueirada, que conduzia o Touro Branco dos Poetas rumo à sua apoteose, enquanto os aplausos trovejavam dentro e no entorno do Estádio General Osório. Era a sua primeira apresentação no Festival Folclórico do Amazonas editado naquele ano de 1962 em Manaus. Zazá, enquanto cantador do Boi, sustentava na toada de chegada para que o Mestre Lindolfo pudesse versejar saudando o povo manauara, as autoridades presentes e os grupos folclóricos concorrentes, na magia daquele xeque-xeque brandindo em suas mãos.
O tuxaua Dikanel (Deusdite Venâncio, ou Didi Faz tudo) parecia flutuar em sua dança eclética exibindo, ao mesmo tempo, o mais exótico capacete indígena ali existente. Arrancava aplausos e mais aplausos quando as luzes do estádio foram apagadas para que o povo se extasiasse com as luzes do seu capacete e das estrelas nas pontas das lanças da briosa vaqueirada. No cordão dos índios guerreiros, os brincantes Obed Sicsú e Arquibal se apresentavam esbanjando irreverência fantasiados de índias, levando a plateia ao riso. Não tinha mais para ninguém, o Touro Branco dos Poetas era o senhor do Estádio General Osório enquanto Vavazinho e seus pares sustentavam na toada:

Aviso de guerra
Vavazinho

Brinquei boi na Europa
Nunca encontrei vencedor
Rodei todo estrangeiro, não achei
Baixei nas margens do rio
O primeiro navio
Que foi lançado no Brasil
Deu aviso de guerra
Garantido está na terra.

Então os aplausos continuavam estrondando no Estádio General Osório, enquanto a cadência da batucada vermelha e branca do Touro Branco dos Poetas fazia estremecer o sagrado chão da Terra de Ajuricaba. Pelo alto-falante se ouvia o locutor comentando, extasiado, aquela apresentação ímpar e não poupava elogios ao Boi bumbá Garantido.
Para os filhos da poesia de Lindolfo Monteverde, era a certeza de que o povo ali presente estava feliz. Mas a real felicidade estava estampava no semblante e no sorriso das autoridades, que acenavam para os componentes do conjunto folclórico vermelho e branco ali, desfeitos em suores, mas cantando e dançando com alegria. Ora, se a felicidade visitava aquela multidão, muito mais felizes estavam aqueles brincantes em vermelho e branco vendo o Touro Branco dos Poetas se apresentando como se o Estádio General Osório, em Manaus, fosse a extensão do terreiro da Casa da Poesia, em São José. Em contrapartida, tal como o Mestre Lindolfo lhes havia ensinado eles respondiam cantando belas toadas no viés da respectiva corporeidade e dança.
Naquele festival, no item Boi bumbá, quem entrava na arena apanhava do Touro Branco dos Poetas e apanhava, mesmo. O toureiro Ironildo Costa e o tripa poeta Raimundo Talismã fizeram, da tourada, um espetáculo à parte. Os trovadores e os cancioneiros, então, levaram aquele povo aos verdes campos da fazenda do glorioso São João enquanto a batucada vermelha e branca perfumava aquele belo contemplando o épico ibero/amazônida povoado de história, de magia, quadras, sextilhas, corporeidade, dança e encantamento.
Fato foi que o Garantido empolgou multidões e arrebatou aplausos, ganhou títulos, respeito e fama. Os jornais, particularmente o jornal do Comércio estampou em suas páginas as emoções acontecidas e o povo manauara, agradecido, o acompanhou até o cais flutuante quando em seu embarque de retorno a Parintins. Uma vez a bordo, o Lauro Sodré emitiu sequentes apitos, desatracou e se fez ao Rio Amazonas, de baixada. No cais flutuante, um mar de lenços brancos acenava em despedida, saudoso daquele belo em vermelho e branco, que lhe ficaria para sempre na lembrança.
Daquela experiência pioneira, os filhos da poesia de Lindolfo Monteverde trouxeram o carinho do povo manauara, das autoridades do Estado e dos demais municípios do Amazonas, de outros estados da Federação Brasileira. Trouxeram também a alegria pelas vitórias conquistadas, os aplausos a cada apresentação e a saudade daqueles momentos, algo que não esqueceriam jamais. Deixaram, entretanto, as imagens e as mais vivas lembranças das apresentações que fizeram, o reconhecimento da pujança de um povo guerreiro, criativo e os ensinamentos de como os filhos da poesia de Lindolfo Monteverde brincam o fenômeno Boi bumbá no terreiro da Casa da Poesia, em São José. Deixaram, sobretudo, a fama do Boi bumbá Garantido da Baixa do São José na Terra de Ajuricaba.

Recorte das novas inserções
Nos idos em pauta, não mais havendo poética da rivalidade o Boi bumbá Garantido, em sua busca de alternativas para continuar prevalecendo, inventava e inseria coisas em seu universo folclórico. Portanto,
Já em 1961 o locutor de serviços de altos falantes J. B. Santos, enquanto tuxaua, oficializava a figura do índio americano na poética vermelha e branca do Boi bumbá Garantido e seu arco de alianças. Há de ressaltar que a referida figura existia desde meado dos anos 1950 inserida por força das revistas em quadrinhos entre as quais: “O Zorro”, ”Tex” e dos filmes Farwest americanos.
Assim, portanto, em vez de tanga e peitoral confeccionado com penas de aves, a citada figura vestia roupa de pano confeccionada em lamê; em vez de capacete na cabeça, usava um cocar contendo única pena. Assim surgia a tribo Os Tontos, no terreiro da Casa da Poesia, em São José. Subentende-se que a oficialização da figura do índio americano na estrutura folclórica e na poética vermelha e branca do Boi bumbá Garantido, uma vez absorvida pelo Boi bumbá Caprichoso e respectivo arco de alianças, bania a figura do índio amazônida do fenômeno boi bumbá em Parintins.
Em 1962 Zé Foguete, Lili Juruti e Raimundo Barbosa, provocados pela crise que desaguou no desaparecimento do Boi bumbá Caprichoso das ruas de Parintins, que levou brincantes do Boi Caprichoso a se apresentarem no terreiro da Casa da Poesia para brincar de boi em vermelho e branco inventavam e inseriam o bailado corrido na estrutura do Boi bumbá Garantido.
Ironildo Costa da Silva inventava e inseria a tourada, na poética do Boi Garantido, cuja apresentação consistia numa luta coreografada onde o toureiro era vencido pelo boi. O inventor foi o primeiro toureiro.
Braulino Lima extinguia a forma de extremidade da lança do vaqueiro e inseria no lugar a estrela, que se vê nos dias correntes. Também inseria a luz elétrica nas fantasias do conjunto folclórico, cujo experimento foi no cordão folclórico da vaqueirada. Luz a pilhas, o comutador ficava à altura da virilha do vaqueiro que, executando seu bailado fazia piscar de luzes a sua fantasia. Inventava o coração em vermelho, que anos mais tarde seria a logomarca do Garantido. Inventava e inseria a poética da estrela ao transformar a extremidade da lança do vaqueiro em estrela, no centro da estrela fez colocar um coração vermelho, que tinha uma lâmpada dentro, que piscava o tempo todo e que encantava durante a evolução da vaqueirada.
De Boi guerreiro, o Garantido passava à condição de historiador. Na poesia de Ambrósio ele passava contar sobre a guerra fria e, nela, a corrida espacial entre os Estados Unidos da América e a então União Soviética. Enquanto isso Vavazinho cantava os levantes militares, como o de Jacareacanga no Pará.
Em 1963 faleceu dona Xanda, mãe de Lindolfo Monteverde que, no mesmo ano, acometido de um AVC parou de cantar. A evolução da doença o fez abdicar da condição de amo oficial do Boi bumbá Garantido e seu filho, João Batista Monteverde, assumiu em seu lugar. Entretanto, para que não houvesse conflito entre os seus filhos no poder de mando ficou estabelecido que um ano mandava João Batista Monteverde, em outro ano mandava Antônio Monteverde. Mas ainda assim prosseguiu brincando o seu Boi amado. Fato foi que assim começava o entardecer do período do boi-de-roda, bem como a transição entre esse e o período do boi-de-palco.
Em 1965 era criado o Festival Folclórico de Parintins. no ano seguinte, 1966, a de Padre Augusto Gianolla o Presidente da JAC, Fernando de Oliveira Castro, articulou o retorno do Boi bumbá Caprichoso para a Cidade de Parintins.
Em 1966 os bumbá Garantido e Caprichoso se apresentaram, pela primeira vez, no Festival Folclórico de Parintins.

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