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O segundo dia do Jungle Matsuri, evento que está acontecendo no Studio 5 como parte das comemorações dos 90 anos de imigração japonesa na Amazônia, mais uma vez reuniu um grande público. E o destaque foi a animada apresentação do cantor e compositor Ricardo Cruz, paulistano que se apaixonou pela cultura japonesa vendo séries de televisão como “Jaspion” e “Changeman” e foi bem mais longe do que poderia imaginar: tornou-se o único membro estrangeiro do JAM Project, banda formada por famosos cantores de temas de animes.
Ricardo Cruz, aos 36 anos, tem ainda uma carreira que inclui trabalhos de tradutor e de tutor de língua japonesa, em um de seus canais no YouTube. “Toda vez que aparecia um monstro ou herói nas séries, o nome dos personagens vinha em baixo em caracteres japoneses. Eu ficava louco, copiando no caderno, até que meu pai percebeu e me colocou num curso de japonês — conta Ricardo.
Em 1999, apareceu a oportunidade de viajar para o Japão para fazer intercâmbio estudantil. Ricardo morou por um ano com quatro famílias diferentes na cidade de Utsunomiya, a 100 km de Tóquio. E não escapou do choque cultural. A dificuldade em manter o respeito aos horários e a solenidade rígida dos japoneses o levaram a refletir sobre seus hábitos ocidentais. “Eu já era fã do Japão e fiquei dez vezes mais fã — revela. “Virei um colecionador maluco de tudo daquele universo pop. Minha primeira compra foi a de dois videocassetes num sebo de eletrônicos, só para poder copiar filmes de locadoras. Fui a shows de cantores das trilhas sonoras dos seriados e tive um choque. A música para anime era um braço forte da indústria fonográfica japonesa. Hoje, é um gênero consumido por todos”.
Quando voltou para o Brasil, além de trabalhar na editora Conrad como tradutor de mangás, ele foi soltar a voz, como hobby, em eventos de animes. Em 2003, ajudou a fazer o primeiro Anime Friends, hoje o maior evento de cultura pop japonesa no Brasil. Por seu intermédio, vieram ao Brasil cantores como Hironobu Kageyama (líder do JAM Project e intérprete dos temas de “Changeman” e “Cavaleiros do Zodíaco”) e Akira Kushida (do “Jaspion”). Um dia, ele substituiu uma das cantoras do JAM que estava gripada — os japoneses gostaram dele e, em 2005, depois de passar por um concurso, tornou-se o membro caçula da banda.
Ele diz que o público brasileiro para os animes nunca esteve tão aquecido. “Com a internet, você descobre o nicho que o agrada. Mas, como o Japão é muito fechado, as obras não saem muito de lá, e o público acaba consumindo muito dos animes via pirataria”, encerra.