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Uma dupla de cantores egípcios foi condenada a um ano de prisão por um vídeo de 2020 em que aparecem junto a brasileira Lurdiana Tejas, bailarina que pratica dança do ventre e celebridade no país mulçumano. Nascida em Porto Velho, em Rondônia, Lurdiana se mudou para o Egito em 2017, após receber um convite para trabalhar no país. Em 2020, tornou-se uma estrela após imagens suas viralizarem e hoje ela acumula mais de 2 milhões de seguidores nas redes sociais, além de inúmeras participações em clipes de música e programas de televisão egípcios.

Segundo Lurdiana Tejas, ela sempre teve vontade de morar no exterior e trabalhar profissionalmente como dançarina do ventre. Morando em Balneário Camboriú, dava aulas de balé para crianças e da dança oriental para adultas. Propostas para se apresentar fora, em lugares como Dubai e Beirute, acabavam sendo recusadas por Lurdiana por conta de seu casamento:

— Mas em 2017 me separei e uma amiga minha, que estava morando no Egito e trabalhava para uma companhia de dança, disse que estavam precisando de bailarina da dança do ventre. Eu disse que topava e só arrumei as minhas coisas e em 10 dias vim para cá. Mas vim com moradia, contrato e indicação da minha amiga, porque tinha bastante medo de ser furada — diz.

Lurdiana conta ter vivido um ano em Sharm el-Sheikh, uma cidade turística, enquanto trabalhava para a companhia. Em seguida, ela se mudou para Alexandria e depois para a capital Cairo, onde reside atualmente. A notoriedade veio quando um vídeo seu viralizou:

— Eu estava em um salão de beleza, onde tem várias funcionárias brasileiras. A dona pediu para eu dançar e elas filmaram. Colocaram na página do Instagram do salão e a partir dali viralizou. Mas eu não tinha compartilhado nada, até por que estava com roupa normal. Foi uma coisa inesperada.

Domínio estrangeiro

Segundo Lurdiana, não eram muitas as brasileiras que cruzavam o Atlântico para seguirem a carreira de dançarinas do ventre no Egito.

— Muitas bailarinas tinham medo de vir para cá. Elas trabalhavam mais em outros países árabes. Depois que eu vim, fiz algumas seleções e trouxe algumas para o Egito através da companhia em que eu estava trabalhando. Não só no Cairo, mas também nas outras cidades turísticas.

A maior parte das dançarinas profissionais do gênero no país, no entanto, não são egípcias, mas estrangeiras, sobretudo russas. A brasileira atribui o fenômeno ao preconceito e conservadorismo do país.

— Antigamente, a dança do ventre era mais bem vista, tanto que muitas bailarinas famosas faziam muitos filmes. Elas eram bem prestigiadas e bem vistas — conta Lurdiana, apontando que com o tempo a dança passou a ser associada a prostituição.

— Muitas famílias proíbem. Eles alegam, segundo a religião deles, que a mulher não pode expor o corpo em público. O que a bailarina faz é considerado pecado.

Há maior tolerância com as estrangeiras, pois se entende que elas não conhecem os costumes nem fazem parte da religião.

— Apesar de todo esse conservadorismo, eles gostam da dança do ventre. Faz parte da cultura, faz parte do dia a dia. As mulheres dançam entre elas em festas, casamento. Nas academias, há aulas de dança do ventre. Elas estão sempre dançando, mas de forma festiva e natural.