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Jair Bolsonaro não foi vencido por Lula na eleição presidencial brasileira. Foi vencido por ele próprio e por seus apoiadores mais fanáticos. Se houvesse agido, desde que foi empossado em janeiro de 2019, com um mínimo de racionalidade e empatia, ele estaria hoje reeleito. Lula obteve 60,3 milhões de votos (50,9% do total), enquanto Bolsonaro amealhou impressionantes 58,2 milhões (49,1%), apesar de ter feito quase tudo errado nos últimos quatro anos. Foi a primeira vez, desde a redemocratização, que um presidente não conseguiu ser reeleito. Mas foi também a disputa mais acirrada desde a redemocratização do país.

Ao votar em Jair Bolsonaro no segundo turno, praticamente metade dos brasileiros demonstrou não achar que a democracia estivesse em perigo com ele na Presidência. Fato é, contudo, que o atual presidente sonhou com um autogolpe e, para tanto, militarizou a máquina pública e deu generosos aumentos salariais aos integrantes das Forças Armadas. Também as poupou na reforma da Previdência. Mas nunca existiram condições objetivas para qualquer golpe

Na história brasileira, todos os golpes contaram com a seguinte conjunção favorável: apoio da maioria da classe média, apoio da maioria do Congresso, apoio de banqueiros e empresários, apoio de potências estrangeiras e, por último, mas não menos importante, apoio das Forças Armadas. Bolsonaro jamais teve isso, apesar de todas as cenas teatrais de conteúdo golpista que protagonizou, juntamente com os seus seguidores mais fanáticos. É um caso singular de presidente que permaneceu durante quase todo o tempo de mandato sem partido político onde abrigar-se (fracassou ao tentar criar um para chamar de seu).

Lula fez um lacrimoso discurso de vitória, apresentado-se como o grande conciliador de uma nação dividida e o salvador da democracia. Disse que não existem dois Brasis. Existem, sim, como mostrou o resultado eleitoral, e são praticamente do mesmo tamanho.

Fonte  – https://www.metropoles.com/

Foto hugo Barreto/ Metrópoles