
Marcela Mc Gowan recebe diariamente centenas de perguntas, de seus quase seis milhões de seguidores do Instagram, sobre sexo. A ginecologista, que conquistou fãs por todo o Brasil durante participação no Big Brother Brasil 20, orgulha-se de receber o feedback de mulheres que passaram a entender melhor o corpo, e de homens que melhoraram seus relacionamentos após seguirem as dicas da médica.
“Meu direct é um universo a ser explorado. É um lugar de muita troca e desabafo. Minhas seguidores se abrem muito, relatam a vida sexual e situações que elas achavam que só aconteciam com elas, como a falta de desejo ou a dificuldade em ter orgasmo por meio da penetração. Têm muitos homens também curiosos para entender mais suas parceiras. Sou muita grata por conseguir ajudar essas pessoas. O que eu mais queria quando comecei a trabalhar, era mudar essa visão que a mulher tinha de dar o prazer para seu parceiro antes de buscar o seu próprio prazer. Por muitos anos, vimos conteúdo na internet em que o foco era agradar o homem. Tudo bem a gente saber fazer isso, mas antes a gente precisa entender que a gente foi, por muitos anos, oprimida sexualmente e dar atenção a própria sexualidade”, avalia.
Ao mesmo tempo em que consegue ajudar tantas pessoas com sua visibilidade, Marcela teve que aprender a lidar com o constante interesse dos fãs por sua vida amorosa. Logo ao sair do BBB, teve a pressão para fazer dar certo o relacionamento com o colega de casa Daniel.

“Tem gente que não reagiu bem ao fim. Quando a gente saiu do BBB, a gente tentou. Não rotulamos, mas nos encontramos algumas vezes, ficamos juntos, mas fomos entendendo que não era isso e nos tornamos apenas amigos. Mas, enquanto a gente tentava, muita gente não sabia disso. Foi um processo muito pessoal e dolorido que escolhemos não mostrar porque a gente estava ainda tentando alinhar e ver se aquilo ia dar certo”, relembra.
É com essa mesma discrição que Marcela está levando o romance com a cantora Luiza, da dupla com Maurílio. As duas se conheceram por meio de amigos em uma viagem no final do ano passado.

“É uma doideira lidar com essa curiosidade das pessoas. Se não bastassem as cobranças já existentes em todo relacionamento, tenho que lidar com as cobranças dos outros. Não quero falar muito sobre isso ainda. Tem gente que pede para a gente tirar fotos juntas, para postar… Calma! Estou vivendo ainda o começo de um relacionamento e ainda estamos entendendo tudo e vendo se vai dar certo. A gente tinha zero escolhido compartilhar que estava junto porque era muito inicial. Mas a gente não teve essa opção porque divulgaram antes”, conta ela, que ainda diz qual a maior dificuldade em começar uma relação durante uma pandemia.
“Quando a gente se conheceu estava um momento mais tranquilo da pandemia e flexível da quarentena. Mas o desafio maior é não conseguir se ver sempre e se deslocar como antes. Não poder fazer o que todo casal fazia antes da pandemia que é poder viajar, ir ao cinema… Mas perto da Luiza isso tudo fica pequeno.”
A descoberta da sua sexualidade foi tranquila?
Fui muito ingênua, não sabia o que estava fazendo e como podia desfrutar de forma segura. Tinha 15 anos. Não foi traumática porque o parceiro era muito legal, mas quando terminei, a experiência era de culpa e não era prazer. Era como se fosse errado viver a minha sexualidade e me senti muito mal. Isso durou bastante tempo, até que fui amadurecendo, consegui contar para a minha mãe, fui ao médico para ter orientações e entendi que era normal.
Existe ainda muito tabu em relação ao prazer feminino. Você teve que quebrar tabus pessoais também?
Sempre fui tranquila, mas depois que comecei a ter mais entendimento que vi que também tinha tabus. Eram velados, sem consciência. Tinha isso de que se a mulher demonstrasse que se importava com a sexualidade, ia ter seu valor diminuído socialmente. Isso de mostrar o que gosta ou não no sexo foi um tabu que quebrei.
Quando você mudou a sua visão sobre sexo e prazer feminino?
Para mim foi com o meu trabalho, quando comecei a estudar a humanização do parto. Nesse momento de debate sobre a opressão do corpo da mulher, comecei a estudar mais. Por meio de outras mulheres fui mudando minha consciência. Foi muito libertador quando passei a entender tudo isso.
E quando você começou a ter consciência de que era normal buscar o próprio prazer o que mudou?
Completamente tudo. Muda a relação com o seu corpo, com você mesma, com o sexo… Meu primeiro orgasmo foi na vida adulta. Muitas mulheres que estão na meia idade contam que nunca tiveram isso.
Você ouve muitas críticas por falar abertamente de sexo?
Agora, diretamente, não porque o meu Instagram tem um perfil de seguidores que têm consciência do que falo. Mas antes do BBB, escutei mais. Quando comecei a trabalhar com sexualidade, morava no interior. Quando eu era casada, falavam: ‘isso não é papel de mulher casada’. As pessoas julgavam que, porque eu estava falando de sexo, estava aberta para todo tipo de proposta sexual. O Big Brother quebrou essa barreira para mim. Hoje em dia, até recebo fotos indevidas ou cantadas de pessoas que acham que eu dei espaço porque falo de sexo, mas nem abro. Dou atenção só para quem precisa de ajuda mesmo ou quer trocar conhecimento.
Recentemente, você disse que muitas mulheres se acham estranhas por sentirem orgasmo apenas com o sexo oral e alertou que isso era normal…
O sexo é visto ainda como muito falocêntrico e o orgasmo ligado à penetração. Sendo que pela própria anatomia da mulher a região de maior prazer para a mulher é a externa, no clitóris. Quando eu falo que é normal sentir mais prazer com o sexo oral, um peso gigantesco sai das minhas seguidores e elas entendem que esse conceito do orgasmo só com a penetração é muito errado. E tem muitos homens que ainda cobram da mulher o orgasmo pela penetração enquanto deveriam trabalhar junto com a mulher a exploração do sexo oral.
Você é bissexual. Como foi essa descoberta?
Foi no colegial. Eu tinha uns 17 anos. No primeiro momento, fiquei muito confusa. Estava naquela onda de experimentação e não levei tanto a sério. Depois percebi que sentia a mesma atração e mesma sensação tanto por homem quanto por mulher. Só que naquela época ninguém falava de bissexualidade. Fiquei muito tempo confusa. Ficava e beijava, mas não me permitia algo a mais porque estava presa naquela coisa normativa do relacionamento heterossexual.
Existia muito preconceito também com a bissexualidade…
Hoje em dia se discute mais, mas tem muita gente, inclusive dentro da comunidade LGBT, que tem um conceito errado sobre isso. Acham que a pessoa ainda não se decidiu ou que é promiscua.
O que esse ano de fama intensa pós BBB te ensinou em termos profissionais e pessoais?
O maior aprendizado com o BBB foi em relação ao julgamento. O programa me deu uma perspectiva diferente de como olhar para as pessoas. Me deu maturidade para não sair omitindo minha opinião a toda hora, para saber escutar antes de falar, para ouvir os dois lados. Às vezes, as pessoas me perguntam o que eu acho de ter entrado como uma das favoritas e de ter saído antes mesmo da final. Apesar de ter sido uma experiência dolorosa, acho que foi muito importante. Talvez, se eu tivesse ganhado, não iria procurar evoluir. Talvez fosse ficar dentro da minha bolha de prepotência. A gente tem que estar em constante aprendizado e evolução.
Quais seus planos para este ano?
Esse ano quero continuar apresentando meu conteúdo. Falei muito de sexualidade, mas neste ano quero falar mais sobre saúde feminina. Também estou escrevendo um livro e no segundo semestre quero voltar a clinicar. Gosto muito dessa comunicação poderosa e desse contato olho no olho. Não vou largar mão disso.
Fonte: Quem


