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Confira dicas de como fortalecer sistema imunológico

 Em meio à mudança de rotina de milhares de
brasileiros devido às medidas de isolamento social por conta da pandemia
de covid-19, um importante aspecto não deve ser deixado de lado: a manutenção
de hábitos alimentares saudáveis.
 No Dia Nacional da Saúde e Nutrição, lembrado
hoje (31), a Agência Brasil entrevistou especialistas e selecionou dicas
de como a alimentação pode contribuir para fortalecer o sistema imunológico.
 Para a nutricionista Priscila Moreira, a
primeira medida a ser incorporada é o estabelecimento de uma rotina, com
definição dos horários para as refeições. Isso ajuda a organizar o preparo da comida
e a garantir a ingestão adequada de nutrientes, inclusive para quem tem de
conciliar tarefas profissionais com afazeres domésticos.
 “Colocar uma rotina para acordar, começar
a fazer o almoço, preparar o jantar, porque só assim vai se conseguir manter
uma rotina saudável, sem prejuízo da rotina da casa e da família como um
todo”, diz.
 Priscila destaca que a busca por produtos de
hortifruti diminuiu significativamente desde o início das medidas de isolamento
social. “Para nós, nutricionistas, é preocupante, porque significa que a
pessoa está cozinhando mais em casa, porém não está fazendo comida saudável.
Não está procurando se alimentar com base em frutas, legumes e verduras, e o
que temos conhecimento é de que essa alimentação seria primordial para a manutenção
do sistema imunológico. Então, é muito importante que as pessoas tenham
consciência disso”, pondera.
 Perguntada sobre quais alimentos duram mais
tempo, já que a tendência é ir ao mercado com menos frequência do que o normal,
Priscila cita legumes “mais compactos”, como cenoura e beterraba. No
caso do tomate, deve ser comprado menos maduro. Para as verduras, a sugestão é
de que se opte pelas mais rígidas, como repolho e acelga. “São as
[verduras] que têm conservação um pouco maior. A dica é que se armazene as
verduras higienizadas e secas”, completa.
 Ela explica que a higienização dos
produtos hortifruti deve ser feita com uma solução de 1 colher de sopa de água
sanitária sem perfume diluída em um litro de água. O ideal é que a imersão
seja de 15 a 30 minutos. Depois de limpas, as folhas das verduras devem ser
armazenadas em um recipiente com tampa. O vinagre, lembra a nutricionista, não
é eficaz para a limpeza de alimentos.
 A integrante do Conselho Regional de
Nutricionistas da 3ª Região SP-MS também elenca alimentos que contém
antioxidantes e melhoram o sistema de defesa do corpo: laranja, limão,
mexerica, abacaxi, goiaba, maçã, repolho, acelga, espinafre, berinjela, cebola,
alho, gengibre, cúrcuma e azeite de oliva extravirgem.
 A profissional afirma que é possível congelar
alimentos, mas alerta que o nutriente que mais se perde é a vitamina C.
“Ela é volátil, evapora, praticamente, digamos assim”, esclarece
Priscila. Portanto, deve-se evitar levar ao freezer produtos que são fonte
desse composto, como a laranja ou outras frutas cítricas.
 Quanto aos demais alimentos, não há prejuízo
do teor nutricional, mas sim “perdas sensoriais”, ou seja, com
relação ao sabor e à textura. Caso o consumidor opte por deixar os alimentos no
congelador, a orientação é evitar cozinhá-los até que fiquem moles demais.

 Comedimento

 A endocrinologista Maria Edna de Melo, da
Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia Regional São Paulo
(SBEM-SP), ressalta que o momento atual, de incertezas, inseguranças e
estresse, dificulta a realização de uma dieta saudável. Apesar disso, ela
afirma que o momento é propício para que as pessoas tentem regular a
alimentação.
 Segundo ela, o alimento “é como um
combustível” e, por isso, é preciso transformar os fatores atuais em algo
benéfico e colocar no prato itens
in natura
, deixando de lado, ao máximo, alimentos ultraprocessados.
 “Pelo menos, se aproximar [da dieta mais
saudável]. Não é fazer o perfeito, imaginar que a gente vá ter uma alimentação
100% perfeita. Tem horas em que vai vir a vontade de comer aquele chocolate e
se come. Mas não se deve ter um monte de chocolate em casa, porque se tiver
muito, a gente vai passar do ponto, vai exagerar. Nessa fase, o planejamento é
essencial, e, quando você planeja, planeja compras também. Frutas, legumes e
verduras tem no supermercado, não está faltando isso”, acrescenta Maria
Edna, que é especialista em obesidade.
 De 2006 a 2018, a taxa de obesidade no
país passou de 11,8% para 19,8%. Os principais grupos com maiores altas do
índice, no período, foram os de pessoas com idade que variam de 25 a 34 anos e
de 35 a 44 anos. Nessas faixas, o indicador subiu, respectivamente, 84,2% e
81,1%, ante 67,8% de aumento na população em geral.

 Crianças e idosos

 As duas profissionais ouvidas pela reportagem
defendem que as crianças sejam envolvidas na dinâmica de preparo das receitas
levadas à mesa.
 “Sentar com ela [a criança], levar para
participar da elaboração do cardápio do dia. Isso tudo contribui para melhorar
a ansiedade da criança. E também estipular a ela os horários das refeições,
porque a grande tendência é de que nesse tempo ocioso se divida entre
eletrônicos e comida. O tempo todo, ou está comendo, ou está com algum
eletrônico. Para que essa ociosidade tenha um controle, estipular horário e
fazer uma rotina”, diz Priscila Moreira.
 Para o cuidado específico de idosos, a
nutricionista lista como positivos alimentos que possam refrear a perda de
massa óssea e estimular o ganho de massa muscular. Por isso, as dicas são:
consumo diário de ovos; peixe, que contém Ômega-3 e vitamina D e é uma fonte de
proteína; iogurte, pelos níveis de proteína e cálcio e pelos benefícios ao
funcionamento do intestino, que, por sua vez, contribui para um bom sistema
imunológico; e o cacau, que pode ser consumido em forma de pó ou em tabletes de
chocolate amargo – a quantidade apropriada, neste último caso, é de 25 gramas
por dia.

 Cuidados extras

 O Conselho Federal de Nutricionistas (CFN)
alerta que, no período de isolamento social, é necessário ter cautela e duvidar
de dietas milagrosas, que prometem maravilhas na prevenção contra o coronavírus
ou no aumento da imunidade.
 “Alimentos, superalimentos, shots, sucos
e até soroterapias por infusão endovenosa de nutrientes (vitaminas, minerais,
aminoácidos, antioxidantes e outros nutrientes e compostos) estão sendo
alardeadas como capazes de prevenir ou combater o coronavírus por meio do
fortalecimento do sistema imunológico. Entretanto, o CFN informa que não
existem protocolos técnicos nem evidências científicas que sustentem alegações
milagrosas”, diz o conselho, em nota.
 “Certamente, uma alimentação rica em
micronutrientes (minerais e vitaminas) associada a substâncias bioativas (não
nutrientes) presentes em alimentos que possuem atividade de redução do risco de
doenças, se utilizados de forma habitual, podem condicionar um sistema
imunológico mais eficiente, com menor risco de doenças”, destaca o texto.
Foto:  Valter
Campanato