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Em meio a prédios de cores pálidas, o edifício Humberto Gobbi se transformou num respiro de arte e beleza na paisagem da selva urbana no centro de Vitória.

O imóvel, agora, ostenta, em suas fachadas, dois imensos paineis, medindo 70 metros de altura, e se tornando a maior pintura mural vertical do Espírito Santo. A obra destaca as belezas naturais do Estado, seus pontos turísticos e símbolos do que se significa ser capixaba.

O painel, intitulado “Espírito Santo, Terra de Encantos” é de autoria dos designers e artistas Paulo Caldas, Alex Furtado e Pedro Feijó. Da fachada branca do edifício, imagens do Convento da Penha e da Terceira Ponte, da Pedra Azul, da paneleira preparando uma moqueca foram surgindo, tornando, de vez, o prédio um ponto de referência visual no horizonte da cidade. A beleza das figuras é um convite irresistível para uma selfie no celular.

A obra será finalizada até a próxima sexta-feira (11), com o desmonte da plataforma elevatória. Essa iniciativa é resultado do edital realizado pela Secretaria de Estado de Turismo (Setur) e lançado em dezembro de 2021.

A vencedora do processo foi a empresa de design Locomotipo. Desafiando o medo de altura, o sol na cabeça, ventos fortes e uma chuvinha que aparecia volta e meia, o grupo começou a execução da pintura no local em agosto e, desde então, foi chamando a atenção de motoristas e pedestres que circulam nas avenidas Moacir Avidos e Getúlio Vargas.

“As pessoas já incorporaram no seu dia-a-dia darem uma pausa rápida em frente ao prédio, contemplar a pintura, fotografar, fazer uma selfie. A obra passa a ser apropriada pela cidade e isso dá uma grande satisfação para nós porque o que fizemos encontrou respaldo e o carinho que foi além dos moradores do Humberto Gobbi”, comemora Furtado.

Ele explica que, pela posição privilegiada e altura do prédio, a “imensa tela” de 1600 m² pode ser vista até por quem está chegando à capital pela Segunda Ponte vindo de Vila Velha e Cariacica.

O alcance chega também a quem está do outro lado da baía, em Paul e Capuaba, em Vila Velha. Moradores do Morro dos Alagoanos, bairro que fica na direção de Santo Antônio, em Vitória, também conseguem vislumbrar o painel.

Além dos designers, a execução do projeto foi feito por outros quatro profissionais. Eles utilizaram mais de 300 litros de tinta, feita para área externa com secagem em 15 minutos. Os desenhos receberam mais de 40 cores. Os artistas trabalharam numa plataforma móvel que se elevava por meio de cremalheiras. O aparelho foi fundamental para que o trabalho fosse feito com total segurança, garantindo estabilidade, numa situação delicada por causa dos ventos.

A equipe, antes de assumir os pinceis, fez curso de trabalho em grandes alturas. Mas, dar uma de alpinista foi o menor dos problemas.

“O que foi desafiador foi o sol. A altura, depois de um tempo, a gente se acostumou. Mas o calor, as altas temperaturas, enquanto a gente pintava ao ar livre, vão ficar na memória”, destaca.

A técnica utilizada foi a de doodle grid, que é a confecção do desenho numa parede ou fachada a partir de uma área ocupada por rabiscos aleatórios. Os artistas delimitavam onde iriam desenhar, rabiscando traços e símbolos. A partir desses traços, fotogravam a área com drone e o computador entrava em cena.

“No computador, a gente sobrepunha o desenho escolhido nesse espaço dos rabiscos. Assim, era possível sabermos a proporção exata do tamanho da figura e também servia de guia para o encontro das linhas e contornos de outros desenhos”, explicou Caldas.

Definir quais figuras, em estilo figurativo semirealista, que iriam compor foi outra etapa de muita discussão.

 “A gente queria expressar o orgulho de ser capixaba por meio de itens que já estão no imaginário das pessoas como o Convento da Penha, a moqueca, os beija-flores e produção de uvas de Santa Teresa, a moça do congo, mas acrescentamos referências recentes como a baleia jubarte (que atrai gente para fazer passeio de observação dela em alto-mar), a estátua do Buda do Mosteiro Zen de Ibiraçu e o praticante de voo livre de Castelo”, compara Furtado.

“Com cultura e arte você melhora tudo”, diz síndico do prédio

O síndico do Edifício Humberto Gobbi, Luiz Caldas, 66 anos, comentou que o painel foi um grande presente para o imóvel e também para toda a cidade de Vitória. “Tudo que agrega arte e cultura é positivo para a região, e o gigantesco painel melhorou muito o Centro, que antes aparentava estar abandonado”, elogiou.

Administrando um prédio de dois blocos, de 22 andares e com 88 apartamentos, ele disse que o projeto começou a partir de muitas reuniões e diálogos com os cerca de 600 moradores.

“A gente ficou empolgado com a questão de usarmos o nosso espaço para destacar e enfatizar o orgulho de ser da terra, de ser capixaba. Todo mundo concordou e estamos muito felizes com o talento desses artistas”, acrescenta.

Na opinião do síndico, que vive ali há 38 anos, O prédio, já cinquentão, tomou “um banho de loja de arte e cultura” e faz bonito agora na paisagem da Ilha.

Fonte: Folha Vitória