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Foto: Leandro de Santana/DP

“É só levar. O meu desejo é lhe proteger. Boa sorte!”. A professora aposentada Tereza Cunha, 67 anos, escreve o recado com caneta hidrocor em pequenos pedaços de papel dezenas de vezes por dia. Depois, distribui os bilhetes em saquinhos plásticos contendo, cada um, uma máscara em algodão. Desde o início da pandemia do novo coronavírus, Tereza tem usado seu tempo livre para confeccionar máscaras coloridas em uma máquina de costura guardada em casa. Prontas, as embalagens são expostas em um varal amarrado a duas árvores, em frente à casa da professora, na Rua Leão Diniz, em Candeias, Jaboatão dos Guararapes. Quem quiser, pode pegar e levar para casa. Assim, Tereza acredita proteger um maior número possível de pessoas e ao mesmo tempo se proteger.
A professora nem acha que está fazendo algo relevante para as pessoas em meio à pandemia. Gostaria mesmo é de participar de uma ação maior, como confeccionar batas e doar a profissionais de saúde, como andou vendo em uma matéria veiculada na televisão. Desde o início do isolamento social, ela tem tomado precauções extras para manter a saúde. Isso implica em ainda mais higiene com os calçados, as roupas e o dinheiro em papel que circula na casa. Nem com os cachorros ela passeia mais, por medo de contaminação.
Todo dia, Tereza produz cerca de dez máscaras para doação. Depois de expostas, logo acabam. Diante da ação solidária, houve quem batesse à porta da professora para perguntar o valor do produto. Um dia, depois de tanto responder à mesma pergunta, ela decidiu escrever em uma base em formato de coração mais um recado, desta vez com os dizeres: “É grátis, pode levar.”
Tereza conta que tinha muitos retalhos de tecido de algodão em casa, além de um carretel de elástico. “Para mim, essa ação tem mão dupla. Se faço isso, estou protegendo as pessoas e também me protegendo. É uma estupidez achar que o bem é só para o outro. É para mim também. Na minha rua não há casos, mas aqui perto já há pessoas doentes, como eu vi no aplicativo do governo. Eu mesma não saio nem por decreto federal”, brinca.
Magno Santos da Silva, 29, trabalha com entrega de água. Ao longo da semana, costuma trabalhar na região onde Tereza mora. Nesta sexta-feira (24), pela primeira vez, decidiu pegar uma máscara. Pegou a doação e entregou a um amigo, que também trabalha com ele. “Eu não acho que atrapalha a gente, mas também não acho que impede de pegar a doença. Eu mesmo uso a minha porque sou obrigado, quando entro em condomínio.” Magno comprou a própria máscara por R$ 5.
Tem um detalhe na doação promovida pela professora. E ele fala muito de cuidado e atenção com o outro. Mesmo que o outro seja alguém desconhecido. Antes de embalar, ela lava e engoma as máscaras. Ou seja,  produto é disponibilizado pronto para ser pego e usado. Também costuma costurar nelas detalhes, como corações ou flores. Apesar do capricho na doação, Tereza não se considera uma costureira. Diz que sempre ajudou a mãe no serviço, mas nunca dominou bem a tal arte. Costuma pegar pequenas encomendas ou fazer algo para os parentes próximos. Acontece que a pandemia deu à costura de Tereza um novo significado. E ele parece ser ainda mais bonito que antes.