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Nesses tempos
difíceis, a capacidade de adaptação, com avanços e recuos, estará
presente no cotidiano de governos, de empresas e até de indivíduos,
aponta Lídia Abdalla
 A pandemia
da covid-19 impõe um exercício diário de resiliência, acredita a bioquímica e
empresária Lídia Abdalla, presidente do grupo Sabin. “Aprendemos com o novo
coronavírus que situações imprevisíveis e adversas podem chegar de forma muito
rápida. A lição que fica é estarmos sempre atentos a mudanças repentinas em
diversos cenários e estarmos preparados da melhor forma para lidar com elas”,
afirma Abdalla nesta entrevista ao Correio.
 Nesses
tempos difíceis, a capacidade de adaptação, com avanços e recuos, estará
presente no cotidiano de governos, de empresas e até de indivíduos. “Teremos
que nos preparar para várias reaberturas e, talvez, alguns retornos ao
isolamento de forma a preservar o sistema de saúde e a vida das pessoas”,
estima Lídia. Ela acredita que, em um cenário pós-pandemia, a forma de se
relacionar com as pessoas, com o trabalho e com o mundo nunca mais será a mesma.
Entre as mudanças econômicas, ela prevê um aprofudamento do teletrabalho, do
trabalho coletivo, da educação a distância e de uma nova visão de
sustentabilidade.
 Mas é nas relações interpessoais que Lídia
Abdalla vê lições importantes da covid. “A crise do coronavírus vai deixar
lições positivas para os brasileiros. A principal delas será que precisamos
cuidar uns dos outros para sobreviver a cenários como este. O coletivo nunca
foi tão importante”, afirma a executiva. Leia, a seguir, os principais trechos
da entrevista.


  Como será o mundo pós-covid na área da saúde?

 
 Este é um momento de muitas mudanças,
reflexão e desafios. Temos apostado na colaboração como uma forma de enfrentar
a crise, e penso que o sentimento de coletividade irá perdurar após o
coronavírus. Iremos nos fortalecer dentro das empresas com gestões mais
colaborativas e com uma preocupação maior com o cliente e o com os
colaboradores. Na saúde, a telemedicina também será uma importante aliada, mas
o cuidado e a atenção ao paciente continuarão importantes diferenciais. O olho
no olho não será substituído. Como a saúde se mostrou nosso maior bem durante a
pandemia, acreditamos que, no pós-covid, a sociedade estará mais preocupada com
o bem-estar e com a saúde física e mental. Com isso, a medicina preventiva e
preditiva estarão mais forte no acompanhamento médico.

 

 E nas empresas?

 Após a crise gerada pela necessidade de
isolamento social, as empresas terão de rever prioridades. A pandemia antecipou
mudanças que já estavam em curso, como o trabalho remoto, uso de
videoconferência e ferramentas de trabalho colaborativo, a educação a
distância, novas parcerias para a sustentabilidade e a exigência, por parte da
sociedade, para que as empresas se preocupem com a responsabilidade social. A
solidariedade também acentuada neste momento irá seguir. As corporações que não
vinham trabalhando essas mudanças antes correrão sérios riscos de sobrevivência
no mundo pós-covid.

 Cresce a expectativa de que viveremos uma
espécie de efeito sanfona, com avanços e recuos em relação ao isolamento. Como
avalia essa inconstância?

 Tudo nesta pandemia é muito novo.
Enquanto não temos vacina ou medicamentos comprovadamente eficazes para tratar
a doença, a melhor forma de prevenir é o distanciamento social. Nosso país é
muito grande e com diferenças sociais e demográficas relevantes. Cada região
está em uma fase diferente da pandemia, o que vai exigir ações e medidas
regionais. Não temos como prever como será a reabertura. Teremos que nos
preparar para várias reaberturas e, talvez, para alguns retornos ao isolamento,
de forma a preservar o sistema de saúde e a vida das pessoas. Aprendemos com o
novo coronavírus que situações imprevisíveis e adversas podem chegar de forma
muito rápida. A lição que fica é estarmos sempre atentos a mudanças repentinas
em diversos cenários e estarmos preparados da melhor forma para lidar com elas.

 Como as empresas, os gestores públicos e a
sociedade devem se portar diante desse cenário de “abre e fecha”?


 
A resiliência, união e a inovação serão as chaves para ultrapassarmos todas as
dificuldades que a pandemia irá trazer. Dentro das empresas, o papel dos
colaboradores é essencial, da liderança a quem está atuando diretamente com o
cliente no dia a dia. As empresas precisam estar atentas à saúde física e
mental do colaborador. Este é o momento dos líderes passarem para as equipes
empatia, segurança e humildade por este ser um momento em que não temos nenhuma
certeza, mas que estamos juntos nesse desafio. É essencial, também, ter um
excelente canal de comunicação com todos os stakeholders da empresa para
mostrar transparência durante esse período de crise e para que todos possam
pensar em soluções juntos. Dentro da sociedade será necessário colocar o bem
coletivo antes do bem individual. O autocuidado como forma de proteger o outro,
não só a si mesmo. Todos estamos passando por diferentes dificuldades nesse
momento. Acho que a colaboração é essencial. Só vamos conseguir nos reerguer se
estivermos juntos.

 Como o enfoque na saúde pode facilitar o
retorno das atividades econômicas?


 A saúde é o maior bem de uma pessoa. A
pandemia difere-se das últimas crises enfrentadas pela humanidade porque é uma
crise de saúde que está trazendo profundas consequências econômicas. É preciso
ter muita serenidade para tomar decisões que promovam a saúde física, emocional
e financeira da população. Porque é uma situação muito nova para todos nós,
acreditamos que as decisões precisam ser tomadas a curto prazo. O cenário ainda
está em construção. A situação muda a cada momento. Ao mesmo tempo, precisamos
ter um plano estratégico para a retomada da economia preservando empregos e as
empresas. 


 A ampliação de testes e diagnóstico influencia
nessa abertura gradativa?


 A recomendação da Organização Mundial de
Saúde (OMS) é testar a maior quantidade possível de pessoas. A testagem
contribui para dois pilares: a saúde individual e a saúde coletiva para que
possamos apoiar o diagnóstico da doença e seu adequado tratamento, bem como a
adoção de medidas e políticas públicas para proteger e cuidar da saúde da
população. Os dados que temos, hoje, da prevalência da doença acabam nos
revelando mais sobre a capacidade de testagem do que da real disseminação do
vírus.

 É possível fazer uma testagem em massa?

 Os insumos disponíveis não viabilizam os
testes em toda a população. Por isso, os recursos devem ser racionalizados e
utilizados de forma estratégica, priorizando os pacientes sintomáticos ou
contactantes a partir de uma avaliação médica. Temos trabalhado incansavelmente
no setor privado e no setor público para atender à demanda de exames.
Atendemos, também, ao chamado de parceria da Secretaria de Saúde do Distrito
Federal para processar os exames de RT-PCR para detecção do novo coronavírus
para o GDF, ampliando a capacidade de testagem da doença. A previsão é a
realização de 20 mil exames ao longo de 180 dias, contribuindo com o
Laboratório Central (Lacen) no atendimento à demanda para suporte ao
diagnóstico da doença na rede pública local.

 O mundo sentiu a concentração chinesa na
produção de insumos. Vê alguma mudança nesse cenário após a pandemia?


 Acredito que haverá uma descentralização
da produção de insumos em países específicos. Penso que muitos empreendedores
em todo o mundo vão perceber essa situação como uma oportunidade para começar a
produzir insumos que antes não eram desenvolvidos em seus próprios países. Pode
ser que essa necessidade acabe estimulando a busca pela produção local de novos
tipos de materiais, ferramentas e tecnologias, ou seja, novas cadeias
produtivas que podem gerar, também, muitos empregos no país.

 O Brasil pode tirar experiências positivas da
covid?

 A crise do coronavírus vai deixar lições
positivas para os brasileiros. A principal delas será que precisamos cuidar uns
dos outros para sobreviver a cenários como este. O coletivo nunca foi tão
importante. Estamos entendendo que a saúde é um bem essencial para todos. Cada
um deve fazer o seu papel buscando um olhar mais coletivo e menos individual.
Cooperação e parceria são palavras-chaves.



 Como lidar melhor com um inimigo invisível?


 Aprendemos com o novo coronavírus que
situações imprevisíveis e adversas podem chegar de forma muito rápida. A lição
que fica é estarmos sempre atentos a mudanças repentinas em diversos cenários e
estarmos preparados da melhor forma para lidar com elas.
Foto: Divulgação