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Bolsonaro em frente ao Palácio da
AlvoradaBolsonaro em frente ao Palácio da Alvorada Foto: Reprodução
Daniel Gullino
BRASÍLIA — Após minimizar
diversas vezes os riscos do novo coronavírus, o presidente Jair Bolsonaro
afirmou que a responsabilidade das mortes registradas até aqui é dos
governadores, e não dele. A declaração foi feita um dia após Bolsonaro
responder “e daí?” e perguntar o que ele podia fazer, depois de ser
questionado sobre novo recorde de mortes pela Covid-19 no país, que já passam
de 5 mil.
Bolsonaro argumentou que, como
decidiu o Supremo Tribunal Federal (STF), governadores e prefeitos têm
autonomia para decidirem sobre medidas restritivas no combate ao coronavírus e,
por isso, eles precisam explicar por que as mortes continuaram mesmo após essas
medidas serem tomadas.
— Questão de mortes, a gente
lamenta as mortes profundamente. Sabia que ia acontecer. Agora, quem tomou
todas as medidas restritivas foram governadores e prefeitos — disse Bolsonaro,
acrescentado depois: — Essa conta tem que ser perguntada para os governadores.
Perguntem ao senhor João Doria, ao senhor (Bruno) Covas, de o porquê terem tomado
medidas tão restritivas e continua morrendo gente. Eles têm que responder.
Vocês não vão colocar no meu colo essa conta.
Questionado se não tinha nenhuma
responsabilidade sobre as mortes, o presidente respondeu:
— A pergunta é tão idiota que eu
não vou responder.
Bolsonaro voltou a criticar a
imprensa pela cobertura da pandemia. Ele disse que não aceita que seja
atribuída a ele a culpa pelas mortes que ocorrem no país.
— Não adianta a imprensa querer
botar na minha conta essas questões que não cabem a mim. Não adianta Folha de
São Paulo, O Globo aí que fez uma manchete mentirosa, né, tendenciosa, querer
colocar a culpa em mim.
— O senhor não falou aquilo
ontem? — indagou um repórter.
— Você não botou o complemento.
Você não botou o complemento. Vocês não têm moral. A Globo não tem moral, tá
certo? Não tem moral. Botou só o ‘e daí’. Você é um mentiroso. A Globo é
mentirosa.
Ao ser perguntado qual
complemento estava faltando, o presidente respondeu e fez novos ataques a
GLOBO:
— Complemento que eu lamento. Tá
lá, eu falei. Mesmo fazendo entrevista, eu perguntei, tinha pelo menos duas TVs
ao vivo, mesmo ao vivo…
O GLOBO, em reportagem publicada
no site na terça-feira à noite e no jornal impresso desta quarta-feira,
registrou o primeiro comentário de Bolsonaro: “E daí? Lamento”. E, também, sua
frase ao final da entrevista, depois de saber que havia transmissão ao vivo, se
solidarizando com a família das vítimas.
Na terça-feira à noite, ao ser
perguntado sobre as mortes, a primeira reação do presidente foi:
— E daí? Lamento. Quer que eu
faça o quê? Eu sou Messias, mas não faço milagre — complementou, se referindo a
um dos seus sobrenomes.
Ao final da entrevista, Bolsonaro
perguntou: “Alguém está ao vivo por acaso? Todo mundo?” E, em seguida, afirmou:
— A gente lamenta a situação que
nós atravessamos com o vírus. Nos solidarizamos com as famílias que perderam
seus entes queridos. Grande parte eram pessoas idosas, mas é a vida. Amanhã vou
eu. Logicamente, a gente quer ter uma morte digna e deixar uma boa história
para trás.
Bolsonaro já minimizou diversas
vezes os riscos do coronavírus. No início de março, por exemplo, disse que a
doença era “muito mais fantasia”. Dias depois, afirmou que a Covid-19
não iria matar mais de 800 pessoas no Brasil e que “brevemente” a
população iria saber que foi enganada por governadores e pela imprensa. No
início de abril, afirmou que o vírus “não é tudo isso que estão
pintando”. Depois, no último dia 12, disse que “parece que o vírus
começa a ir embora”, mas os casos continuaram crescendo.
O Ministério da Saúde confirmou
nesta terça-feira o registro de 5.017 óbitos por coronavírus. Com isso, o país
passou a China no número de mortes pela Covid-19 – até agora, a nação asiática
registrou 4.637 vítimas fatais, segundo o Centro Europeu de Prevenção e
Controle das Doenças (UE).