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Em audiência na Câmara, Castello Branco nega desmonte da empresa

 O presidente da Petrobras, Roberto Castello
Branco, declarou nesta terça-feira (8) que a venda de ativos da estatal
petrolífera não representa o “desmonte” da empresa, conforme críticos da
decisão apontam. Segundo o executivo, o “processo de desinvestimento” visa
fortalecer a estatal, concentrando os recursos humanos e financeiros de que a
empresa dispõe em atividades mais rentáveis e sustentáveis a longo prazo.
 Em audiência pública da Comissão de Minas e
Energia da Câmara dos Deputados, Castello Branco confirmou que parte dos ativos
da Petrobras no Nordeste estão à venda, como refinarias e prédios – entre eles,
o edifício conhecido como Torre Pituba, um prédio de 22 andares erguido em
Salvador, em 2010, por R$ 2.087 bilhões. Parte deste dinheiro saiu do fundo de
pensão dos funcionários da empresa, o Petros.
 Já iniciado, o processo de desocupação da
Torre Pituba preocupa os cerca de 4 mil trabalhadores diretos e indiretos da
Petrobras na Bahia. Segundo o Sindicato dos Petroleiros da Bahia (Sindipetro-BA),
“a possibilidade cada vez mais real da saída da Petrobras do estado” ameaça com
a demissão milhares de trabalhadores concursados e terceirizados.

 Racionalizar

 Já Castello Branco sustenta que as alegações
de que a Petrobras vai deixar o Nordeste são “uma narrativa distorcida da
realidade”. Embora confirme os planos de “racionalizar o uso de espaços”
físicos, reduzindo o número de prédios ocupados em todo o país e no exterior, e
vendendo alguns poços e refinarias, não há risco de demissão de funcionários,
com exceção daqueles que aderirem ao programa de desligamento voluntário.
 “Gostaria de deixar claro que não há nenhum
desmonte, nenhum fechamento da Petrobras no Nordeste, onde vamos continuar
buscando a exploração em águas profundas”, disse o presidente da estatal,
destacando que a venda de ativos pode fomentar o surgimento de novas empresas
que, seguramente, absorverão mão-de-obra.
 “No processo de desinvestimento, estamos
ajudando na criação de novas indústrias, no nascimento de uma indústria do Petróleo
de pequenos e médios produtores”, afirmou Castello Branco, garantindo que
vários investidores nacionais têm demonstrado interesses nos bens da Petrobras
e que o “processo de gestão de portfólio” da empresa segue uma “rigorosa
política de seleção de potenciais compradores, além de cuidado com os
colaboradores”.
 “Quem comprar uma refinaria no Brasil
certamente não vai chegar e demitir todo mundo. Não vai trazer marcianos para
operá-la, pois quem sabe operar refinaria no Brasil são os funcionários da Petrobras”,
disse Castello Branco.
 De acordo com o executivo, a decisão de se
desfazer de parte dos ativos no Nordeste está baseada na avaliação de que, para
a Petrobras, parte dos negócios na região se tornaram “irrelevantes”. Durante a
audiência pública de hoje, Castello Branco chegou a dizer que “a natureza
trabalhou contra a Petrobras no que diz respeito aos campos terrestres em águas
rasas”, apontados como de menor produtividade e custos mais altos.
 “Na Bahia, que já foi muito importante para a
Petrobras, temos, hoje, 2.980 poços produtores, nos quais produzimos 27 mil
barris de petróleo por dia e 3 milhões de metros cúbicos de gás natural. Isto
representa respectivamente, 1% e 1,5% de toda a produção de petróleo e de
petróleo e gás da empresa”, detalhou Castello Branco. “Lamentavelmente, nossa
produção na Bahia ficou irrelevante. 
 E em outros estados do Nordeste também. O
Ceará, por exemplo, é responsável por 0,2% da nossa produção total de petróleo.
O Rio Grande do Norte, por 2%. Alagoas, por 0,4%, e Sergipe por 1%”,
acrescentou o presidente da Petrobras.

 Concorrência externa

 Após afirmar que o auge da crise financeira
enfrentada pela Petrobras já passou (“mas ainda há muito o que fazer”) e que os
funcionários da empresa recuperaram a autoestima, Castello Branco disse que,
sob sua gestão, a estatal petrolífera vai priorizar a redução dos custos e a
segurança das operações.    Segundo ele,
a dívida de US$ 101 bilhões e o montante gasto com o pagamento de juros das
dívidas mantém a Petrobras na condição de uma “empresa fragilizada”.
 No entanto, segundo Castello Branco, sua maior
preocupação é com as transformações que ocorrem fora da indústria do petróleo.
“A interdependência entre negócios se ampliou formidavelmente. Hoje, nossa
maior preocupação não é com nossos concorrentes [diretos], mas sim com o que
ocorre fora da indústria do petróleo. É com as inovações tecnológicas como, por
exemplo, a eletrificação da frota de veículos, que tende a roubar demanda por
petróleo”, citou o executivo, mencionando os prognósticos de que mudanças
comportamentais e a preocupação com o meio ambiente freiem o consumo mundial de
petróleo. Razão pela qual ele acredita que o Brasil deve acelerar a exploração
do pré-Sal.
 “A estimativa é que o consumo global de
petróleo tende a crescer cada vez mais lentamente, ou até mesmo a se estagnar
ou se reduzir. O que nos resta, portanto, é concentrar recursos humanos,
tecnológicos e financeiros para aproveitar nossas riquezas naturais, aproveitar
o pré-Sal. Temos que aproveitar esta oportunidade já”, acrescentou Castello
Branco.
Fonte:  Agencia Brasil
Foto:  Fabio Rodrigues