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Treinador tentou manter a discrição, depois da goleada contra o Vélez, na Argentina. Direção do Flamengo entusiasmada. Quer antecipar a renovação de contrato do substituto de Paulo Sousa

São Paulo, Brasil

Entre luvas e salários, Paulo Sousa ganhava R$ 1,2 milhão.

Disse que ‘queria ser feliz’.

Não foi. Acabou demitido sumariamente, depois de 32 partidas.

Ele não conseguiu encontrar um sistema tático para o elenco. Buscou inúmeras soluções, improvisando jogadores fora de posição, e que fracassaram de forma irreversível.

A expectativa era que a direção do clube iria de novo para a Europa, atrás de novo treinador.

Foi À Fortaleza.

E contratou o treinador do Ceará, Dorival Júnior.

Ganhando pouco mais de um terço que Paulo Sousa, R$ 450 mil.

E com contrato ‘de risco’, só até dezembro.

Com um trabalho intenso, mas simples, ele teve o grande mérito de recolocar os jogadores do Flamengo onde gostam de atuar.

Com a revolucionária visão de que sim, Gabigol e Pedro poderiam jogar juntos. Desde que Gabigol recuasse, atuasse como mais um meia mais adiantado, com Pedro ocupando o lugar de centroavante.

Intensificou o trabalho físico.

Conseguiu fazer com que o elenco milionário redescobrisse a alegria de jogar. A confiança. E a vontade não só de vencer, mas de se impor, golear.

Em apenas 24 partidas, ele revolucionou o Flamengo.

Com 18 vitórias, dois empates e quatro derrotas, utilizando reservas sem constrangimento, em jogos que precisava poupar os titulares, chegou a um aproventamento de 77%. Sob seu comando, o time marcou 51 gols e tomou 14.

Pedro e Gabigol finalmente puderam jogar juntos. Graças a Dorival Júnior

É semifinalista com larga vantagem na Libertadores, depois da goleada de ontem por 4 a 0 diante do Vélez, em plena Buenos Aires. E também na Copa do Brasil, depois de vencer o São Paulo, no Morumbi, por 3 a 1.

No Brasileiro, fez o time saltar da 14ª posição para o segundo lugar, a sete pontos do Palmeiras.

Nas últimas 15 partidas, o Flamengo venceu 13 e empatou duas.

A direção do clube está entusiasmada com o trabalho.

Principalmente o vice de futebol, Marcos Braz, que teve seu prestígio abalado, por contratar Paulo Sousa e não conseguir negociar a volta de Jorge Jesus.

O técnico estava alegre, mas muito contido na coletiva, após a goleada diante do Vélez.

Sabe que tem a enorme possibilidade de chegar a duas decisões.

“Na Copa do Brasil falta uma partida para chegar na final, assim como na Libertadores. Vamos respeitar os dois jogos, trabalhar no máximo, nada está definido.”

“Vocês (jornalistas) sabem bem o que representa uma possibilidade de recuperação. Ninguém chega por acaso numa semifinal, chega por capacidade.”

“Temos que ter todo o cuidado possível. Todo cuidado é pouco, tem que existir respeito em todos os sentidos”, dizia, prudente, evitando o tradicional relaxamento depois de importantes vitórias em primeiros jogos eliminatórios.

E para delírio da diretoria flamenguista, disposta a compensar 2021, um ano sem conquistas nacionais ou internacionais. Apenas o Carioca e a Supercopa do Brasil, Dorival tratou de avisar que também quer o Brasileiro.

“Estamos fazendo um Brasileiro de recuperação. Chegamos na 14ª colocação. É um processo, hoje estamos na vice-liderança, tentando nos aproximar do Palmeiras. Não vamos abrir mão desse objetivo”, garantia, ambicioso, como gosta o presidente Rodolfo Landim.

A campanha do Flamengo está tão fulminante, que a grande maioria da diretoria quer a renovação antecipada de contrato de Dorival Júnior.

O vice Marcos Braz disfarça, diz que não é hora de tratar do assunto.

Mas a cúpula rubro-negra está entusiasmada com o trabalho.

Dorival Júnior também disfarça.

Mas sabe.

Aos 60 anos, sua carreira renasceu.

Ele viveu o auge em 2010 no Santos, com a conquista da Copa do Brasil.

Seu trabalho foi interrompido por uma briga com Neymar.

O técnico cometeu o ‘pecado’ de não o deixar cobrar um pênalti contra o Atlético Goianiense.

Dorival e Neymar. Chilique do atacante acabou na demissão do treinador, apesar do excelente trabalho

Só agora, 12 anos e 12 trocas de clubes depois, e vencer um câncer na próstrata, Dorival Júnior tem o reconhecimento que sonhava, quando fez a aposta mais improvável.

Largar o trabalho que estava dando muito certo no Ceará e retornar ao Flamengo, clube que processou para receber R$ 13,1 milhões que o clube carioca lhe devia.

Deu muito certo até agora.

Com toda a possibilidade de decidir a Libertadores e a Copa do Brasil. E ainda lutar, de verdade, pelo título no Brasileiro.

Realidade inimaginável quando assumiu o time, no dia 10 de junho, para tentar deixar menos frustrante a temporada, que o Flamengo apostou tudo em Paulo Sousa.

Com muito trabalho, competência e simplicidade, Dorival Júnior roubou a cena.

E está para chegar onde nunca se aproximou em toda sua longa carreira…

 

Fonte: R7

Foto: Divulgação