Entusiasmado, o aposentado Isaías Romão, de 71 anos, planejou utilizar o dinheiro ‘esquecido’ localizado no Sistema de Valores a Receber (SVR), do Banco Central, para reformar a casa. Mas quando teve acesso ao saldo, descobriu haver apenas R$ 0,51. “Foi decepcionante”, relatou. Ele não está sozinho.
A possibilidade de resgatar recursos inesperados, em meio à crise financeira, gerou expectativa para milhões de brasileiros. No entanto, os relatos são de transtornos para ter conhecimento sobre a quantia, além da frustração daqueles que se deparam com apenas centavos após concretizar todo o processo exigido.
Falta clareza e praticidade
A estimativa é que haja R$ 8 bilhões esquecidos, a serem liberados em duas fases, nos meses de fevereiro e maio deste ano. Quem localizou algum dinheiro na primeira etapa, já pôde solicitá-lo nesta segunda-feira (7), mas sem saber ainda quanto havia por lá.
A consulta do saldo está atrelada a um cadastramento no site do Governo Federal. Após esta etapa, deve-se fazer uma progressão do selo estabelecido (bronze, prata e ouro) pelo Ministério da Economia. Quanto maior o nível, mais informações sensíveis são solicitadas.
Consequentemente, o serviço de resgate é liberado. O questionamento dos consumidores é: por que o saldo não é disponibilizado durante a primeiro consulta? Segundo o Banco Central (BC), é por “uma questão de segurança”.
A instituição financeira informou ser utilizada apenas a validação do “gov.br” (login e senha) para identificar o cidadão “com toda segurança para permitir seu acesso ao SVR”. O BC não disse, contudo, quantas pessoas localizaram cifras abaixo de R$ 50 sob a justificativa do sigilo da informação.
“Mesmo sendo baixo o valor, o recurso pertence ao beneficiário. É direto dele resgatar”, disse, por e-mail. Em nota, o Ministério da Economia afirmou que os níveis da conta são exigências importantes para que se possa ter certeza da identidade da pessoa.
Segundo a pasta, nem a plataforma GOV.BR tem acesso a dados bancários do cidadão, nem o banco acessado recebe informações das pessoas que constam nos órgãos do governo federal no momento da autenticação.
“A integração das sete instituições financeiras ao GOV.BR serve para qualificar a conta do cidadão a partir da conferência de dados já existentes em ambas as partes, aumentando a segurança. Trata-se de uma uma proteção ao cidadão”, informou. O Ministério não comentou sobre os valores disponíveis nas contas.
Transtorno e decepção
O advogado Hiago Marques, de 24 anos, neto do Isaías, citado no início desta reportagem, conta ter realizado a consulta na semana passada. Nesta terça (8), descobriu a quantia “frustrante”.
“Eu auxiliei meu avô para fazer o cadastro. O processo envolve o reconhecimento facial, por exemplo, o que gera um certo desgaste e cansaço para quem não usa muito bem tecnologia, como ele. Depois de tudo isso, descobri ter só R$ 0,51”, lembrou.
“Quando meu avô soube, ficou decepcionado. Ele acreditou que pudesse fazer algo com esse dinheiro”, relatou. As moedas ‘esquecidas’ eram referentes a um consórcio antigo.
Mas o Sr. Isaías esperava a liberação de algum recurso retido do período em que trabalhou na Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos.
“Foi decepcionante. Estava pensando já em reformar a casa, mas é isso. Teria sido uma felicidade. Espero os que encontrarem algo consigam fazer bom proveito”, riu-se.
Exigências impedem idoso descobrir o saldo
O aposentador Moacir Araújo, de 67 anos, realizou a pesquisa para a mãe de 87 anos, mas nem sequer conseguiu descobrir o saldo.
“Ela tem idade avançada e não possui carteira de motorista, conta em banco…Fica difícil saber o valor já que criaram um sistema que não informa quanto tem”, lamenta.
“Eles colocam muita dificuldade para depois encontrarmos uma quantia irrisória. É um absurdo, é fazer o povo de besta. Não entendo por qual motivo não facilitam a vida do povo”, diz, acrescentado ter desistido do processo digital.