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Diz um velho samba de enredo, que  o “samba na 14 é de janeiro a janeiro”. O compositor não exagerou. De fato, no simpático bairro da zona Sul de Manaus, a vida transcorre exatamente assim, principalmente quando se trata de samba de raiz, feito por velhos  músicos e batuqueiros que estão na história da fundação do G.R.E.S Vitória Régia, a mais antiga escola de samba de Manaus. Parte dessa história, os amantes do bom copo e da boa  música podem conferir no quintal “Couro Velho”, que funciona na rua Dr. Machado, bairro Praça 14 de Janeiro, a partir das 20h, todas as sextas-feiras.

É neste endereço que velhos mestres como Kiroga, Bolão, Jones, Zé Roberto, Paulo Darci, Biju Camurça, Berreda, Rã, Neuton, Haroldo, Juarez, Tonho, Teixeira e Elisângila Andilon começaram a reescrever essa história em 2004.   É claro que esses senhores de cabelos brancos não vivem só da música, alguns são funcionários públicos, comerciantes, mecânicos e profissionais liberais. No entanto, é na roda de samba que eles matam a saudade dos velhos tempos em que eram ritmistas da verde e rosa.

— Estamos unidos pelo amor ao samba. Pelo amor à Vitória Régia e à boa música – define Kiroga, um dos líderes do “Couro Velho”,

Bom pra eles e bom para os clientes do  Quintal, que saboreando um deliciosa cerveja e beliscando um “espetinho de gato”  podem reviver compositores imortais resgatados pelo grupo, como Cartola, Silas de Oliveira, Nelson do Cavaquinho, Dona Ivone Lara, Nelson Sargento, Fundo de Quinta, Leci Brandão, Arlindo Cruz e nosso Chico da Silva, nomes que não podem faltar em nenhuma roda de samba que se preze.

Nas rodas de samba do “Couro Velho”, os músicos  utilizam apenas instrumentos que faziam parte das apresentações das escolas de samba  do início do século passado, violão, tamborim, pandeiro, cavaquinho,  reco-reco e agogô. É claro que também não poderiam faltar na roda o surdo e a cuíca. São instrumentos tradicionais de uma roda de samba. Já o banjo, tantan e repique de mão, por exemplo, foram inseridos no samba no final da década de 1980, que também foi absorvido pela Vitória Régia e hoje são destaques no “Couro Velho”.  Como nos velhos tempos, a  cantoria também é no gogó e no coro dos participantes, assim como era primórdios do samba.

Kiroga lembra que tudo começou quase como uma brincadeira, um reencontro de velhos amigos, que “foi tomando forma e  acabou virando um lufar aprazível que vem atraindo gente que gosta de samba”.

— Mas a gente evita tratar o “Couro Velho”, como bar. Preferimos a denominação Quintal, porque isso aqui é mesmo um quintal – diz o  ritmista, enquanto se reserva entre os pagodeiros e os frequentadores que vão chegando aos poucos e ocupando mesas espalhadas na calçada do quintal, debaixo de uma viçosa goiabeira.

No “Couro Velho” não existe cozinha. Mas, à entrada, antes de pagar o ingresso de R$ 5,  o freguês pode encomendar um churrasquinho  da Tia Mikele Gel,  com arroz, farofa e vinagrete, que custa somente R$ 8,00 e dá para segurar o tranco até à meia-noite, quando os instrumentos silenciam por força da lei do silêncio. Mas, antes, confira o seu ticket porque tem sorteio de um balde cerveja que poderá ser consumido pelos sortudos, mesmo sem música, até o apagar das luzes.

Vá ao Quintal do Couro Velho!