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Após novela, Rony busca brilho no Palmeiras dirigido por Vanderlei Luxemburgo

 Destaque do Athletico Paranaense em 2019, com gol decisivo
no título da Copa do Brasil,
Rony chegou ao Palmeiras
já com a temporada atual em andamento, depois de uma negociação cheia de
capítulos dignos de novela. O principal reforço do Verdão para 2020 recebeu a Gazeta Esportiva na
Academia de Futebol para falar sobre a vida, a carreira e a expectativa no novo
clube.
 Em uma conversa descontraída, Rony relembrou a
infância repleta de dificuldades na região de Vila de Quadros, zona rural de
Magalhães Barata, no interior do Pará. Além disso, detalhou os momentos
complicados no início da carreira, salva por um convite para disputar a Copa
São Paulo de Futebol Júnior, e como foi resolver importantes negociações ao
mesmo tempo em que estava prestes a ver nascer a sua filha.
 Com o “sorriso verde” do aparelho nos dentes,
o atacante de 24 anos revelou a conversa que teve por telefone com Vanderlei
Luxemburgo antes de fechar com o Palmeiras e contou também as suas primeiras
impressões com o experiente treinador. Rony ainda confirma a obsessão pela Copa
Libertadores, e o “privilégio” de dividir o ataque com Dudu, Willian e Luiz
Adriano.
Gazeta
Esportiva – O começo da carreira não foi fácil. Como foi o início no interior
do Pará? –
Foi um
começo muito difícil. Na minha infância tive muita dificuldade, passei fome,
vim de uma família humilde. Até hoje a família mora onde nasci. Tivemos uma
infância bem conturbada. Tenho quatro irmãos, dois homens e duas mulheres.
Tenho mãe e pai, mas são separados. Minha mãe mora com os meus irmãos, um
pertinho do outro. Moram na Vila de Quadros, no município de Magalhães Barata.
Tenho muito orgulho do meu Pará e do interior, de onde eu vim. Todos torcem por
mim lá, quando tem jogo, todo mundo mundo se reúne. Minha familia mora toda lá.
Aqui em São Paulo estou com minha esposa e um casal de filhos.
Gazeta
Esportiva – Você já pensou em até desistir do futebol. Como foi essa história?
Teve uma época que deu um desânimo do futebol,
quando estava em Belém, não tive muita oportunidade e voltei para o interior.
Mas no ano seguinte recebi uma ligação perguntando se eu queria voltar a jogar
futebol, porque ia ter a Copinha São Paulo, e falei ‘é tudo o que eu mais
quero’. Fui para Belém para tentar realizar esse sonho. Essa oportunidade
apareceu e eu agarrei com todas as forças. Joguei a Copinha e fui bem, fui pra
Belém e comecei a jogar como profissional no Clube do Remo e daí minha carreira
decolou.
Gazeta
Esportiva – Quais outras profissões você já exerceu na vida antes de jogar
futebol? –
Eu trabalhei
em várias coisas. Como mototáxi, como mecânico de moto, como ajudante de
pedreiro. Eu me virava, gostava de ganhar o meu dinheiro. Gostava de ser
independente e ter as minhas coisas.
Gazeta
Esportiva – Com o sucesso do futebol, você mudou a vida da família como um
todo? –
Com certeza. Graças a Deus a
minha vida se estruturou. Consegui construir a casa da minha mãe, dei um carro
para o meu irmão. Esse dinheiro me ajudou bastante e fui ajudando da melhor
maneira possível para todo mundo ter uma vida bem adequada com o que eu tinha.
Gazeta
Esportiva – Como foi o seu sentimento em relação ao nascimento da sua filha no
mesmo instante em que você negociava com o Palmeiras? –
Todas a coisas aconteceram ao mesmo tempo, mas eu
estava focado no nascimento da minha filha. As coisas do futebol foram
acontecendo naturalmente. A negociação estava avançando, às vezes ia ficar ou
não ia, mas a gente soube esperar e separar as coisas. No momento certo as
coisas aconteceram. Minha filha nasceu, ficou todo mundo feliz e as coisas
foram acontecendo no futebol, que foi a negociação com o Palmeiras. Graças a
Deus as coisas fluíram e hoje estou aqui, feliz da vida.
Gazeta
Esportiva – Você ficou chateado ao ser encostado no Athletico Paranaense? Como
foi esse momento para você? –
Querendo ou
não a gente fica um pouco chateado, por tudo o que eu vivi lá, tudo o que eu
passei com o clube, com os meus companheiros dentro de campo. Eu soube suportar
porque a gente sabe que estava certo nas coisas que estávamos falando. Ficamos
calados quando tinha que ficar calados, e quando tínhamos que falar, falamos. A
gente gosta das coisas verdadeiras e falamos o que era a verdade. Mas deu tudo
certo e ficou bom para ambas as partes. O Athletico Paranaense, que eu vou
levar comigo para o resto da vida, é um clube que me ajudou bastante. Todo
mundo saiu feliz, eu sai de cabeça erguida, sabendo que no tempo que fiquei lá
eu dei meu melhor e honrei a camisa. Acredito que eu estou com a consciência
bem tranquila e agora estou focado aqui no Palmeiras.
Gazeta
Esportiva – Quem quis você primeiro: o Corinthians ou o Palmeiras? –
Tiveram muitos contatos. Teve uma hora que
procurava um, depois outro. O Palmeiras já tinha me procurado desde 2016 ou
2017, quando eu estava no Náutico. Eu vim aqui, meu nome estava no topo de quem
estava pesquisando jogador. Me senti feliz porque um clube como o Palmeiras já
estava me monitorando. Na época eu ia para o Botafogo, com o Anderson Barros,
que era dirigente de lá. Então ele já conhecia o meu trabalho, já conhecia a
pessoa que eu sou. Isso facilitou a minha vinda para cá. Acho que qualquer
jogador queria estar aqui em um clube como o Palmeiras, com estrutura e o elenco
que tem. Isso também prevaleceu para eu vir para cá.
Gazeta
Esportiva – Como é para um jogador que quer dar mais um salto na carreira
receber uma ligação do Vanderlei Luxemburgo e do Tiago Nunes? Estavam tentando
te convencer? –
Houve uma
ligação, mas foi uma conversa saudável, uma ligação tranquila. Minha conversa
com o Luxemburgo foi super tranquila e muito boa. Acredito que qualquer jogador
quer receber uma ligação de um treinador querendo a contratação dele. Me senti
feliz, bem confiante, deu tudo certo e estou procurando ajudar da melhor
maneira possível, independente de estar jogando ou não.
Gazeta
Esportiva – Imaginava ganhar uma oportunidade como titular em tão pouco tempo
no Palmeiras? –
Eu procuro
sempre manter o foco, a concentração dentro dos treinamentos, fazer o que o
professor está pedindo. A gente sabe que quando é um clube grande, temos um
grande elenco. Procuro sempre buscar o meu espaço respeitando os companheiros
de posição. Não esperava ter esse início de titular, mas estou muito feliz.
Estou vendo que o professor está confiante no meu trabalho, confia no meu
potencial, então isso me deixa feliz para o restante da temporada.
Gazeta
Esportiva – O Luxemburgo chegou a escalar quatro atacantes para poder encaixar
você no time. Você já jogou assim? Como é fazer parte desse sistema de jogo? –
Eu me sinto feliz de fazer parte dessa equipe, que
tem um grande elenco, jogadores de muita qualidade, jogadores que tem
praticamente o mesmo perfil que o meu. Estou conseguindo encaixar na formação
que o professor está pedindo. Isso também faz parte do trabalho e quer dizer
que meu trabalho está fazendo efeito. Qualquer jogador queria estar no mesmo
lugar, atuando do lado de Dudu, Willian e Luiz Adriano. O time fica bem
ofensivo e a gente faz as jogadas ali na frente. Eu nunca tinha jogado assim,
mas hoje eu tenho esse privilégio e facilita muito porque quando a gente chega
na frente consegue finalizar rápido.
Gazeta
Esportiva – Há obrigações novas nesse esquema com quatro atacantes? –
Acho que sim. Um ajudando o outro, dentro de campo,
se um ajudar o outro as coisas se tornam mais fáceis. É o que o Luxemburgo pede
sempre. Um marcando pelo outro, um correndo pelo outro. Se a gente quiser ser
um time vencedor, tem que ajudar um ao outro.
Gazeta
Esportiva – É uma obsessão para o Palmeiras conquistar essa Libertadores. É
para você também? –
Não só para
o Palmeiras, mas para todos os jogadores é uma obsessão muito grande.
Principalmente para mim, porque ano passado joguei Libertadores e sei como é.
Todos os clubes querem ganhar e todos os jogadores também. É uma competição
extraordinária e muitos queriam estar participando e não podem. Como a gente
tem esse privilégio, vamos em busca desse título, que é uma taça importante
para todos.
Gazeta
Esportiva – O Palmeiras é favorito ao título, um dos gigantes que brigam, ou a
gente tem que colocar o Flamengo em um “patamar” diferente? –
A gente sabe que tem vários clubes grandes brigando
por essa taça. A gente é um deles. O Palmeiras é um clube que cada vez mais
está crescendo e também tem o seu patamar. O patamar do Palmeiras é gigantesco,
assim como o Flamengo está em um patamar diferente. Tem grandes jogadores, é um
elenco que vai querer brigar mais uma vez pela taça, mas a gente segue forte e
com a concentração em alta para buscar esse título. Não vamos dizer que somos
favoritos, mas vamos ficar entre os primeiros para buscar essa taça.
Gazeta
Esportiva – O Palmeiras tem muito a evoluir para bater de frente com o
Flamengo, ou já está bom assim? –
A gente sabe
que cada dia mais a gente tem que evoluir, porque o nosso trabalho no ramo do
futebol temos que estar aprimorando e aprendendo alguma coisa a mais. Acredito
que a evolução é dentro dos treinamentos, porque não é só dentro de campo que
podemos arrumar as coisas. É escutando o que o professor tem para passar, e
fazer o que a gente gosta de fazer, que é jogar com alegria.
Gazeta
Esportiva – O jogo desta terça-feira poderia ser contra o Corinthians, que
ficou pelo caminho. É melhor encarar o Guaraní do Paraguai? –
Qualquer equipe seria bem complicada. Ia se tratar
de um clássico, e a gente sabe que clássico as coisas pegam. Qualquer um que
passasse seria um jogo difícil. A gente vai em busca dessa vitória. Não passou
o Corinthians, mas a gente vai pegar o Guaraní, que está fazendo uma bela
campanha. Vamos em busca dessa vitória porque em Libertadores não pode vacilar.
Todo cuidado é pouco, a gente sabe que é no detalhe. O time vem jogar por uma
bola e não podemos dar essa brecha para eles.
Gazeta
Esportiva – O que está sendo mais legal em trabalhar com o Luxemburgo? –
Ele é brincalhão demais e eu gosto desse tipo de
coisa. Brincadeira na hora de brincar é muito legal, descontrai a gente. E na
hora do trabalho as coisas tem que ser bem feitas, porque a gente sabe que isso
vale muito dentro de campo, nos 90 minutos.
Gazeta
Esportiva – Os jogadores mais antigos falam que o Luxemburgo é um dos
treinadores que mais enxerga futebol. Você consegue notar essa perspicácia dele
no dia a dia, nos jogos e treinos? –
No tempo em
que estou aqui já deu para perceber isso. Ele sabe o que faz e é um treinador
muito inteligente. Sabe o que quer, o que almeja, então ele passa isso para
gente para a gente vencer junto com ele. Se estivermos bem unidos, podemos
alcançar os nosso objetivos esse ano.
Gazeta
Esportiva – O que você pode oferecer de diferente para o Palmeiras? Qual é o
seu melhor dentro de campo e o que precisa aprimorar? –
O meu melhor dentro de campo é a luta, é ajudar
meus companheiros, ajudar na marcação, e colocar velocidade lá na frente. Meu
negócio é velocidade, colocar a bola na frente para brigar. A cada dia a gente
procura melhorar, muitos já estão falando de não fazer gol, mas estou com a
cabeça tranquila e sei que no momento certo a bola vai entrar. Não é porque o
Rony é um mal finalizador, porque já fiz muito gol na minha vida e no ano
passado, fiz bastante gol e fui decisivo. Estou tranquilo quanto a isso e as
coisas vão começar a caminhar como foi no ano passado.
Gazeta
Esportiva – E até o aparelho é verde. Apenas uma coincidência? –
Eu coloquei a cor do aparelho e não sabia (da
negociação). Por incrível que pareça era azul e começou a ficar verde. Quando
falaram que vinha para o Palmeiras as coisas começaram a ficar verde.
Foto: Cesar Greco