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Uma professora enviou um áudio por mensagem admitindo ter agredido um aluno de 5 anos com transtorno do espectro autista numa escola em Porto Alegre. Na gravação, enviada para colegas de trabalho, ela diz que “enfiou” a toalhinha da merenda “na cara dele” para que o menino parasse de cuspir nela após ter “surtado” e que a criança “se jogava no chão dizendo ‘não me mata, profe, não me mata'”. O áudio foi revelado na última sexta-feira pelo jornal gaúcho GZH.

O caso ocorreu em agosto no Colégio Romano Senhor Bom Jesus, mas a instituição apenas emitiu um comunicado (colocado na íntegra ao final da matéria) esclarecendo os fatos nesta segunda-feira. Segundo a delegada Andréa Mattos, titular da Delegacia de Polícia de Combate à Intolerância, a investigação foi concluída nesta semana.

“Ele surtou hoje, gurias, só porque eu falei que o casaco não era dele, era de um outro colega, nós tava voltando do pátio, guardando os casacos na mochila, e ele veio com tudo para cima de mim, deu um puxão na minha roupa, cuspiu horrores, que vocês não têm noção”, conta a professora na mensagem. “Eu me descontrolei de um jeito assim, ó. Não é nem descontrole, tá? É que eu já tô p* já. Não aguento mais a cara daquele inferno daquele guri”.

A mulher então disse que pegou a toalhinha dele e “cada vez que ele vinha pra cima de mim para cuspir, eu enfiava aquele pano na cara dele”.

“Aí eu peguei e tapei a cara dele com aquele pano, sabe? Enfiava o pano na cara dele. Gurias, ele se jogava no chão, dizendo ‘não me mata, profe, não me mata'”, acrescentou.

Em outra parte do áudio, ela chega a dizer que agiu daquela forma para se defender.

“Ele veio para cima de mim, me cuspiu e eu peguei o pano do lanche dele, a toalhinha do lanche, e me defendi. Eu botei no rosto dele pra ele não cuspir. Mal educado, nojento, ele fica com isso daí pra cima da gente. Eu não vou aturar cuspe dele”, afirmou.

De acordo com a delegada, “a autora foi indiciada pelo crime previsto na lei brasileira de inclusão, que trata da discriminação e preconceito, e também por lesão corporal”.

— A autora foi uma das últimas a ser ouvida aqui na delegacia. Ela disse que realmente se desorganizou, mas que não enfiou o paninho na boca da criança, que ela só tampou o rostinho dele para que o cuspe não a atingisse. Então ela disse que não foi agressiva de maneira alguma, que ela era uma professora carinhosa e tentava fazer a inclusão dele — disse Mattos, explicando que fez questão de colocar o áudio para tocar durante o interrogatório para reforçar o pedido por uma explicação sobre aquilo. — Em linhas gerais, ela disse que ali estava fazendo uma espécie de desabafo com as amigas, que não foi bem aquilo que ela quis dizer e que naquele momento ela estava muito nervosa.

A mãe do menino disse em depoimento que a situação dele havia piorado durante o primeiro semestre do ano letivo, conforme ele convivia mais com a professora, e chegou precisar aumentar a dose da medicação.

— A gente ouviu a mãe da criança e uma tia, que é quem fazia o transporte da criança até a escola. Quando eu fiz a oitiva da mãe, ela não tinha ouvido o áudio ainda. Até perguntei se ela queria ouvir, ela não quis. E ela falou que, assim, realmente, a criança teve uma piora ao longo do primeiro semestre do ano, ao longo da conviência com essa professora. A criança sequer podia ouvir o nome da professora que já se desorganizava. A mãe chegou a aumentar a dose da medicação em razão do aumento das crises que essa criança tinha.

A delegada destacou que o menino, atualmente com 6 anos, já apresentou uma melhora desde que a professora foi demitida.

— É interessante que a partir do momento que houve a demissão da professora e a contratação de uma nova profissional a criança já voltou de certa maneira a se organizar. A criança é autista, continua tendo crises, mas elas estão mais esparsas — afirmou.

Leia abaixo o comunicado da escola na íntegra:

“Prezada comunidade,

Vimos, a público, esclarecer nossos encaminhamentos em relação às noticias publicadas, na mídia, nos últimos dias.

Tenham a certeza que procedemos com firmeza, assim que as notícias do fato chegaram até nós. Fomos rápidos, agimos com precisão e comunicamos os órgãos competentes. Prestamos toda a assistência e apoio ao aluno e sua família, que mantivemos informada das nossas ações, todo tempo. Seguimos com um trabalho em conjunto, família, colégio e especialistas, visando o melhor para o aluno.

Muitos estão se perguntando do porquê não nos manifestamos antes, porém, o caso estava sob a jurisdição do Estado, com uma investigação em andamento. Respeitamos o sigilo envolvendo um menor de idade, não expomos o aluno, tão pouco a família e a professora. Seguimos a lei, com ética e justiça.

O caminho da inclusão exige uma constante aprendizagem, muito estudo, mas principalmente um coração aberto. Vamos continuar firmes no propósito da educação, buscando, sempre, o melhor caminho para os estudantes, educadores e toda comunidade escolar.

Nossos professores são qualificados especificamente nas suas áreas, orientados para o acolhimento constante aos nossos alunos e famílias, e com formações contínuas nas diversas áreas do desenvolvimento pedagógico e emocional.

Reafirmamos nosso compromisso com a segurança dos nossos alunos, com o desenvolvimento intelectual e o cuidado carinhoso nos encaminhamentos. Nossos valores como qualidade de ensino, amor e respeito, presentes na nossa proposta pedagógica, norteiam o dia a dia, dentro dos Colégios da Rede Romano, nestes 17 anos de caminhada.

Seguiremos firmes nestes propósitos, realinhando, ressignificando e aprendendo a cada dia, no que for preciso, acreditando na Educação que almejamos, que é inclusiva, para todas as diferenças, para todos nossos alunos, pois todos são únicos e importantes para a Rede Romano de Educação.

Que Deus siga nos iluminando nesta jornada e abençoe a toda comunidade escolar.

Rede Romano de Educação”