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Faixa de Juliano Maderada e Tiago Doidão foi a mais tocada do país e também lidera ranking viral global . É a 1ª vez que música de campanha política lidera Spotify.

“Tá na hora do Jair já ir embora”, de Juliano Maderada e Tiago Doidão, chegou ao primeiro lugar da parada diária de músicas mais tocadas do Spotify no Brasil na manhã desta segunda-feira (31). É a primeira vez que uma música de campanha eleitoral lidera a principal serviço de streaming de música no Brasil.

A música que tem letra contra Jair Bolsonaro foi tocada mais de 1,4 milhão de vezes, e disparou da 40ª para a 1ª posição nacional. A parada contabiliza as audições de domingo (30), dia da eleição presidencial vencida por Lula .

A faixa também chegou ao primeiro lugar do ranking viral mundial do serviço. Esta parada viral mostra as músicas que se espalham mais rapidamente. No ranking global geral, que considera o total de audições, ela foi a 65ª música mais tocada do mundo no domingo no Spotify.

“Tá na hora do Jair já ir embora” é um dos sucessos eleitorais de Juliano Madeirada. O ex-professor de matemática baiano de 48 anos mudou a cara dos jingles políticos em 2022. Com ritmos dançantes do Nordeste e letras provocativas, ele quebrou a pompa dessas músicas. Assim, elas foram parar no TikTok e nos “paredões”, as caixas de som automotivas para festas de rua.

Acima, o podcast g1 ouviu conta duas histórias: a do dono de uma pequena banda de arrocha na Bahia e a dos irmãos que batalhavam no sertanejo no interior de SP. Eles fizeram apostas para o embate que viria nas eleições – um do lado de Lula (PT); os outros, de Bolsonaro (PL).

Ele também compunha para outros artistas. Conseguiu um sucesso regional em 2016 com “Passinho do Peter Pan”, arrochadeira gravada por Neto LX, Raí Saia Rodada, Gabriel Diniz e outros famosos. Mas suas composições estouraram mesmo quando miraram outra figura do Nordeste.

“A primeira música que eu postei sobre o Lula em 2011 foi ‘Volta meu guerreiro”. Teve 7 mil views em um dia, muito bom para um canal sem notoriedade”, ele conta. “Já que funcionou, eu resolvi fazer outra criticando o Bolsonaro. Deu mais certo ainda”, diz.

Ao som de pisadinha, arrochadeira, lambadão e outros ritmos nordestinos atuais, ele repete versos provocativos como em “Chega de ovo, é Lula de novo”, “Vai levar peia”, “Forrozão arruma mala”, “É taca taca que vão levar”, “Vai ser lapada” e “Lambadão do 13” (com número do PT repetido sem parar).

Juliano diz que os colegas de bandas e músicos da região são apoiadores do PT (Lula teve 66% dos votos em Iguaí). Mesmo assim, ninguém botou muita fé nas músicas políticas no início. Ele tinha que pagar músicos para gravarem. Quando ficou sem dinheiro, começou a cantar ele mesmo.

Ele também buscou o PT quando viu que as músicas cresciam no YouTube. “Demorei muito tempo para que alguém me enxergasse. Eu batia em várias portas. Procurei a assessoria de Lula mil vezes o pessoal não dava muito ouvido. Eu dizia que estava trabalhando, que todo dia fazia uma música…”

A eleição se aproximava e o canal crescia. Assim ele convenceu o vocalista do Madeirada, Tiago Doidão, a viajar para Iguaí para compor e gravar junto com ele a lambada “Tá na hora do Jair já ir embora”, que estourou no 1º turno e segue em alta no 2º.

Juliano Maderada (à frente, na esquerda), e Tiago Doidão, parceiros em 'Tá na hora do Jair já ir embora" — Foto: Divulgação

Juliano Maderada (à frente, na esquerda), e Tiago Doidão, parceiros em ‘Tá na hora do Jair já ir embora” — Foto: Divulgação

Do TikTok à micareta

 

“Primeiro as músicas invadiram as redes sociais. Com isso a gente conseguiu levar essa mensagem para um ambiente em que a música institucional de propaganda política não chegava, mesmo bonita e com uma boa mensagem – porque não tem a batida forte, não sugeria dança, não invadia o TikTok.”

“Depois que começou a campanha de corpo a corpo, a música migrou para a rua. Agora esse estilo ganhou o carro de som, o som automotivo (o chamado “paredão”), e virou essa outra forma de manifestação, uma micareta na rua. Ganhou uma identidade nova”, ele descreve.

Não foi tudo ideia dele: um precursor importante é o jingle genérico “O homem disparou”, pisadinha que foi um fenômeno na eleição municipal de 2020. De qualquer forma, Juliano pegou o espírito e começou uma produção em série de jingles que, hoje, chegam sem esforço dele aos comícios.

“Eles vão no YouTube e baixam a música. Aí colocam no paredão, e como faz na rua, cria uma espécie de micareta, um carnaval político. O povo que tá na rua curte, dança, comemora e interage. “

 

“Acho que todo candidato que pensar em fazer campanha a nível nacional agora tem que saber que já existe essa forma de fazer política dessa maneira, com essa participação popular, com o povo na rua”.

Emocionado com Lula

 

A essa altura, as tentativas de contato de Juliano com o PT também já tinham dado resultado. “O primeiro contato que consegui foi através do Paulo Pimenta, deputado federal do Rio Grande do Sul. Ele me passou para o (fotógrafo) Ricardo Stuckert, que é muito sensível a essas questões.”

“Ele me ligou duas vezes e, na terceira, já me botou para falar com o Lula. Fiquei emocionado.” Eles marcaram um encontro em Salvador. “O Lula passou um tempão com a gente. Ele atrasou o encontro com a Daniela (Mercury) e falou: ‘Vou ficar aqui mais um pouquinho com os meninos'”, descreve.

Juliano também foi a São Paulo participar da live de Lula com artistas. Também estavam lá famosos como Daniela Mercury, Pabllo Vittar, Casagrande, e o telão mostrou mensagens de Gilberto Gil, Caetano Veloso e Emicida. Mas os ídolos que Juliano queria ver eram outros.

“O pessoal me falou: ‘rapaz, tinha um camarim dos artistas, todo mundo lá, você devia ter ido conhecer as pessoas’. Mas eu falei: ‘Eu quero é ver o Lula. Aí conversei com ele, com o Janones, com o Randolfe Rodrigues, que eu admiro muito. Eu sou focado mais na questão política do que artística”, ele diz.

Juliano Maderada — Foto: Divulgação

Juliano Maderada — Foto: Divulgação

O canal de Juliano já tem mais de 42 milhões de visualizações, além de vídeos de outros canais que usam sua obra, o que gera uma remuneração do YouTube. Ele diz que, no último mês, a renda do YouTube foi de R$ 23 mil. No Spotify, ele ganhou menos em setembro: R$ 5 mil.

O músico também continuou com o serviço que prestou em 2020 de criar jingles sob encomenda. Só que o preço aumentou: se em 2020 cobrava entre R$ 300 e R$ 400, hoje o serviço custa entre R$ 2,5 mil e R$ 5 mil por música. Mas ele nem conseguiu atender toda a demanda esse ano.

A maioria dos clientes era de esquerda, mas ele também aceitou candidatos de direita, desde que não fossem radicais. “Quando o tema era muito pesado, ligado a Bolsonaro, eu preferia não fazer. Até porque eu não tinha muito tempo.”

Claro que o retorno financeiro é bem-vindo para o músico, casado e com dois filhos. Mas ele nem sabe o que vai ser da carreira musical depois da eleição. “O foco é eleger o Lula. Eu nunca pensei em fazer sucesso, nesse retorno artístico ou financeiro, não tô preocupado se vou sair famoso depois disso.”

Juliano Maderada e Lula — Foto: Arquivo Pessoal

Fonte: G1

Foto: Divulgação