TCE

Gosto de ir ao cinema sozinha. Algumas pessoas dizem que têm medo de estar na sala escura sem companhia. Nunca entendi qual era o problema. Afinal, existe lugar mais seguro do que a exibição de um filme dentro de um shopping famoso da cidade?

Pelo menos era isso que eu pensava até o começo da noite de ontem. Terminei de trabalhar cedinho e decidi rever o filme Avatar em 3D. Com a promoção do meu cartão e a integração do Bilhete Único, esse seria um passeio tranquilo para fazer em uma segunda-feira chuvosa.

Comprei um salgadinho, retirei o ingresso na máquina e me acomodei em frente a tela. Cheguei a me achar sortuda por pensar que pegaria uma sessão vazia. Que experiência vip, não é mesmo?

Ainda durante os trailers, um casal sentou algumas fileiras atrás. E só. Éramos nós três imersos no universo mágico de pandora. Um estrondo me assustou em um momento calmo do filme de aventura. Segundos após o barulho, senti um impacto contra o lado direito do meu corpo. Havia espuma por todo lado. Só então me dei conta de que um pedaço do teto tinha caído em mim por volta das 19h06.

Enquanto a água suja da chuva caia em cima do farelo que ficou grudado na minha roupa, levantei rapidamente para buscar ajuda. O filme continuou sendo exibido normalmente, como se a queda fizesse parte de uma experiência imersiva da exibição 3D. Os jovens lá no fundo do local gritaram perguntando se eu estava bem. Respondi que achava que sim, mas que tinha que chamar alguém.

Caminhei rapidamente até o posto da funcionária que retirava os ingressos. Ela e um outro trabalhador me acompanharam até a sala. Peguei a minha bolsa molhada e, na pressa, esqueci o guarda-chuva no banco. Ele fez falta minutos mais tarde, quando voltei para casa grudenta e com coceira.

O incômodo na pele só notei algum tempo depois de falar com as pessoas que trabalhavam no estabelecimento. Passei meus dados pessoais, inclusive com número de documento, endereço e profissão. Escrevi o meu número de celular em ao menos três telefones diferentes.

Essa não foi a primeira vez

O susto pode até parecer inusitado, no entanto, com uma rápida busca na internet, percebi que não fui a única vítima de acidentes como esse. No site Reclame Aqui descobri que dois meses atrás o forro do teto do Cinemark Recife caiu durante a exibição do filme Top Gun às 19h.

Já no dia 22 de outubro do ano passado, algo parecido aconteceu no Cinemark Interlar Aricanduva enquanto exibia o filme Duna. Em 2019, o mesmo complexo de cinema da zona leste registrou uma queda desse pedaço acústico enquanto projetava Capitã Marvel.

Corri para o banheiro, limpei a área suja e peguei um ônibus de volta para a minha casa. Minutos após a minha pele entrar em contato com o material, a área ficou vermelha e cheia de pontos de algo que parecia uma reação alérgica.

Contei nas redes sociais sobre o ocorrido e marquei o Cinemark em publicações no Instagram e no Twitter. A empresa também não se manifestou. Tudo o que restou foram os quatro ingressos de cortesia que um funcionário gentilmente me ofereceu tentando amenizar uma situação que não era culpa dele. A questão é que eu não sei quando vou querer pisar em uma sala de cinema. Acho que estou com medo. Pensei que esse era um lugar seguro.

Atualização (29/09/2011 às 13h36)

O Cinemark respondeu ao e-mail da reportagem com a seguinte nota:

“A Cinemark informa que as fortes chuvas desta terça-feira, 27 de setembro, afetaram o telhado do shopping, causando a queda de uma parte do forro, feito de espuma, do teto de uma das salas do complexo. Não houve feridos. Os funcionários prestaram a assistência necessária, tão logo tomaram conhecimento do incidente e a sala foi interditada e as sessões suspensas. A Rede esclarece que ofereceu cortesias para que os espectadores pudessem retornar em outra data e pede desculpas pelo transtorno causado aos clientes presentes”.

Horas depois, o Shopping Metrô Tatuapé também enviou um comunicado.

“O Shopping Metrô Tatuapé lamenta o ocorrido com a cliente nas instalações do Cinemark e ressalta que direcionou sua equipe para prestar pronto atendimento ambulatorial, o qual foi dispensado pela mesma. O grande volume de chuvas no dia 27 de setembro pode ter ocasionado a queda de uma placa de espuma do forro do cinema. Por fim, o empreendimento reforça que mantém de forma constante a manutenção das instalações de suas áreas comuns”.

Vale ressaltar que, no momento em que a vítima retornou para retirar os pertences na sala, a sessão ainda não havia sido interrompida. E, apesar do Cinemark alegar que não houve feridos, a região da pele da jornalista que entrou em contato com o material durante a queda apresentou coceira e vermelhidão algum tempo após o ocorrido, como mostra uma das imagens divulgadas.