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Felipão usa o favoritismo do rival como grande arma na decisão da Libertadores, amanhã, no Equador. Mas a partida empolgante coloca frente a frente dois clubes que pensam muito diferente o futebol

São Paulo, Brasil

O Flamengo é favorito absoluto contra o Athletico Paranaense.

A decisão da Libertadores, amanhã, às 17 horas, em Guayaquil, mostra o confronto teoricamente desequilibrado.

Por quê?

Basicamente pelo potencial dos seus jogadores, refletidos no preço de mercado.

Um levantamento simples mostra a diferença de potencial econômico entre os clubes.

Com o dinheiro que o Flamengo gastou para ter apenas Gabigol, R$ 95 milhoes, seria possível montar 90% da equipe de Felipão.

O colega Rafael Reis e alguns sites do Paraná já haviam mostrado essa incrível diferença.

Com o Flamengo valendo cinco vezes mais o Athletico.

Os jornalistas que fizeram esse cálculo usaram como referência o transfermarkt, site especializado em negociações no futebol.

R$ 560 milhões para R$ 104 milhões.

Mas outro dado fundamental precisa ser levado em consideração.

O Flamengo tem quatro jogadores que disputaram Copa do Mundo.

David Luiz, Vidal, Arrascaeta e Filipe Luís.

Varela está contundido e desfalca o time.

O Athletico tem apenas Fernandinho.

Essa experiência, para Dorival Júnior, é que realmente conta.

Três deles serão titulares: David Luiz, Filipe Luís e Arrascaeta.

E estão, como sempre, muito participativos na preparação da equipe para a decisão de amanhã. Têm insistido com o desprezo pelo favoritismo apontado pela imprensa. E manter o foco na força coletiva do Athletico, na intensidade e na velocidade do time de Felipão.

Dorival Júnior tem seguido o mesmo caminho, da concentração, da preparação para uma batalha física. Da necessidade de o time atuar de forma compacta, vibrante.

A conquista do tricampeonato e a chance de disputar o Mundial de Clubes são situações consideradas quase que obrigatórias para a diretoria de Rodolfo Landim. O presidente segue firme nos planos de internacionalização do Flamengo e no sonho de construir o maior estádio da América Latina, no Rio de Janeiro, fugindo do Maracanã.

Já Mario Celso Petraglia, homem domina o Athletico, também é ambicioso. Não tornou o nome do clube ‘mundial’, sem acento e acrescentando o ‘h’ por acaso.

O planos são grandes. Vencer a Libertadores significaria a quebra de vez do domínio geográfico do futebol de São Paulo, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e Minas Gerais. Fazer o Paraná estado campeão da maior competição da América do Sul seria muito relevante. E a valorização de vez do clube que tomou o lugar do Coritiba no cenário nacional.

A decisão também tem um lado absolutamente inesperado.

No começo de 2022 ninguém apostaria que Dorival Júnior e Felipão estariam decidindo a Libertadores.

Ambos estavam desempregados.

Sim, sem clubes.

Dorival estava recuperado de um câncer na próstata, buscando equipes. Até que o Ceará o contratou, em março. Foi para o Flamengo em junho.

Felipão havia sido demitido em outubro de 2021 do Grêmio. E estudava a aposentadoria como treinador e trabalhar como coordenador de futebol. Quando Petraglia o convenceu a ser ‘técnico temporário’ no lugar de Fábio Carille. Quando encontrassem um profissional que confiassem, Felipão assumiria como coordenador.

Só que o time deu ‘certo demais’ com Felipão, tanto que está na final da Libertadores.

Haverá outro duelo interessante amanhã. Gabigol e Vítor Roque. O atacante do Flamengo vive seus últimos momentos de sonho de disputar a Copa do Mundo do Catar. Ele não é mais convocado por Tite desde janeiro. Perdeu seu espaço para Pedro.

Vítor Roque é o jogador que mais doeu na alma de Ronaldo ver sair do Cruzeiro. O jogador de 17 anos tem enorme potencial. Arranque, drible e frieza para marcar. O Athletico pagou a multa rescisória baixísima de R$ 24 milhões e levou o garoto. Felipão está ensaiando começar o jogo com o experiente Pablo, mas Vítor Roque entrará na partida. Com a missão de mudar o ritmo do ataque athleticano.

Aos 37 anos, Fernandinho deixou o Manchester City, onde fez história, em plena forma. E assumiu a liderança do Athletico de forma impressionante. Trouxe personalidade, confiança e intensidade que faltavam há anos ao time.

Ele será peça fundamental para tentar travar o cerebral meio-campo flamenguista. Principalmente vigiar o mais talentoso meia que atua no futebol brasileiro: Arrascaeta. O jogador cresceu demais nas mãos de Dorival Júnior, que o deixa ocupar o setor onde mais gosta, onde mais rende. As intermediárias, com liberdade para se focar na ofensiva, pegando a bola mais descansado, para arranques, chutes, dribles desconsertantes.

Não por acaso, ontem, no Equador, as duas equipes treinaram demais bolas paradas. Felipão e Dorival acreditam que tanto Flamengo quanto Athletico têm graves problemas nos cruzamentos.

E apostam que um escanteio ou falta lateral podem decidir a final.

Mas será o lado psicológico que pesará nesta decisão.

Dorival tenta convencer seus atletas a não se deixarem levar pelo favoritismo.

E Felipão apela para o velho truque do “vamos provar que todos estão errados e derrubar o ‘favorito”’.

Além disso estarão frente a frente duas filosofias administrativas.

A de ‘mão de ferro’ de Petraglia, contra o confronto eterno entre as várias alas flamenguistas pelo poder.

Ser campeão vale 16 milhões de dólares, R$ 85 milhões.

Vice, 6 milhões de dólares, R$ 32 milhões.

E o privilégio de disputar o Mundial de Clubes.

Na teoria, não há como negar o favorismo rubro-negro.

Mas não há como desprezar o Athletico de Felipão.

O Brasil estará muito bem representado em mais esta final de Libertadores…

 

 

 

Fonte: R7

Foto: Divulgação