TCE

O Brasil anunciou na semana passada seus propósitos de
proceder à transição energética. As intenções merecem aplausos
e as ações subsequente mais ainda. De acordo com os ministros da Fazenda e do Meio Ambiente, a liderança mundial do país na questão ambiental será, definitivamente, assumida na medida em que as alternativas energéticas baseadas nos combustíveis fósseis sejam removidas. A tarefa é hercúlea e supõe etapas obrigatórias. E uma delas se refere à Amazônia, a pátria das alternativas energéticas que, ironicamente, tem boa parte de sua população às escuras.

Sem energia
O desequilíbrio regional energético se agrava se observamos que
26% da energia do país vem da Amazônia, porém, entre os
municípios da região têm 1 milhão de pessoas que não contam
com acesso regular de luz elétrica. Usufruem apenas algumas
horas do dia, através de geradores. E outros 3 milhões de
habitantes não integram o Sistema Interligado Nacional, a
coordenação dos produtores 3 distribuidores de energia em
território nacional.

Santa paciência.
No final do século XX, a Suframa, gestão Mauro Costa, convocou
os estados que formam a Amazônia Ocidental, mais o Amapá,
área sob sua jurisdição, para estudos de viabilidade e
mobilização para uso de energia solar nos municípios mais
isolados, principalmente.

Faltou vontade política no percurso
Mais recentemente as entidades da indústria pautaram a
iniciativa visando implantar fábricas de placas e baterias para
viabilizar a obviedade da solução no âmbito da infraestrutura. Foi
quando se descobriu um veto do GT-PPB, o grupo de trabalho do
MCTI e MDIC que monitoram/decidem o que pode e o que não
pode ser produzido em Manaus. Santa paciência.

Combate ao desmatamento
O propósito dessa reflexão, que fique bem claro, não é cutucar
nem fulanizar a questão. A intenção, além dos aplausos às
discussões da transição energética é sugerir que sejam incluídas
nas prioridades do BNDES, agente financeiro do Fundo Amazônia
para o combate ao desmatamento, a fabricacao de placas e
baterias, entre outros artefatos e componentes para o cardápio
fabril do Polo Industrial de Manaus. Essa diversificação não
compromete nenhum empreendimento do Sudeste industrial
brasileiro pois os fornecedores principais e, praticamente,
exclusivos estão no Sudeste Asiático.

Transição e protagonismo
Como contrapartida, podemos ajudar o propósito meritório dos
ministros da Fazenda e Meio Ambiente a assegurar a liderança
global com a remoção efetiva dos combustíveis fósseis. Ou pelo
menos, substituir o diesel por placas solares, hidrogênio verde,
biomassa, itens que podem posicionar a nação como o
protagonista em questões ambientais que decretou o fim do
óleo diesel na floresta. A transição energética seria, então,
essencialmente ecológica pois estimularia práticas sustentáveis,
beneficiando tanto o meio ambiente quanto a economia a longo
prazo.

Energia limpa
O desenvolvimento e a implementação de tecnologias de energia
renovável exigem, porém, investimentos substanciais. O custo
inicial pode ser significativo para o governo e para as empresas
privadas mas os países poluidores já criaram ativos financeiros
para apoiar produtores/exportadores de energia limpa. E
certamente essa receita ocupa um lugar destacado, porém
discreto, das intenções do ministério da Fazenda e de sua
parceira, do Meio Ambiente.

Fiscalizar, flagrar e punir
O mesmo raciocínio pode ser aplicado à recuperação da BR-319.
Vejam bem. Não estamos falando de construção da BR-319, o
que implicaria em abrir novas picadas na floresta. Elas já estão
abertas. Recuperar essa rodovia significa poder fiscalizar, flagrar
e punir o crime de mais de 2 milhões de hectares que foram
removidos por depredadores que atuam livremente na região
sem que o Estado Brasileiro faça qualquer coisa para impedir.
Com estrada, radares, satélites e inteligência artificial o combate
ao desmatamento é possível, assim como o fomento ao
empreendedorismo sustentável.

Vontade política
E para se ter uma ideia, toda a Amazônia legal participa com
menos de 0,2% do mercado mundial de produtos tropicas como
cacau, pimenta do reino, castanhas, peixes, entre outros itens da
produção precária, ou seja, sem energia, transporte ou
comunicação adequadas. Portanto, a transição energética passa
pela transição gerencial, de infraestrutura e de vontade política
para proteger a Amazônia da melhor maneira possível:
atribuindo à floresta uma função econômica que seja inteligente,
sustentável e inadiável.

(*) Nelson é economista, empresário e presidente do Sindicato da
Indústria Metalúrgica, Metalomecânica e de Materiais Elétricos
de Manaus, conselheiro do CIEAM e vice-presidente da FIEAM