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Diferentes realidades de estudantes ficam mais evidentes na quarentena

 Em todo o país, milhares de crianças e
adolescentes estão com as aulas suspensas. Alguns, rapidamente tiveram a sala
de aula substituída por ambientes virtuais, outros, receberam orientações
desencontradas e ainda estão se ajustando à nova rotina. Há ainda quem não foi
orientado pela escola e teme não conseguir fazer exercícios online por conta da baixa
qualidade da internet em casa. 
 A Agência
Brasil
conversou com mães que contam como estão lidando com o
fechamento das escolas e com as medidas de isolamento social para evitar a
propagação do novo coronavírus (covid-19). 
 Apenas um dia foi o tempo necessário para que
a escola particular em Brasília onde estuda Maria Giulia, 11 anos, passasse a
oferecer aulas remotas aos estudantes. A instituição, que já utilizava
plataformas online
para desenvolver exercícios com os alunos transferiu todo o ensino para o
ambiente digital. “As aulas incluem quase todas as matérias, até teatro e
educação física, que ela vai ter hoje. Eles filmam o que fazem e enviam para o
professor. Eles conseguem ver os vídeos uns dos outros e se divertem”, diz a
mãe de Maria Giulia, a juíza federal Katia Balbino.
 Katia também está trabalhando em casa, em um
computador na frente do da filha. Dessa forma, consegue acompanhar mais de
perto o aprendizado dela. A mãe está orgulhosa da filha e satisfeita com a
escola. Ela conta que os professores têm falado com os alunos sobre a situação
do país e têm mostrado também empatia, dizendo que estão com saudades dos
estudantes. Tudo isso, sem deixar o rigor de lado, passando uma série de
atividades para serem desenvolvidas em casa. 
 A escola também incentiva a comunicação entre
os próprios estudantes. “Eles têm parceiros que revisam o trabalho um do outro.
Você faz o trabalho, entra em contato com um colega e manda o seu trabalho.
Isso gera interação entre eles”, diz Katia. 
 “Uma coisa que eu estou gostando é que a gente
continua se comunicando com professores e pode ver o rosto dos amigos [o que a
plataforma usada permite] sem ninguém se contagiar”, diz, Maria Giulia.
“Sabemos que pertencemos a um grupo de privilegiados, que essa não é a
realidade da população, mas sabemos também que têm muitas escolas que estão
preparadas e que estão dando conta dos alunos”, complementa Katia. 

 Quadro de tarefas

 Já a escola de Maria Luísa, 15 anos, e João
Rodrigo, 10 anos, também particular, em Brasília, não estava tão preparada para
uma transição tão rápida. “As diretrizes que foram passadas pela coordenação
acabaram se atropelando e sendo contraditórias em um primeiro momento. Uma hora
passaram atividades acadêmicas para fazer em casa, depois disseram ‘agora vamos
ter vídeo aulas’. A gente vê que, não só a escola dos meus filhos, mas várias
instituições não têm preparo para uma realidade como essa”, diz a advogada e
professora universitária Susana Spencer. 
 O Distrito Federal está com as aulas suspensas
desde o dia 12 de março. A primeira semana, segundo Susana, foi de adequação.
Em casa, ela diz que não exigiu muito dos filhos. “Deixei eles bem à vontade,
como se fossem férias”. Mas, desde o último final de semana, eles passaram a
ter uma rotina diária registrada em um quadro de tarefas, que além das
atividades escolares prevê também atividades domésticas. “Tenho colocado para
eles essa ideia da família, de atuar em prol do grupo. Não pode sobrar para
ninguém, se sobrar para mim, por exemplo, eu fico sobrecarregada e outras
pessoas não”, diz. 
 Segundo Susana, eles estão aprendendo juntos
com a convivência e conversando bastante sobre o momento que estão vivendo. Uma
das preocupações de João, no entanto, é perder o ano letivo. “Falo que é mais
importante se manter saudável do que propriamente o aprendizado. Se ele ficar
falho agora, em algum momento, vai ter reposição disso. Não quero trazer mais
preocupação diante desse cenário que por si só já é preocupante”. 

 Sem aulas a distância

 No Rio de Janeiro, Júlia, 8 anos, que estuda
no Colégio Pedro II, e Caio, 15 anos, que estuda no Colégio Estadual Amaro
Cavalcanti não estão tendo disciplinas
online
. O Colégio Pedro II, que é de administração federal, optou
por suspender as aulas e explicou, em nota, que decidiu não dar aulas a
distância porque não são todos os estudantes que possuem em seus lares acesso a
computadores e à internet e que não é possível garantir que o trabalho docente remoto
substituirá a necessidade de reposição das aulas, entre outros motivos.
 A própria Júlia está entre esses estudantes
que não possuem computador. Ela só tem acesso a celular dentro de casa e a rede
de internet é dividida com a vizinha. 
 Caio, em breve deverá começar a ter aulas online. A Secretaria de Estado
de Educação do Rio de Janeiro (Seeduc) anunciou que vai disponibilizar, já a
partir da próxima segunda-feira (30), aulas no formato, graças a convênio
firmado com o Google, na plataforma Google Classroom. 
 “Na minha opinião, acho que nada melhor que
aula presencial porque as crianças estão ali, interagindo com os outros alunos,
tirando dúvidas com o professor. Acho que aulas online não serão 100% não, mas
se for o caso de suspensão longa, é melhor ter essa aula, senão vai impactar
muito a vida escolar”, diz a diarista Alessandra Santos, mãe de ambos. 
 A maior preocupação de Alessandra é, no
entanto, alimentar a família. Com todos em casa, a fome também aumenta e o
consumo de alimentos. Ela, que recebe por dia trabalhado, está sem serviço por
conta do isolamento social. No mercado, ela já observa uma escalada de preço.
“A gente vai revezando, um dia frango, um dia ovo mexido, ovo com legumes, para
coisas durarem. Não sei o que vou fazer com todo mundo em casa e tendo todas as
refeições: café, almoço e jantar”, diz.
 No Brasil, há suspensão de aulas em todos os
estados. A medida não é exclusiva do país, no mundo, de acordo com os últimos
dados da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura
(Unesco), que monitora os impactos da pandemia na educação, 156 países
determinaram o fechamento de escolas e universidades, afetando 1,4 bilhão de
crianças e jovens, o que corresponde a 82,5% de todos os estudantes no mundo.
Foto:  Tomas
Silva