TCE

 Uma garrafa pet de dois litros, duas esponjas
multiuso de lavar louça, uma fita adesiva, um lápis (ou caneta), 15 folhas de
papel (A4 ou caderno) e lápis de cor (tinta guache ou caneta de colorir).
Acredite, é possível adaptar um equipamento de esgrima com esses apetrechos. 
 Medalhistas pan-americanos, Fernando Scavasin e Heitor Shimbo ensinaram a
improvisar um florete “caseiro” para aulas online
da modalidade que começaram a ministrar nesse período de isolamento social
devido à pandemia do novo coronavírus (covid-19).
 “Para o material, teríamos que levar em conta
quatro fatores: tamanho, durabilidade, ele não poderia machucar e precisaria
ser de um formato análogo à maneira como a gente segura [o florete] e toca [no
adversário]”, explica Fernando à Agência Brasil. “Não achamos nenhum modelo
pronto. Fizemos uma reunião, pensamos como poderia ser, e aí vieram as ideias”,
completa o esgrimista de 35 anos, 17 deles na seleção brasileira adulta.
 Realizar as aulas on-line foi a maneira que a
dupla encontrou para dar sequência às atividades do Instituto Touché, fundado por eles para difundir a esgrima no país.
O projeto envolve uma metodologia de ensino planejada por Fernando e Heitor
desde 2006 para ser aplicada em etapas até 2055 por meio de parcerias (duas
firmadas atualmente) com escolas públicas e particulares (a Base Nacional Comum
Curricular [BNCC] prevê aulas de lutas de longa distância, como a esgrima, na
grade do ensino fundamental). A primeira e atual etapa contempla o ensino a
crianças de 8 a 13 anos.
 “Com o coronavírus, foi necessário adaptar
essa metodologia para dentro de casa. Teríamos alguns problemas. Consideramos o
meu quarto, que tem uma largura de três metros, como referência. Precisaríamos,
então, que duas pessoas conseguissem jogar nessa distância. E tinha a questão
do material, que muita gente não teria em casa”, conta Fernando. 
 “Chegamos a um
modelo que funciona para a criança fazer a esgrima em casa com outra criança ou
com os pais. O florete com garrafa pet e esponja não machuca e tem um tamanho
que permite jogar nesse espaço de três metros por um metro, que pode ser, por
exemplo, o corredor de uma sala”, continua.
 As aulas têm sido aos sábados, a partir das
11h (de Brasília), pelo Instagram
do Instituto, e seguem pelo menos até o fim do isolamento pela
pandemia. Nas duas primeiras atividades, que ficarão disponíveis no canal de YouTube do projeto durante a
semana, foram ensinadas a montagem do florete e a base dos movimentos. “A
partir da terceira [próxima] aula, entra a nossa metodologia”, explica o
esgrimista, que representou o Brasil nos Jogos de 2016, no Rio de Janeiro.
 Se a paralisação geral em função do novo
coronavírus tornou o calendário uma incógnita, por outro, a dedicação extra ao
projeto equilibra a mente. “É o prazer de realizar esse sonho que temos, muito
acima de dinheiro, que é popularizar a esgrima e ter encontrado uma fórmula de
o trabalho andar”, reflete Fernando. 
 “Quando uma porta se fecha, outra se abre.
Estávamos em um ritmo legal, também formando professores, e agora surgiu a
opção [de aulas on-line].
Se levarmos a esgrima a mais pessoas, melhor para o esporte”, conclui.
Foto: Divulgação