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Comércio, serviços e transportes estão entre os setores mais atingidos

 A dívida total das empresas mais afetadas pela
pandemia de covid-19 no Brasil soma R$ 900 bilhões. Desse total, R$ 556 bilhões
são dívidas com o sistema financeiro nacional, informou hoje (29) o diretor de
Fiscalização do Banco Central (BC), Paulo Souza, em entrevista coletiva,
transmitida pela internet, para apresentar o Relatório de Estabilidade
Financeira.
 De acordo com Souza, os setores mais afetados
são comércio, serviços, transporte, indústria de transformação, eletricidade e
gás.
 No relatório, o Banco Central divulgou uma
simulação do impacto econômico gerado pela pandemia de covid-19. O BC
selecionou 1,6 milhão de empresas (1,5 milhão dos setores mais afetados e 100
mil fornecedores) e 9,9 milhões de empregados (7,5 milhões das empresas
afetadas diretamente e 2,4 milhões dos fornecedores). Na simulação, o BC
considera que essas empresas entrariam em default
(quando a empresa não consegue pagar os seus credores).
 O resultado da simulação, chamado de teste de
estresse, mostra que seria necessário aumento de R$ 395 bilhões em provisão
(reservas para casos de perdas) dos bancos, devido à quebra das empresas. Desse
total, R$ 207,3 bilhões seriam das empresas mais afetadas; R$ 48,1 bilhões dos
empregados diretos; R$ 96,5 bilhões da cadeia de fornecedores; R$ 23,1 dos
empregados dos fornecedores; R$ 8,9 bilhões referentes a reclassificação de
risco de empresas afetadas, mas que não entrariam em default; e R$ 11,1 bilhões de contágio
interfinanceiro.
 “Devido ao volume de provisões que seriam
necessárias, a capacidade de o sistema gerar novos créditos e sustentar o
crescimento da economia ficaria temporariamente comprometida”, diz o relatório.
 “Seria o impacto mais severo, dependendo da
duração da pandemia”, disse Paulo Souza. Ele acrescentou que, com esse impacto,
para o sistema financeiro voltar a se enquadrar no nível regulatório mínimo,
seriam necessários R$ 70 bilhões, o que corresponde a 7,2% do patrimônio de
referência (PR) do Sistema Financeiro Nacional. Segundo o relatório,
considerando a rentabilidade em períodos de crises anteriores, seriam
necessários três anos para o sistema recompor sua atual capacidade.
 “Para se ter uma ideia, no estudo realizado em
2015 sobre os setores envolvidos na Lava Jato esse impacto era de R$ 3,4
bilhões, representava 0,4% do PR. De qualquer forma, o sistema financeiro
mostra-se capaz de absorver esse impacto com os resultados que vão ser
auferidos futuramente”, disse o diretor do BC.
 Souza destacou que, na época da operação Lava
Jato, as empresas envolvidas eram acusadas de crimes relacionados à corrupção,
com risco de imagem. “Tanto o governo quanto o sistema financeiro não tinham
como prestar auxílio naquele período. No caso específico [da pandemia de
covid-19], os efeitos estão sendo causados por fatores que não estão
relacionados à gestão das empresas. É um caso sanitário, de saúde. E tanto o
sistema financeiro quanto o governo têm todo interesse em contribuir na
solução. Portanto, a gente espera que esse impacto sejaer muito inferior ao
cenário de estresse apresentado, mas temos que estar preparados”, afirmou.
Foto: Divulgação