TCE
 Antes de
qualquer coisa, esse não é um texto analítico feito pelo Leo Dias, que assina este
espaço. Eu sou Gabriel de Oliveira, e sou o repórter especialista do universo
da televisão nesta Coluna. Meu querido chefe me deu carta branca para usar esse
espaço para opinar e analisar o que eu bem entender. Se muitos lugares já
tinham um alvo com a minha cara por opinar em um perfil de Twitter, imagina
agora? É, acho que preciso de um guarda-costas.
 Na noite de
sábado (16) publiquei neste humilde
espaço que Silvio Santos havia decidido atacar novamente e ordenado que o
Primeiro Impacto,
aquele noticiário sangrento das manhãs, fosse reexibido
ao meio-dia a partir de segunda.
 A notícia,
como sempre, se espalhou feito pólvora dentro e fora do SBT. Nos corredores,
diretores não tão prestigiados chegaram a rir da notícia e a bater no peito
para desmentir a informação para colegas mais chegados da imprensa.
Internamente, alguns setores da emissora apressaram-se em apagar o incêndio,
afirmando que tudo não passava de um boato.
 Ontem, por
volta das 11h30, Silvio voltou a ligar para o canal e ordenou que sua ideia
fosse abortada, mantendo o Bom Dia & Cia no ar até 15h15. Como sempre, não
deu justificativas. Apenas a ordem, que logicamente foi aceita sem maiores
questionamentos.
 Tudo já
estava pronto para a reprise do Primeiro Impacto. O combalido jornalismo da
emissora se desdobrou e fez várias versões da reprise do Primeiro Impacto, com
diversos tempos de duração. Afinal, vai que o telefone toque outra vez? Melhor
prevenir do que remediar.
 Bastou que o noticiário não entrasse no ar na
segunda-feira para que os abutres de plantão me atacassem e fossem atrás do meu
chefe dizendo que tudo era um delírio da minha cabeça. Felizmente, o Leo sabe
como eu trabalho e tem total confiança em mim. Além disso, ele já trabalhou no
SBT e sabe muito bem como as coisas funcionam por lá.
 Xingamentos a parte, o telefone do terror
voltou a tocar no início da noite de ontem. Silvio, ocioso, determinou que o
Triturando voltasse para seu horário original e exigiu novamente que a reprise
do Primeiro Impacto fosse ao ar na hora do almoço a partir de terça-feira.
 Ontem, exatamente às 20h04, um grande amigo me
alertou das novidades. “Deixaram um programa na manga”, bradou.
Agradeci a informação, trocamos algumas risadas e disse que não iria publicar,
apesar de confiar cegamente em cada letra escrita por ele.
 Por que eu decidi não publicar? Simples, meu
caro leitor. Silvio Santos, desde sempre, ama descredibilizar os veículos de
imprensa. Se a notícia vazasse outra vez, ele ligaria de novo e engavetaria o
projeto por mais tempo. Mas se não vazasse… e não vazou.
 Justamente por não ter vazado, fomos
agraciados com a gloriosa reapresentação do banho de sangue que o dono do Baú
gosta de chamar de Primeiro Impacto. A audiência, como qualquer um com mais de
dois neurônios poderia prever, foi uma tragédia: o telejornal chegou a marcar
2,5 em uma faixa que o SBT batia até 8 pontos.
 Durante toda a segunda, eu escutei piadinhas
de que estava delirando e que Silvio Santos, o todo poderoso, nunca teria uma
ideia tão idiota. Bem, ele teve. A não ser, é claro, que você prefira viver no
mundo da fantasia e acredite que eu tenho algum poder de decisão na
programação.
 O dono do SBT, é bom dizer, tem muito mais que
dois neurônios. Eu costumo brincar com alguns amigos que ele está senil, mas a
verdade é que ele está bem melhor do que todos nós. Podem ter certeza: nem ele
próprio acredita que boa parte de suas mudanças vão dar certo.
 Silvio Santos, porém, gosta de mostrar quem
manda de tempos em tempos. Uma de suas maiores diversões, incontestavelmente,
são as três gravações semanais de seu tradicional programa de auditório. Elas,
porém, estão suspensas por tempo indeterminado em decorrência da pandemia do coronavírus.
 Caro leitor, pense comigo: o que mais um
senhor bilionário de 89 anos, preso em sua casa, poderia fazer em plena
quarentena? Ele foi privado de seus maiores prazeres, que são suas gravações e
assistir muambas latinas de origem duvidosa na TV dos Estados Unidos.
 Se ele fosse um pobre mortal, jogaria
videogame e faria lives na Twitch para se exibir para o mundo. Mas ele não é. O
seu videogame é o SBT, e a sua versão da Twitch é a própria emissora. Como bom
jogador, Silvio Santos ama expor suas vitórias e conquistas para o mundo. E,
como dono do jogo, cabe a ele dizer quais amiguinhos podem ou não fazer parte
da brincadeira.

 Os amiguinhos, nesse caso, são os
diretores dos mais diversos setores do SBT e do Grupo Silvio Santos. Basta um
telefonema para que qualquer atitude deles seja imediatamente desautorizada.
Sempre foi assim, e sempre será. E não adianta tentar o contrariar: quanto mais
tentarem o demover de suas ideias, mais ele terá certeza de que vai fazer para
mostrar quem manda ali.

Fonte: Portal UOL
Foto: Divulgação