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“Eu espero que ele fique preso para que eu possa viver”. O pedido é de Gabriela da Silva Malaquias, de 25 anos, agredida pelo ex-namorado de 35 anos, no último sábado (10) em uma boate na região da Pampulha, em Belo Horizonte. O homem está preso desde o último domingo (11), no Centro de Remanejamento do Sistema Prisional (Ceresp) Gamaleira. “Eu quero Justiça por mim, pela minha filha e pelos meus familiares. Eu tenho medo de ele pegar alguém para me atingir”, desabafa a vítima, que está fora de casa, escondida em outro endereço.

Gabriela e uma amiga foram à boate onde a confusão ocorreu a convite do ex-namorado dela. Eles teriam se desentendido durante a festa e, conforme a versão do agressor, registrada no boletim de ocorrência, a moça o teria agredido com uma garrafada. Essa agressão, segundo apresentado no documento, teria sido o motivo da discussão. No entanto, de acordo com Gabriela, a confusão começou depois que ele pegou o celular dela que estava com a sua amiga.

“Ele pegou o meu celular e eu fui atrás dele pedindo o aparelho”, conta a vítima. Segundo  a jovem, para ter acesso ao aparelho, o ex deu um soco no rosto da amiga. “Antes de bater em mim, ele bateu na minha amiga, tentando pegar o meu celular que estava com ela. Ela também levou um soco no rosto”, conta Gabriela.

Ainda de acordo com a jovem, durante a confusão, os seguranças da boate pediram para que eles deixassem o espaço. As agressões, no entanto, continuaram do lado de fora da casa. Gabriela foi atingida por um soco e desmaiou. “Eu perdi a consciência, só sei que ele e o amigo me levaram para uma mata e me agrediram, eu não lembro muito bem de como tudo isso ocorreu”, relata.

Após as agressões na mata, a jovem foi levada para a casa onde o rapaz vive. Ela ficou no imóvel por cerca de três horas, onde sofreu outras agressões. “Ele me jogou no box do banheiro da casa dele. Tinha muito sangue escorrendo na minha cabeça”, relembra Gabriela. Quando acordou, a jovem estava sozinha e sem roupa. “O meu vestido vermelho, que eu usava na boate, até hoje não foi encontrado”, conta.

A jovem foi socorrida para a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) Norte e, em seguida, encaminhada ao Hospital Risoleta Tolentino Neves. Na última segunda-feira (12), a ela foi submetida a exames no Instituto Médico Legal (IML). Um boletim de ocorrência foi registrado e o caso é investigado pela Polícia Civil de Minas Gerais.”Eu não tinha medida protetiva, agora eu tenho. Eu nunca permiti chegar ao nível que chegou”, revela Gabriela. Ela e o ex-namorado estiveram juntos pelo período de seis meses.

O relacionamento, segundo a jovem, era marcado por vários episódios de violência, principalmente em festas e quando ele fazia o consumo de bebidas alcóolicas. “A gente estava separado justamente por causa disso. Teve uma festa em um sítio, em que a gente estava junto, e ele me traiu. Eu decidi separar e ele começou a me agredir. Um policial que me tirou das mãos deles e me deixou na casa da minha mãe”, relata a jovem que decidiu mudar para São Paulo devido ao medo.

Desde a separação, o homem tentou se reaproximar da ex-companheira. Segundo ela, o ex enviou flores enquanto ela estava em um salão de beleza. “É uma pessoa que você senta, você não imagina que ele tenha capacidade de fazer o que ele fez. É um cara que eu acreditava no lado bom, mesmo diante desse histórico agressivo. Eu sei que ele sofreu com a separação e até disse que poderíamos ser amigos. Acho que esse foi o meu erro”, avalia.

Agressor foi preso oito vezes

O agressor foi preso pela polícia na casa de Gabriela. “Ele chegou a pular o muro e arrombar a porta”, conta a jovem. Ele foi localizado por causa do uso de uma tornozeleira eletrônica, que tornou-se obrigatória por causa de uma medida cautelar determinada pela Justiça no dia 28 de julho.

Segundo a Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública (Sejusp), o homem possui, contando com a atual, oito passagens pelo sistema prisional. A primeira, segundo a Secretaria, ocorreu em 2006. “Eu sei que não fui a primeira. Estou até em contato com uma ex dele que fugiu para Portugal. Ela não chegou a chamar a polícia por medo”, revela Gabriela.

A reportagem entrou em contato com a Polícia Civil e questionou sobre a investigação do caso. Até a publicação, não obteve a resposta. A matéria será atualizada com o posicionamento.

Veja a nota da Sejusp

Ele está preso no Centro de Remanejamento do Sistema Prisional (Ceresp) Gamaleira, em Belo Horizonte, desde o dia 11/12/2022. 

Antes da recente prisão, ele usava tornozeleira eletrônica por medida cautelar determinada pela Justiça no dia 28/07/2022.  Ele possui no total, contando com a atual, oito passagens pelos Sistema Prisional, sendo a primeira registrada em 2006. 

Ministério Público

Em nota, o Ministério Público de Minas gerais (MPMG) afirmou que segue acompanhando o caso e adotando as providências cabíveis.

Leia a nota

A respeito da prática do crime de feminicídio tentado, no bairro Nazaré, região nordeste de Belo Horizonte, no dia 10 de dezembro, fato amplamente divulgado nas mídias sociais, o Ministério Público de Minas Gerais (MPMG), por meio do Centro de Apoio Operacional das Promotorias de Justiça de Combate à Violência contra a Mulher (CAOVD), esclarece que o autor teve a prisão preventiva decretada, na audiência de custódia. Ele já havia sido definitivamente condenado pela prática de crime anterior e encontrava-se cumprindo pena. Sua situação prisional será revista por conta da prática de novo crime. 

 A vítima requereu medidas protetivas, que lhe foram deferidas, além de ter sido encaminhada para atendimento psicossocial. 

O MPMG segue acompanhando o caso e adotando as providências cabíveis em defesa de todas as meninas e mulheres em situação de violência doméstica e familiar. 

O feminicídio representa a última e mais cruel etapa da violência contra mulher. De janeiro a outubro de 2022, segundo dados apresentados pela Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública (Sejusp), Minas Gerais registrou 135 feminicídios consumados e 162 tentados, sendo que 13 dos consumados e 23 dos tentados ocorram em Belo Horizonte. 

De acordo com a coordenadora do CAOVD, promotora de Justiça Patrícia Habkouk, o feminicídio é um crime evitável, porque é sempre precedido de outras violências, e seu autor é pessoa da convivência da mulher. Por isso, toda a sociedade deve contribuir para evitá-lo. “O MPMG atua para que as mulheres recebam a proteção da Lei Maria da Penha e para que os autores sejam responsabilizados”, reforça.

Fonte: https://www.otempo.com.br/cidades/eu-quero-viver-diz-jovem-espancada-pelo-ex-namorado-em-boate-de-bh-1.2783161