TCE

Rio – A quadrilha alvo da operação Fim do Mundo, realizada pela Polícia Federal e pelo Ministério Público (MPRJ) nesta quinta-feira (26), movimentou aproximadamente R$ 100 milhões em três anos, na compra de imóveis de alto padrão, veículos e embarcações de luxo, como forma de lavar o dinheiro obtido com o fornecimento de drogas e armas para favelas do Rio de Janeiro e Belo Horizonte dominadas pelo Terceiro Comando Puro (TCP). Os agentes prenderam hoje, 12 integrantes da organização criminosa e bloquearam mais de 32 contas bancárias, restringindo cerca de R$ 22 milhões.

O esquema criminoso era dividido em três grupos, que atuavam no Rio de Janeiro e em Santa Catarina. O primeiro deles era liderado por Renato Castro Belchior, o Chaveirinho, e Rodrigo Castro Caetano, o Espeto, os “irmãos Castro”, que tinham relações estreitas com traficantes e negociavam a venda de cargas de 300 a 1,6 mil quilos de drogas, além de armas, inclusive fuzis. Eles viajavam para o Rio uma ou duas vezes ao mês.

Para lavar o dinheiro obtido na venda do material ilícito, os irmãos passaram a comprar imóveis de alto padrão em Balneário Camboriú, considerado o metro quadrado mais caro do país, e Camboriú, além de veículos de luxo e embarcações como lanchas e jet skis. As aquisições eram feitas em nome de terceiros e com a ajuda de um casal de corretores de imóveis catarinenses, envolvidos no esquema.

Segundo as investigações, a maioria dos laranjas sabia sobre os registros, porque recebiam vantagens. Eles estão entre os 30 denunciados da ação da Delegacia de Repressão a Entorpecentes (DRE) e do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco). Além deles, a mãe, esposas, ex-companheiras, irmãs e cunhados de Renato e Rodrigo também faziam parte da organização criminosa e movimentavam altos valores em suas contas bancárias.

Apesar da família levar um vida de luxo em Balneário Camboriú, a maior parte dela foi beneficiária do Auxílio Emergencial. O grupo também planejava a construção de um prédio com 12 unidades, financiada por Espeto e Chaveirinho, e registrado em nome de terceiros. A Polícia Federal solicitou o embargo do empreendimento. Os seis presos em Santa Catarina são um dos irmãos, uma irmã, um cunhado, um laranja e os corretores.

O segundo grupo, que era responsável por levar drogas para Rio e Belo Horizonte, também lavava o dinheiro adquirindo carros de luxo, como BMW, Porsche e Mercedes, e imóveis em condomínios de alto padrão em Angra dos Reis e Mangaratiba, na Costa Verde, e Recreio dos Bandeirantes, na Zona Oeste. Somente Edivaldo Freitas Portugal, o Edinho Portugal, apontado como um dos líderes da quadrilha, comprou uma casa de veraneio por R$ 2,5 milhões, além de veículos, que também eram registrados em nomes de laranjas.

Já o terceiro, movimentava o dinheiro ilícito por meio de empresas inexistentes ou com baixa atividade lucrativa. Uma delas, localizada em uma residência humilde de São Paulo, fez transações milionárias. Na operação, foram sequestrados 15 imóveis, sendo um deles em um condomínio de luxo em Balneário Camboriú, e uma casa de alto padrão em Mangaratiba, além de 19 automóveis, entre um BMW e uma picape, duas lanchas de 34 e 38,5 pés e um jet ski. Os agentes ainda apreenderam cerca de R$ 340 mil em espécie.

Entre as 12 prisões, 11 foram por meio do mandado de prisão preventiva e uma em flagrante por uso de documento falso. Ao todo, quatro pessoas foram presas no Rio de Janeiro, seis em Santa Catarina e duas em São Paulo. Os investigados vão responder por lavagem de dinheiro, associação criminosa e associação para o tráfico de drogas, organização criminosa e lavagem de capitais. As penas somadas podem chegar a 24 anos de prisão. As denúncias foram oferecidas junto à Vara Criminal Especializada em novembro de 2022.

Em balanço divulgado pela PF, as apreensões ultrapassam a casa dos R$ 3 milhões. Ao todo, além do jet ski, das lanchas e uma BMW citados, foram apreendidos outras duas BMW, uma Ford Ranger blindada, dois Toyota Corolla, um Jeep, um Volvo, uma Toyota Hilux, outro jet ski, uma pistola Glock calibre 380 e duas pistolas Taurus calibre 380. Também foram apreendidos, ao total, R$ 500 mil em espécie, além de relógios de luxo, joias, motos, celulares e documentos.